Dentro de garrafas, opositores expulsos do país incluíram versões diferentes das apresentadas pelas propagandas de Pyongyang - além de músicas, filmes e programas de televisão proibidos.
Por France Presse
Desertores da Coreia do Norte jogam garrafas ao mar com pen-drives contra o regime (Foto: Ed Jones/AFP )
Vários desertores norte-coreanos lançaram garrafas ao mar, nesta terça-feira (1º), contendo "pen-drives", na esperança de que cheguem ao Norte e sirvam para contrabalançar a propaganda do regime de Pyongyang.
Após anos de tensões sobre o programa nuclear norte-coreano, a península vive desde janeiro um processo de distensão excepcional, ilustrada, na sexta-feira passada (27), pela histórica cúpula entre o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un.
Entre outras medidas, ambos se comprometeram a "cessar por completo todos os atos hostis" a partir de 1º de maio na chamada Zona Desmilitarizada (DMZ), na fronteira entre o Norte e o Sul, incluindo a emissão de propaganda com alto-falantes, ou lançando panfletos pelo ar.
Kim Jong-un convidou Moon Jae-in a cruzar a fronteira para a Coreia do Norte com ele (Foto: Korea Summit Press Pool/AFP)
Alguns norte-coreanos que fugiram para o Sul não veem dessa forma. É o caso do ex-prisioneiro político Jung Gwang-il e de outros militantes, que lançaram, nesta terça, dezenas de garrafas ao mar de uma ilha sul-coreana, com a expectativa de que cheguem ao Norte.
Segundo Jung, a Coreia do Sul se dobrou ao Norte, ao aceitar, na semana passada, silenciar os alto-falantes gigantes que até agora difundiam mensagens de propaganda destinadas aos soldados norte-coreanos na fronteira.
"O que Kim Jong-un mais teme? Que os norte-coreanos se deem conta da realidade", afirmou, referindo-se ao líder norte-coreano.
As garrafas estão cheias de comida, dinheiro, remédios e "pen-drives". Segundo Jung-oh, outro norte-coreano que fugiu de sua terra natal, as garrafas levam de quatro a cinco horas para chegar à costa vizinha.
Garrafas contém dinheiro, arroz e pen-drives (Foto: Ed Jones/AFP )
"Todos vivemos durante pelo menos 30, ou 40 anos na Coreia do Norte e sabemos exatamente do que as pessoas gostam e precisam lá", garante Park.
"Quando virem o conteúdo dos nossos 'pen-drives', vão-se dar conta de que seu governo os enganou", completou.
Os "pen-drives" contêm filmes, programas de televisão, ou clipes de música pop sul-coreana.
"Ensinam o que significa liberdade", explica Jung.
Um estudo de 2015 assegurava que 81% dos norte-coreanos que fugiram do país viram filmes estrangeiros desse tipo, armazenados em "pen-drives" procedentes da Coreia do Sul.
'Meio pacífico'
Thae Yong Ho, o ex-número dois da embaixada norte-coreana em Londres, um dos diplomatas da Coreia do Norte de mais alto escalão a desertar nos últimos anos, descreveu esses "pen drives" como uma tática eficaz para divulgar informação ao Norte, apesar das tentativas do regime de interceptá-la.
Enquanto as garrafas caíam ao mar, as autoridades militares sul-coreanas começavam a retirar os alto-falantes instalados na DMZ, no âmbito da aplicação da Declaração Intercoreana de Panmunjom, firmada na sexta-feira (27). A Coreia do Norte seguia o mesmo procedimento, segundo o Ministério sul-coreano da Defesa.
Para a ativista americana Susan Scholte, abandonar a propaganda na fronteira é "um erro enorme".
"Teríamos que mandar mais informação para o outro lado", disse ela à AFP, acrescentando que "qualquer informação que chega à Coreia do Norte é um meio pacífico, não violento, para promover uma mudança".
Apesar do acordo entre as duas Coreias, Jung assegura que não abandonará a luta.
"Um 'pen drive' pode favorecer a mudança para centenas de pessoas", insistiu.
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