Ray Melo - de Rio Branco - Muita gente acha que os visitantes e familiares dos doentes são os principais responsáveis pelo vai e vem dos microrganismos pelos quartos e corredores dos hospitais e, consequentemente, pelas infecções. Quase ninguém sabe que os agentes infecciosos pegam carona em instrumentos cirúrgicos, manuseados pelos próprios servidores.
O que ninguém esperava saber é que no maior hospital de urgência e emergência de Rio Branco, o HUERB, esses instrumentos são transportados em cima de macas, dentro de ambulâncias, passando pelo refeitório, necrotério e até escombros de obras inacabadas.
O sindicato dos auxiliares e Técnicos de Enfermagem e Enfermeiros do Estado do Acre (SPAT) diz que há riscos de contaminação e agrava a queixa ao relatar sobrecarga de trabalho no setor de esterilização da Maternidade Barbara Heliodora . Gestão do Hospital afirmou que máquina autoclave está quebrada. Denúncia revela, ainda, que essa prática vem sendo comum no sistema de saúde do Acre.
Os atos de negligência vem fazendo o governador do Acre – o médico infectologista Sebastião Viana (PT) – mentir por tabela, já que nas visitas que ele faz rotineiramente ao hospital, essa prática certamente não lhe foi revelada. O que se noticia é sempre uma saúde de primeiro mundo.
Nos dias de visita do governador ao HUERB, no lugar de macas transportando instrumentos cirúrgicos, são colocadas flores pelos corredores. Atrás desse jogo de esconde, existe uma outra realidade bem diferente. Segundo a diretora administrativa do HUERB, Cecília Maria, a máquina de autoclave é tão velha que saiu de linha.
AS PROVAS
A denúncia foi feita por acompanhantes de pacientes, que diariamente ouvem nos corredores reclamações dos profissionais lotados naquela unidade de saúde que temem por suas vidas e a dos pacientes e parentes.
As imagens que a reportagem teve acesso com exclusividade não deixam dúvidas. Os instrumentos saem do Centro Cirúrgico e percorrem os corredores do hospital em cima das mesmas macas que carregam pacientes. Outro flagrante mostra que enquanto o material cirúrgico espera o transporte para a Maternidade Barbara Heliodora, fica exposto aos escombros da obra inacabada que há quase uma década, tenta ampliar e modernizar o HUERB.
Ao contrário do que foi informado, nenhum técnico acompanha o transporte dos instrumentos cirúrgicos. Procurado, o Sindicato dos Profissionais Auxiliares e Técnicos de Enfermagem e Enfermeiros do Estado do Acre (SPAT) colocou mais um agravante: a sobrecarga de serviços nos servidores do Centro de Materiais Esterilizados (CME) da Maternidade Barbara Heliodora.
“Com o envio dos materiais cirúrgicos do HUERB para maternidade aumentou a demanda, mas não foram remanejados mais servidores sobrecarregando os que já trabalham na Maternidade. Uma queixa foi formalizada essa semana ao sindicato”, disse a vice-presidente do SPAT, Alesta Amâncio.
O órgão disse que tinha conhecimento da prática que é uma rotina nos hospitais do Acre uma vez que sempre que uma máquina de autoclave quebra o estado prefere fazer essa metodologia de esterilização e evitar o cancelamento de cirurgias. Mas o SPAT não tem conhecimento sobre a forma como esse material está sendo transportado.
“O risco sempre existe, tanto para os profissionais como para os pacientes. Tivemos uma conversa com Irailton (secretário adjunto de saúde) e Monteiro (assessor especial do governo do Acre) essa semana e vamos exigir providências imediatas”, acrescentou Alesta.
UM VELHO PROBLEMA
No início desse ano, com base em várias denuncias sobre infecção hospitalar que chegaram ao seu gabinete, o vereador Juracy Nogueira (PP) requereu à Secretaria Municipal de Vigilância Sanitária uma fiscalização em todos os hospitais da rede pública e privada.
“Em resposta a secretária disse que não era de competência dela, mas da Vigilância Sanitária do Estado fazer essa fiscalização e daí, ninguém mais tomou nenhuma providência, fui voto vencido até na ideia de formar uma Comissão para apurar esse assunto que é grave e que vem tirando vidas”, disse Juracy.
O Hospital da Mulher e da Criança do Juruá foi alvo em 2013 de graves denuncias relacionadas ao CME, que de acordo com o médico Ricardo Guzela, estaria com a área utilizada para lavagem, secagem e desinfecção de artigos cirúrgicos e de assistência à saúde, contaminada. “Desde a inauguração da unidade não contamos com deonizador de água”, disse Guzela.
GERENCIA DA HUERB NÃO ENXERGA RISCOS
Enquanto denúncias estouram em todo sistema, o Estado continua escondendo os índices de infecção hospitalar. Nem a direção administrativa do Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco e nem a própria Secretaria de Estado de Saúde, tiveram interesse de manifestar o percentual.
Pelo contrário, com relação ao flagrante registrado dentro do HUERB, Cecilia Maria afirma que não existe nenhum risco de contaminação e que a tentativa de quem fez as imagens do material cirúrgico sendo transportado para a Maternidade Bárbara Heliodora “é de tentar denegrir a imagem da saúde pública”.
Depois, a gestora reconheceu que o equipamento que faz a esterilização está quebrando, é ultrapassado e apresentou cópias da licitação feita para a aquisição de dois esterilizadores avaliados em R$ 358 mil. O processo é assinado pelo departamento de Gestão de Contratos, por Kellien Mary de Souza Araújo.
ATRASOS NA ENTREGA DOS EQUIPAMENTOS
De fato, a ganhadora da licitação, Ortosintese Indústria e Comércio Ltda, vêm pedindo dilatação do prazo de entrega das máquinas desde o dia 30 de maio. Em outro documento, Cecília Maria pediu a analise do prazo solicitado pela parte para cumprir com o contrato. “Por gentileza se posicionar, e nos enviar a resposta para que encaminhemos a empresa”, pediu ao departamento de patrimônio.
Ainda de acordo Cecília, a empresa está pagando multa diária pelo atraso injustificável na entrega dos equipamentos. A última notificação feita a Ortosintese Indústria e Comércio Ltda é do dia 28 de julho.
Em resposta o departamento de Logística da empresa informou que a previsão para a entrega dos equipamentos é para o dia 28 de agosto próximo. No dia 05 de agosto, no longo relatório enviado à Secretaria de Estado de Saúde, a Ortosintese alega que um dos motivos para o atraso autoclave foi a Copa do Mundo.
“Tivemos vários eventos no período de produção de nossos equipamentos, tais como algumas paralizações em relação a atração futebolística realizada em território brasileiro”, diz o documento assinado por Fabiane Oliveira Salvador, supervisora de venda.
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