14 de nov. de 2011

DEMOCRACIA VERSUS BADERNA

Por Kátia Abreu

A minoria ativista confunde liberdade com bagunça, e tenta se impor no grito, por meio da intimidação

A ainda jovem cultura democrática brasileira enseja equívocos conceituais que frequentemente a ameaçam e a desmoralizam. Não é de estranhar, dada a origem autoritária de nossa República, que emergiu de um golpe de Estado, e a escassa cultura não só de nosso povo, mas também de parte de nossa elite.

O preâmbulo vem a propósito dos acontecimentos que envolvem a discussão, no Senado, do Código Florestal. Além de não se dar ao trabalho de ler a proposta -e lhe imputar acusações absurdas-, a minoria militante que a ela se opõe se arvora em falar em nome do povo, que não lhe deu tal delegação.

Dentro desse equívoco, tratam os que de fato detêm delegação popular -os parlamentares- como intrusos e querem impor sua vontade no grito, quando não na violência.

Assim é que, nesta semana, no curso das discussões, na Comissão do Meio Ambiente, essa minoria ativista, representada por 12 (!) estudantes da Universidade de Brasília, provavelmente ressentidos ainda da acachapante derrota no DCE, invadiu o Congresso e quis impor no grito o seu ponto de vista.

Os senadores foram ofendidos e abordados com violência. Fui pessoalmente ameaçada e insultada, tendo de sair sob escolta policial. Sabemos que o Congresso é a Casa do Povo, que a ela tem acesso para se manifestar, desde que pela ordem e com respeito, como manda a lei. Não foi o que ocorreu.

O pior é que não se tratou de um episódio isolado; ao contrário, vem se tornando recorrente, quase banal em nosso país. Assistimos, já há alguns dias, manifestação semelhante de truculência e vandalismo, na Universidade de São Paulo, onde uma minoria tenta se impor no grito, por meio de intimidação.

Protestavam contra a presença da polícia, que reprimia o tráfico de drogas no campus.

E aí começa a confusão conceitual. Confunde-se liberdade com bagunça, vale-tudo. Democracia é o regime da maioria, com o reconhecimento às minorias, mas não só: é o regime da lei, sem a qual nem as maiorias nem as minorias estão seguras de nada.

Sem o estrito cumprimento da lei, a democracia não sobrevive. Torna-se rito de passagem, presa fácil dos aventureiros que dela se servem para aniquilá-la. O truque é antigo, previsto já por Lênin: usar as facilidades que a democracia oferece como meio de chegar ao poder, para então bani-la. É o que assistimos.

A questão ambiental, há anos, foi encampada por esses grupos, e não porque de fato os interesse. É apenas mais um meio de desestabilizar o país, enfraquecendo uma de suas maiores fontes de receita, o agronegócio, responsável pelos superavit na balança comercial do país e por um terço dos empregos.

Nem sequer conhecem o tema que abordam. Basta ver o que dizem a respeito para constatar que nem leram o projeto que será votado no Senado. O Código Florestal não anistia ninguém nem estimula o desmatamento, muito pelo contrário.

Impõe a recomposição de áreas degradadas e pune quem novamente as degradar. É inútil argumentar. São somente massa de manobra de interesses bem maiores que eles próprios desconhecem.

Leia o artigo completo em

*KÁTIA ABREU, 49, senadora (PSD-TO) e presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, escreve aos sábados, a cada 14 dias, no caderno Mercado do Jornal Folha de S.Paulo.

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