Após anos de planejamento, as obras de infraestrutura do empreendimento Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) tiveram início nesta segunda-feira (24) em Iperó, na região de Sorocaba, interior de São Paulo, em cerimônia contou com a presença da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos.
Acompanhada do presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Francisco Rondinelli Junior, da coordenadora de Gestão do RMB, Gabriela Borsatto, dos coordenadores técnicos do projeto, José Augusto Perrotta e Patricia Pagetti, além de autoridades do setor nuclear, a ministra destacou a relevância estratégica do empreendimento para o Brasil.
Segundo ela, o RMB vai garantir infraestrutura essencial para o desenvolvimento do setor nuclear, com aplicações que vão desde o uso social e tecnológico da energia nuclear até a pesquisa e inovação em diversas áreas.
“É uma alegria estar aqui, celebrando o início das obras de infraestrutura do nosso Reator Multipropósito Brasileiro, um projeto estratégico para o Brasil que agora começa a se tornar realidade. Teremos um dos mais importantes centros brasileiros de pesquisa para aplicações da tecnologia nuclear em benefício da sociedade, e isso é motivo de orgulho para todos nós”, afirmou a ministra.
O presidente da CNEN, Francisco Rondinelli Junior, também ressaltou a importância histórica desse momento para o setor nuclear. “O Reator Multipropósito Brasileiro vai transformar a medicina nuclear no Brasil e no mundo, dada sua capacidade de produção e desenvolvimento, beneficiando diretamente a sociedade”, destacou.
Marco para o Brasil
O RMB representa um marco para o desenvolvimento da ciência e tecnologia nuclear no país, ampliando a capacidade de pesquisa e inovação e fortalecendo a infraestrutura nacional do setor. Suas aplicações abrangem diversas áreas, com impacto significativo na saúde, indústria, agricultura e meio ambiente.
Na saúde, especialmente na medicina nuclear, o RMB garantirá a autossuficiência do país na produção do radioisótopo Molibdênio-99, essencial para a obtenção do Tecnécio-99m, utilizado em diagnósticos médicos. Isso assegura um fornecimento estável e seguro para atender plenamente a demanda da população brasileira. Além disso, possibilitará a nacionalização de outros radioisótopos usados em diagnósticos e terapias.
Na área de reatores e ciclo do combustível nuclear, o RMB será uma infraestrutura essencial para o desenvolvimento de combustíveis nucleares e materiais utilizados em reatores, permitindo a qualificação de combustíveis para propulsão nuclear, reatores das centrais nucleares brasileiras e novas tecnologias, como os pequenos reatores modulares (SMR).
No campo da pesquisa científica e inovação, o RMB expandirá a capacidade nacional ao viabilizar o uso de feixes de nêutrons para diversas aplicações, como análises avançadas por ativação com nêutrons, desenvolvimento de novos materiais e estudos em nanotecnologia e biologia estrutural. Com isso, tornar-se-á um laboratório de referência na América Latina.
Investimentos e impacto no PAC
Pela primeira vez, projetos na área de ciência e tecnologia foram incluídos no Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC), o que reforça a importância estratégica do RMB. A previsão é que o MCTI invista R$ 926 milhões no projeto até 2026, com recursos provenientes do Fundo Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).
“O RMB é um marco de sustentabilidade e ampliação do conhecimento e aplicações da tecnologia nuclear a serviço da vida. É a ciência contribuindo para o nosso desenvolvimento e para melhorar a vida de nossa gente”, acrescentou Luciana Santos.
ambém presente na cerimônia, Leonardo Folin, prefeito da cidade de Iperó, destacou os benefícios que o empreendimento RMB proporcionará à economia local, com a geração de empregos em áreas estratégicas, e a atração de novos investimentos.
“Nossos nêutrons falam português”
A ministra também inaugurou o Centro de Informações “Espaço Afonso Rodrigues de Aquino” e realizou o plantio de uma muda de árvore nativa na Praça das Bandeiras, em ação integrada ao Plano de Gestão Ambiental do RMB. Além disso, foram apresentadas as diretrizes do Plano Diretor do Empreendimento e detalhes sobre a construção de uma ponte que integrará a infraestrutura local.
O RMB é um projeto do MCTI coordenado pela CNEN, com recursos do FNDCT e da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Conta ainda com colaboração de instituições nacionais e internacionais, como a Fundação PATRIA, AMAZUL, INVAP (Argentina), Intertechne (Brasil), WALM, TRACTEBEL e, mais recentemente, a SCHUNCK (Brasil).
Seu desenvolvimento foi liderado pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), unidade da CNEN em São Paulo, sob coordenação de José Augusto Perrotta, que ressaltou ainda a importância do fato de a tecnologia nuclear no país ser notadamente brasileira. “Nossos nêutrons falam português”, brincou.
O projeto também contou com o apoio das demais unidades da CNEN, incluindo o Instituto de Engenharia Nuclear (IEN) e o Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD), no Rio de Janeiro; o Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), em Belo Horizonte; e o Centro Regional de Ciências Nucleares do Nordeste (CRCN-NE), em Recife.
“Essa cerimônia é algo que nós, da CNEN e da comunidade nuclear, esperávamos há muito tempo. Estamos vivenciando um momento histórico para o setor nuclear brasileiro”, afirmou Francisco Rondinelli Junior.
Com a implantação do RMB, o Brasil avança significativamente na construção de uma infraestrutura nuclear de ponta, consolidando sua autonomia, segurança e desenvolvimento tecnológico para o futuro.
Fonte: Comissão Nacional de Energia Nuclear