Marcelo Barros - A Petrobras paralisou as operações de duas plataformas de petróleo após a contaminação de trabalhadores pela covid-19. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), há 47 casos confirmados entre os tripulantes das unidades até o momento.
A chegada do coronavírus às plataformas reforça críticas de sindicatos à estratégia da estatal para reduzir os riscos de contaminação. Eles falam em possibilidade de uma “greve sanitária”, com paradas para forçar negociações com a empresa.
A reportagem apurou que na quinta (8) a companhia contabilizava 45 casos entre seus empregados, dos quais 3 tiveram que ser hospitalizados – uma morte em Manaus ainda está sendo investigada, para saber se foi de covid-19. O número não incluiria a tripulação das plataformas que tiveram as operações suspensas esta semana.
As duas unidades pertencem a companhias estrangeiras e estão alugadas à Petrobras. O FPSO Capixaba, da holandesa SBM Offshore, está no campo de Cachalote, no litoral sul do Espírito Santo. O FPSO Cidade de Santos, da japonesa Modec, produz nos campos de Tambaú e Uruguá, no litoral do Rio.
Na primeira, 53 trabalhadores foram desembarcados após apresentar sintomas, segundo a ANP. Destes, 34 tiveram testes positivos para covid-19, 32 estão em isolamento em hotéis em Vitória e 2 foram hospitalizados, segundo o Sindicato dos Petroleiros do Espírito Santo. A entidade estima que a tripulação tivesse cerca de 80 pessoas.
Não há ainda informações oficiais sobre os números de suspeitos e confirmados na segunda. Considerando que a ANP contabiliza 47 casos no total, seriam 13 os positivos na Cidade de Santos. Nesta sexta (10), também alegando sigilo médico, a agência informou que não abrirá o total de confirmações por instalação.
Plataformas de produção de petróleo são ambientes confinados, onde os trabalhadores dividem dormitórios, além dos espaços de trabalho e áreas comuns, como refeitório e academia. Em geral, as tripulações são compostas por pessoas de toda parte, tanto do Brasil como estrangeiros.
Segundo dados da ANP, o Brasil tem hoje 103 plataformas em operação, 91 delas operadas pela Petrobras. A prevenção à covid-19 nessas unidades é um desafio para a indústria, diante da diversidade de origem dos trabalhadores e das complexidades logísticas para o embarque.
– Desde o início do processo, colocamos preocupação especial aos trabalhadores e trabalhadoras que embarcam nas plataformas. Temos trabalhadores de diversas regiões do país e era fundamental fazer esse controle – disse o coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel.
– Lamentavelmente, a Petrobras negou a nossa participação em qualquer fórum que pudesse discutir o assunto. Hoje toma mais uma atitude covarde, que é simplesmente se omitir de responsabilização pela contaminação dos companheiros na plataforma da SBM. Ela é responsável sim e tem que assumir esse papel – cobrou.
Os sindicatos pedem a realização de testes rápidos nos trabalhadores antes do embarque nos helicópteros que levam os trabalhadores às plataformas, mas até o momento apenas a Modec confirmou que realiza os testes. Segundo a empresa, os contaminados na Cidade de Santos embarcaram antes do início do controle, na terça (7).
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A Petrobras tem aplicado testes apenas nos empregados que apresentam sintomas e informou que uma estratégia em relação ao diagnóstico laboratorial está sendo definida por médicos e especialistas da empresa. Na quarta (8), a empresa doou 300 mil kits de testes ao Ministério da Saúde.
Entre as medidas adotadas para reduzir o risco de contágio, a estatal reduziu o tamanho das tripulações, suspendeu manutenções e obras não essenciais e ampliou a duração do período embarcado, o que reduz a rotatividade de trabalhadores nas unidades.
No início da pandemia, a empresa instituiu um período de isolamento prévio de sete dias em hotéis antes dos embarques, mas a medida foi suspensa após reclamações dos trabalhadores pelo longo período de ausência – além dos 21 dias de embarque, teriam que cumprir os 7 dias em hotel.
Em março, a Petrobras desembarcou oito trabalhadores de outra plataforma por sintomas semelhantes aos da covid-19, mas os resultados dos testes não foram informados. A unidade, P-67, é uma das principais produtoras do país (em fevereiro produziu 108 mil barris por dia) e mantém suas operações.
As plataformas que tiveram as atividades paralisadas esta semana produziram em fevereiro cerca de 43 mil barris de petróleo por dia. Segundo as empresas, serão desinfetadas antes do reinício das atividades. A estatal, porém, vem hibernando plataformas de maior custo para reduzir sua produção em meio à baixa demanda por petróleo e combustíveis.
Desde o início da crise, já anunciou dois cortes de produção e estabeleceu um teto de 2,07 milhões de barris de petróleo por dia, em média, durante o mês de abril. O valor é 13,5% inferior à média atingida no quarto trimestre de 2019.
“A Petrobras está preparada para reduzir ou eventualmente interromper a produção em suas unidades offshore em caso de surto a bordo; e reporta aos órgãos reguladores e autoridades sanitárias sempre que necessário”, disse a empresa, em nota enviada à reportagem.
SBM e Modec não confirmaram a quantidade de infectados na plataforma Cidade de Santos. A companhia holandesa limitou-se a dizer, em nota, que foi um “número significativo” de tripulantes da Cidade Capixaba.
A SBM afirmou ainda que implantou um “programa de resposta global que monitora de perto as operações da companhia no mundo”, que inclui o monitoramento das tripulações em sua frota e o gerenciamento de situações especiais.
Na mesma linha, a Modec afirma que “tem implementado uma série de ações para reduzir a exposição das pessoas e manter a operação com segurança das suas embarcações, dentre elas, um rígido controle de acesso às plataformas em operação no Brasil”.
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