6 de mai. de 2019

Uma orientação para o diagnóstico dos acidentes ofídicos no acre


Paulo Sérgio Bernarde


http://www.herpetofauna.com.br - Essa página foi elaborada com o objetivo de apresentar informações resumidas sobre as cobras venenosas do Acre e os tipos de envenenamentos que podem ocorrer no estado. Baseou-se exclusivamente na situação epidemiológica e nomes populares regionais, procurando facilitar o diagnóstico e tratamento a ser realizado pelo profissional da Saúde.

 SERPENTES PEÇONHENTAS DO ACRE

Aproximadamente 90 espécies de serpentes são conhecidas para o estado do Acre, destas 13 são peçonhentas podendo causar envenenamentos em seres humanos e animais domésticos.

Podemos dividir essas 13 espécies de cobras venenosas em três grupos de acordo com o tipo de envenenamento: Botrópico (Surucucu, Jararaca, Papagaia), Laquético (Pico-de-jaca ou Surucucu-pico-de-jaca) e Elapídico (Coral-verdadeira).

Antes de apresentarmos sobre cada particularidade de envenenamento, o profissional de Saúde precisa ter em mente o seguinte:

1) Leve em consideração os sintomas apresentados na vítima para escolha do tipo de soro (ou de nenhum!) e da quantidade de ampolas de acordo com a gravidade do acidente. Não considere primariamente o relato do paciente!

2) No Acre a cobra Bothrops atrox, responsável pela grande maioria dos casos de envenenamento (Botrópico), é conhecida popularmente principalmente como Surucucu (E também de Jararaca). O nome popular "Surucucu" praticamente não é utilizado no Acre (E provavelmente em toda Amazônia!) para designar a espécie Lachesis muta (Envenenamento Laquético). Veja a figura abaixo:


3) No Acre não ocorre a Cascavel (Crotalus durissus), portanto,  no estado não ocorrem acidentes crotálicos! Veja figura abaixo:


4) Alguns profissionais da Saúde estão considerando o relato do paciente sobre qual cobra causou o envenenamento para diagnosticar e indicar a soroterapia o que está resultando em diagnósticos errados e tratamentos inadequados devido a essas diferenças dos nomes populares regionais com aqueles apresentados em guias de vigilância epidemiológica e manuais de Saúde. Por exemplo consulte o SINAN para ver a quantidade de acidentes crotálicos registrados no Acre sendo que no estado não ocorre a Cascavel (Crotalus durissus) ou a quantidade superestimada de acidentes laquéticos (Que na verdade foram botrópicos!). Leia o artigo de Bernarde & Gomes (2012) para compreender essa situação.

5) ATENÇÃO: Os nomes populares das cobras peçonhentas (Ex. Surucucu, Jararaca, Papagaia, etc) também podem ser utilizados para designar cobras não peçonhentas. Por isso, considere os sintomas apresentados pelo paciente e não o que ele relata!.

ACIDENTES OFÍDICOS NO ACRE

I - ACIDENTE BOTRÓPICO (Responsável por cerca de 90% dos casos):

Gênero Bothrops.

Nomes populares: Surucucu, Jararaca, Papagaia, Jararaquinha-do-rabo-branco (juvenis), Surucucu-do-barranco e Boca-podre.
                           Surucucu ou Jararaca (Bothrops atrox)

Jararaquinha-do-rabo-branco (Bothrops atrox)

Papagaia (Bothrops bilineatus)

Ação do veneno botrópico: proteolítica, coagulante e hemorrágica.

Sintomas na vítima: dor, sangramento no local da picada, edema (inchaço) no local da picada e pode evoluir por todo membro, hemorragias (gengivorragia, hematúria, sangramento em ferimentos recentes), equimose, abscesso, formação de bolhas e necrose. A hipotensão e o choque periférico são observados em acidentes graves e são devidos à liberação de mediadores vasoativos. Ocorre aumento do tempo de coagulação sanguínea. A vítima pode falecer devido à insuficiência renal aguda. A vítima também poderá ter infecção secundária por bactérias que são encontradas na flora bucal da serpente. Esses sintomas podem variar e nem todos estarem presentes devido a particularidades da vítima, quantidade de veneno inoculada, espécie causadores, dentre outros fatores.

Tratamento: Soro antibotrópico e/ou antibotropicolaquetico (Na dúvida do gênero causador!).

II - ACIDENTE LAQUÉTICO (Responsável por cerca de 3% dos casos):

Gênero Lachesis.

Nomes populares: Pico-de-jaca, Surucucu-pico-de-jaca. Pode ser chamado equivocadamente de Cascavel por alguns moradores da floresta. Lembre-se que o nome "Surucucu" no Acre se refere à Jararaca Bothrops atrox.

Pico-de-jaca ou Surucucu-pico-de-jaca (Lachesis muta)

Ação do veneno laquético: proteolítica, hemorrágica, coagulante e neurotóxica.

Sintomas na vítima: semelhante ao acidente botrópico com dor, edema e equimose (que pode progredir para todo membro acometido), formação de bolhas, gengivorragia e hematúria. Difere do acidente botrópico devido ao quadro neurotóxico: bradicardia, hipotensão arterial, sudorese, vômitos, náuseas, cólicas abdominais e distúrbios digestivos (diarreia). A vítima poderá falecer por insuficiência renal aguda. A diferenciação do envenenamento laquético do botrópico é relativamente mais difícil devido à semelhança entre os sintomas, caso a serpente causadora não tenha sido capturada e levada até o hospital. Entretanto, os sintomas relacionados com a ativação do sistema nervoso autônomo parassimpático (exclusivos do acidente laquético) seriam evidentes e precoces para diagnosticar e realizar o tratamento específico.

Tratamento: Soro antibotropicolaquetico.

III - ACIDENTE ELAPÍDICO (Responsável por menos de 1% dos casos):

Gênero Micrurus.
Nomes populares: Coral, Coral-verdadeira e Coral-venenosa.

                Coral-verdadeira (Micrurus lemniscatus)

       Coral-verdadeira (Micrurus remotus)

                 Coral-verdadeira (Micrurus surinamensis)   
                          
   Coral-verdadeira (Micrurus hemprichii)

Ação do veneno elapídico: neurotóxica.
Sintomas na vítima: dor local, parestesia, ptose palpebral, diplopia, sialorreia (abundância de salivação), dificuldade de deglutição e mastigação, dispneia. Casos graves podem evoluir para insuficiência respiratória.

Tratamento: Soro antielapídico.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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