
Draghi estima que a União Europeia precisa investir 800 bilhões de euros por ano para evitar o declínio econômico e manter sua relevância global. O relatório argumenta que o continente enfrenta desafios existenciais, exigindo uma abordagem mais ousada para revitalizar a economia, aumentar a inovação tecnológica e reduzir sua dependência de cadeias de suprimentos externas. O grande dilema apresentado pelo estudo é a escolha entre agir rapidamente ou enfrentar um lento declínio.
O crescimento europeu tem sido inferior ao de outras grandes economias. No ano 2000, a zona do euro representava 20% da economia global, enquanto a China ocupava menos de 4%. Em 2023, a China já representava 17%, e a zona do euro encolheu para menos de 15%. Enquanto o PIB global cresceu 2,97% ao ano neste século, a Europa avançou apenas 1,27%, ficando atrás de economias como EUA (2,17%) e China (8,24%).
A recuperação pós-pandemia foi mais lenta na Europa do que em outras grandes economias. Em 2023, os EUA cresceram 20% em relação ao nível pré-pandemia, enquanto a China cresceu 9% e o Brasil 7%. Já os países da zona do euro cresceram apenas 3%, com economias como a Alemanha alternando trimestres de recessão e o Reino Unido entrando em crise após a pandemia.
Diante desse cenário, Draghi propõe um novo modelo econômico para a Europa, rompendo com a austeridade fiscal e incentivando grandes investimentos públicos e privados. Ele destaca três áreas prioritárias: inovação tecnológica, transição energética e segurança das cadeias de suprimentos. O plano de 800 bilhões de euros anuais corresponderia a 5% do PIB europeu, uma escala de investimento sem precedentes.
No entanto, a Alemanha se opõe a essa abordagem. O ex-ministro da Economia alemão, Christian Lindner, rejeitou as propostas do relatório, afirmando que o problema do país não é a falta de investimentos, mas sim excesso de burocracia e gastos públicos elevados. O posicionamento alemão é crucial, pois o país é a maior economia da União Europeia e tem um papel central na definição das políticas do bloco.
A crise política na Alemanha também influencia esse debate. A coalizão de governo de Olaf Scholz entrou em colapso, levando a eleições antecipadas. O partido conservador CDU, cujo candidato favorito Friedrich Merz é um crítico da ampliação da dívida pública, promete bloquear qualquer tentativa de expandir os gastos da União Europeia, dificultando a implementação do plano de Draghi.
Especialistas apontam que a falta de uma visão econômica comum entre os países do bloco é um grande obstáculo para o crescimento. Enquanto a Alemanha defende políticas mais ortodoxas, países como França e Itália favorecem um modelo keynesiano, baseado no estímulo à economia através de investimentos públicos. Essa divisão torna difícil um consenso sobre como lidar com os desafios globais impostos pela China, Rússia e um possível segundo governo de Donald Trump nos EUA.
Apesar dos desafios, alguns analistas argumentam que o declínio europeu é relativo e esperado, pois o crescimento de outras regiões do mundo era inevitável. A Europa ainda mantém um alto padrão de vida, com uma renda per capita média de US$ 37,4 mil, muito superior à da China (US$ 12,1 mil) ou Brasil (US$ 9 mil). No entanto, se não houver reformas, a influência global da Europa pode diminuir significativamente nas próximas décadas.
O relatório de Draghi representa um alerta para os líderes europeus, destacando que a União Europeia precisa se adaptar para continuar sendo uma potência econômica. A resposta a esse desafio dependerá das decisões que serão tomadas nos próximos anos, especialmente no que diz respeito a investimentos estratégicos e à busca por maior autonomia econômica e tecnológica.
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