6 de jul. de 2010

A ESPERTEZA DA MORTE

Numa pequena cidade da Índia vivia um famoso ancião que por décadas estudou e praticou as mais diversas meditações espirituais. Tanto esforço foi recompensado com uma saúde de ferro e com poderes sobrenaturais.

Muitos o chamavam de mestre; ele tinha discípulos, dava conselhos, fazia curas através de mantras e dizia a todos que quando chegasse a sua hora de partir para o outro mundo, ele enganaria a morte.


Ao completar cem anos, o ancião intuiu que Yama, o deus da morte, estava convocando um emissário para levá-lo do mundo terreno. Rapidamente, e usando todos os seus poderes, o velho conseguiu criar doze cópias perfeitas de si mesmo.

Quando o emissário de Yama entrou na sala do ancião, ficou completamente confuso. Na sua frente estavam treze velhos idênticos! Qual seria o verdadeiro? O emissário olhou atentamente para eles, mas não havia nada que os diferenciasse, portanto, a missão de levá-lo havia falhado.

Quando chegou à casa de Yama de mãos abanando, o deus da morte lhe perguntou:

- Cadê a encomenda que mandei buscar?

O emissário, com ar desolado, contou o que havia ocorrido. Yama, em vez de ficar bravo, deu uma gargalhada tão forte que chacoalhou Kailas, a montanha onde Shiva reside.


- Não está bravo comigo? - perguntou o emissário.

- Não. Estou é surpreso com a esperteza daquele velho. Venha cá, emissário, aproxime-se. Quero lhe dizer ao pé do ouvido o que você deve fazer com aquele ancião. Ninguém é mais esperto do que a morte! - sentenciou Yama.

O emissário se aproximou, sentiu um ar gelado percorrer sua espinha e ouviu o sussurro da morte. Quando Yama terminou de falar, o emissário estava com um sorriso estampado no rosto.


- Já volto com a sua encomenda! - gritou o emissário, preparando-se para descer à terra novamente.

Em sua cidadezinha, o ancião novamente pressentiu a chegada da morte, e como não se havia passado muito tempo desde a última visita, lá estavam suas doze cópias perfiladas uma ao lado da outra. Ele se encaixou entre elas e aguardou...

Dali a pouco, lá estava o emissário pela segunda vez na frente de treze velhos idênticos. Ele passou os olhos em todas as cópias e disse:

- muito bem, o senhor é inteligente mesmo! Só um grande homem, com uma sabedoria ímpar e um espírito especial, poderia realizar tal façanha. Porém – disse o emissário em tom grave –, vejo um grande defeito no seu trabalho!

- Qual?!!! - gritou o verdadeiro ancião.

O emissário riu e respondeu:

- A vaidade, sempre a vaidade. Yama tinha razão.

Depois de algum tempo, Yama recebeu sua encomenda.



(As 14 Pérolas da Índia – Ilan Brenman)

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