Maioria desses jovens sobrevive às duras penas com uma média de R$ 800,00, enviados todos os meses por famílias brasileiras que trabalham muitas vezes os três turnos para realizar o sonho de ver o filho se formar no curso de medicina.
Wânia Pinheiro, da Agência ContilNet
“Aqui, o que para os nativos custa US$ 10, para nós custa US$ 20 e para os americanos custa US$ 30”, diz o estudante Igor Henrique |
Alegando humilhação e e maus-tratos por parte de policiais e outras autoridades bolivianas, dezenas de estudantes brasileiros que moram na cidade de Cochabamba, na Bolívia, realizaram protesto em frente ao Consulado do Brasil, no dia 13 de outubro, onde exibiram faixas e cartazes com pedidos de socorro à presidente Dilma Rousseff.
Os estudantes reclamam de maus-tratos dispensados, principalmente por policiais bolivianos, aos brasileiros que moram na Bolívia.
De acordo com Igor Henrique, que cursa medicina em Cochabamba, o acordo firmado sobre Residência para Nacionais dos Estados Partes do Mercado Comum do Sul (Mercosul), assinado em Brasília nos dias 5 e 6 dezembro de 2002 por representantes da Bolívia e do Chile, durante a XXIII Reunião do Conselho do Mercado Comum, não vem sendo respeitado pelas autoridades daquele país.
Os estudantes brasileiros protestaram em frente ao Consulado do Brasil e pediram 'socorro' à presidente Dilma Rousseff
Eles produziram um vídeo, onde mostram estudantes sendo presos e levados em caminhonetes por policiais daquele país. Igor diz que a situação dos estudantes ficou ainda mais complicada, quando a cerca de um mês um cambista boliviano foi assaltado e dois brasileiros foram apontados como suspeitos. “Depois disse, que a polícia passou a perseguir e a tratar os brasileiros como se fossem bandidos”, conta.
Ele relata que muitos estudantes tiveram seus apartamentos e casas arrombados sem mandado judicial e que os policiais se aproveitaram do fato para ganhar dinheiro.
“Usaram esse fato ocorrido como pretexto para ganhar dinheiro, levaram as pessoas presas dizendo que estamos ilegais no país. Porém, há um acordo do Mercosul que fala que nós não podemos ser presos por ilegalidade, que isso não existe mais, pois o termo ilegalidade já não se aplica quando se há convênio”, explica.
Parte do documento assinado entre os três países
O estudante procurou um programa de televisão, e junto com mais três brasileiros denunciaram o preconceito e a perseguição que vêm sofrendo no país vizinho.
Igor denuncia que os apartamentos são invadidos, quando os brasileiros estão de férias no Brasil e quando eles retornam, vários objetos têm desaparecido. Os casos de extorsão também são relatados por Igor Henrique.
“Aqui, o que para os nativos custa US$ 10, para nós custa US$ 20 e para os americanos custa US$ 30”, afirma.
“Acordo assinado pela Bolívia não é respeitado”
No documento assinado em dezembro de 2002, as autoridades do Brasil, Bolívia e Chile reafirmam o desejo de fortalecer e aprofundar o processo de integração entre os povos dos três países.
Para elas, a implementação de uma política de livre circulação de pessoas na região seria essencial para a consecução desses objetivos.
“Garantir ainda solucionar a situação migratória dos nacionais dos estados e países associados, a fim de fortalecer os laços que unem a comunidade regional, e ainda da importância de combater o tráfico de pessoas para fins exploração de mão-de-obra e situações que impliquem degradação da dignidade humana”, diz o documento .
Segundo os estudantes brasileiros, nenhum dos pontos do acordo são respeitados. Os cerca de 20 mil estudantes brasileiros, que gastam todos os anos uma média de 80 milhões de reais na Bolívia, reclamam dos momentos que são tratados com desprezo e falta de respeito por parte de autoridades da Bolívia.
A foto mostra estudantes brasileiros presos por policiais bolivianos embarcando em uma caminhonete
Dura realidade
A realidade dos estudantes que moram na Bolívia não é aquela que pregam alguns veículos de comunicação, que mostram jovens gastando o dinheiro enviado por suas famílias com sexo, drogas e baladas.
Os pais de brasileiros que moram na Bolívia relatam que a vida da maioria dos jovens é muito dura. Muitos alunos, após estudar dia e noite sobre os livros de medicina, acordam cedo para pegar ônibus.
Outros, andam quilômetros para chegar à escola. Boa parte deles deixa de se alimentar bem para pagar a mensalidade escolar e o aluguel de pequenos quartos na periferia das cidades bolivianas.
Maioria desses jovens sobrevive às duras penas com uma média de R$ 800,00, enviados todos os meses por famílias brasileiras que trabalham muitas vezes os três turnos para realizar o sonho de ver o filho se formar no curso de medicina.
Não são poucos os estudantes acreanos que estudam no país vizinho que sobrevivem de ‘cotas’ realizadas entre seus familiares, onde um irmão colabora com R$ 200, o tio coopera com mais R$ 200, a avó com R$ 100, até chegar uma média de R$ 800.
Mesmo para os estudantes que todos os meses recebem uma boa quantia de R$ 2 mil todos os meses para pagar as despesas como aluguel, escola e alimentação, a vida na Bolívia não é tão fácil. Eles também recebem o mesmo tratamento que seus compatriotas de menor poder aquisitivo.
Os brasileiros pedem respeito das autoridades bolivianas
Alguns políticos do Acre já estiveram na Bolívia tentando resolver os problemas enfrentados pelos estudantes brasileiros. O ex-deputado Edvaldo Magalhães foi um dos primeiros a viajar àquele país, juntamente com um grupo de parlamentares e jornalistas acreanos, em 2009, realizando diversos encontros com autoridades bolivianas e nas universidades com a Ucebol e Udebol, onde estudam milhares de brasileiros.
Os deputados Gladson Cameli, Perpétua Almeida e Marcio Bittar, além de outras autoridades brasileiras, também se manifestaram e cobraram providências do governo federal com relação ao desrespeito dispensado aos estudantes por parte das autoridades bolivianas. Mas não obtiveram sucesso.
A cada dia a situação fica ainda mais complicada. As denúncias de maus-tratos, principalmente aos estudantes do Brasil, são constantes. No entanto, até agora o Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty), principal órgão que deveria exercer as tarefas clássicas da diplomacia como representar, informar e negociar em nome da República Brasileira, continue fazendo ouvido de mercador aos clamores que ecoam do sofrimento de milhares de pessoas, principalmente de jovens que vêm sendo prejudicados de várias formas por autoridades e parte da população boliviana.
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