10 de jul. de 2014

MELHOR MESMO SÓ SETE A ZERO



La vida es la ruleta 
en que jugamos todos.
A ti te había tocado
no mas la de ganar.
Pero hoy tu buena suerte 
la espalda te ha golpeado.
Fallaste corazón,
no vuelvas apostar. 

Como todos sabem, não sou aficcionado em futebol. Jamais fui a um estádio e não torço para time nenhum. Só torço nos finais de Copa... contra o Brasil. Nunca imaginei que uma Copa me traria tanta alegria como esta. O resultado de ontem foi perfeito. Se a vitória da Alemanha fosse de 1 a 0 ou de 2 a 1, sempre se poderia alegar que em futebol se ganha, se perde ou se empata. 

Não foi o caso. O resultado foi para humilhar. Quando soube que estava 2 a 0, me entusiasmei e decidi assistir ao jogo. Fui tomado por um entusiasmo brasilicida. Queria mais. Se a Alemanha fez 5 gols no primeiro tempo, seria de esperar-se mais alguns no segundo. Calculei nuns 7 ou 8 a 0. Errei por pouco.

Não imagine o leitor que tenho ressentimentos contra meu país. Nada disso. É que não suporto vê-lo resumido a futebol, em uma mescla de affoncelsismo exacerbado e orgulho chocho. O grande personagem nacional não é o empresário ou industrial que faz o país crescer. Muito menos o médico ou o engenheiro,o comerciante ou o padeiro, o taxista ou o lixeiro, que mantém a bicicleta andando. O grande personagem nacional é o futebolista, cujos feitos só servem para inflar os brasileiros de vento.

Desde há muito, a imprensa brasileira vem deturpando o conceito de herói. Herói não é mais o homem capaz de grandes feitos, que vão além da humana capacidade. Herói é simplesmente o bombeiro ou salva-vidas, que nada mais faz senão cumprir o seu dever. 

O Brasil sempre viveu uma carência de heróis. Neste vazio hiante, até cachorro serve. Quem não lembra da Catita, a cadelinha que defendeu uma criança atacada por dois pitbulls? "Heroína!" - berraram as manchetes. O episódio foi emblemático. Catita, mãe de vários cachorrinhos, arriscava a vida em defesa de um filhote alheio. 

O velho mito da Madonna, desta vez em versão canina, tão utilizado pelos jornalistas para comover leitores. Mais ainda: Catita era uma cadela plebéia, vira-lata latina e nativa. Os agressores eram cães de elite, alienígenas e com sotaque anglo-saxão. A finada luta de classes ressuscitava e se manifestava mesmo entre caninos. Claro que Catita era de esquerda, e os pitbulls eram da direita truculenta. Em falta de heróis, vai cadela mesmo.

Com este vazio conceitual, sobrou para os jogadores de futebol. Estes senhores, que nada acrescentam à riqueza do país – pelo contrário, só subtraem – são hoje os heróis celebrados pela imprensa. Para mim, nada foi mais prazeroso que ver um herói chorando. Um herói se forja na adversidade. Menos os nossos, que só admitem a vitória. Não foram advertidos para o outro lado da moeda, a derrota. Me fez bem ao espírito ver os bravos leões das arenas hodiernas, chorando como gatinhos pela juba perdida. E não choraram porque foi um massacre. Chorariam com qualquer derrota, mesmo um prosaico 1 a 0.

A entrevista do técnico foi de uma hipocrisia atroz. Quando a seleção ganha, a vitória é de todos, do técnico e do time. Nesta derrota, Scolari fez como o Cristo, que assumiu os pecados da humanidade, sem que humanidade alguma lhe pedisse tal favor. Em um manifestação de flagrante falsa modéstia, Felipão assumiu exclusivamente para si a responsabilidade da derrota. “Fui eu o culpado”. Como se não tivessem culpa alguma os pata-tortas que estavam no gramado. Pode soar simpático ao telespectador desavisado, mas sua admissão de culpa não resiste à menor análise.

É muito complicado explicar o inexplicável, disse com ares de pitonisa o goleiro Júlio César, que engoliu os sete frangos. Pecou pelo simplismo. Inexplicável não se explica. Mas o fiasco nada tem de inexplicável. A Alemanha jogou bem e o Brasil como time de várzea. Após o segundo gol, os brasileiros perderam o controle e corriam como baratas tontas no gramado, atrás de uma bola que parecia ter desenvolvido alergia às chuteiras nacionais. Os alemães, com passes precisos e quase matemáticos, mal deixavam os brasileiros chegar perto da brazuca.

A goleada foi insólita. Da incredulidade, os locutores foram passando à constatação. De início, ninguém ousou falar em humilhação. A palavrinha maldita só foi pronunciada depois que começou a ricochetear na imprensa internacional.

De um segundo para outro, os clips de propaganda ufanista se tornaram ridículos. A imprensa, que antes só via virtudes na seleção, de repente, não mais que de repente, passaram a ver improviso e falta de preparo. Os candidatos a heróis passaram a ser vaiados e execrados como marginais. Scolari, de esperança de um Brasil pujante entre as nações, virou “avô ultrapassado”. 

Nada mais catártico para um Brasil inflado de vento e nada mais que esta derrota histórica. Nada mais salutar para a nação que ver o país do futebol derrotado em casa. O que se anunciava como festa nacional, revelou-se um festival de choro e ranger de dentes.

Para os paulistas, a grande data se comemora hoje, 9 de julho. Para mim, será sempre o 8. Curtida a ressaca, restam poucos dias para lamber as feridas. Domingo que vem começa outra Copa, a eleitoral, mais vil e mentirosa que aquela que ontem morreu para o Brasil. Não vai dar tempo nem de respirar. 

Ontem ganhei meu dia. Deutschland über alles! Só uma crítica aos bravos alemães. Foi uma lástima permitir aquele gol do Brasil. Sete a zero seria bem mais emblemático.

A donde fue tu orgullo 
a donde esta el coraje?
Por que hoy que estas vencido
mendigas caridad? 
Ya vez que no es lo mismo
ganar que ter perdido. 
Hoy que estas acabado
que lastima me das.

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