Em entrevista a INFO, o canadense Philip Low expõe um paradoxo cruel: a ciência já provou que os animais são conscientes. Apesar disso, tratamos os bichos como objetos – utilizados em testes de laboratório ineficazes que podem, em sua opinião, ser substituídos por técnicas mais avançadas
Marcus Vinícius Brasil e Vanessa Daraya/ INFO Online - De passagem pelo Brasil, onde participou do 3º Congresso Brasileiro de Bioética e Bem-Estar Animal, o neurocientista canadense Philip Low expõe um paradoxo cruel: do ponto de vista científico, sabemos que os cérebros de mamíferos possuem oscilações complexas, como dos humanos. Temos a prova de que eles são conscientes. Apesar disso, tratamos esses animais como objetos - utilizados em testes de laboratório ineficazes que podem, na opinião de Low, ser substituídos por técnicas mais avançadas.
Além dos estudos com animais, uma das abordagens propostas pelo canadense é a de entender melhor o funcionamento do cérebro humano, e tratar doenças antes de os sintomas se manifestarem, quando ainda aparecem apenas como rotinas cerebrais problemáticas.
A empresa que fundou e atua como CEO, a NeuroVigil, tem Elon Musk entre os investidores e oferece essa solução para grandes laboratórios farmacêuticos, e até para Nasa, que planeja monitorar o cérebro de astronautas da Estação Espacial Internacional.
Low foi ainda responsável pelo desenvolvimento da interface cerebral que ajuda o renomado físico Stephen Hawking a se comunicar.
Confira a seguir a entrevista exclusiva que ele concedeu a INFO.
Você esteve envolvido com pesquisa animal e agora explora o cérebro humano. O que conecta esses campos de pesquisa?
O iBrain. Ele é o menor monitor de ondas cerebrais do mundo. Temos 3 versões. A primeira, de 2009, está sendo utilizada pelas grandes empresas farmacêuticas. Temos a segunda, que foi desenvolvida para o Stephen Hawking. A terceira, ainda em protótipo, pode ser utilizada pela Nasa para monitorar astronautas em tempo real na Estação Espacial Internacional.
Qual o grande avanço desse dispositivo?
É a Matemática. Em minha tese eu desenvolvi um algoritmo capaz de ler e interpretar ondas cerebrais de forma muito sensível. Não é preciso que a pessoa vá até o hospital para que consigamos coletar toneladas de dados. Na eletroencefalografia, se você quiser dados de qualidade, enfrenta o problema de que o escalpo da cabeça suprime muitas frequências cerebrais. Meu algoritmo resolve esse problema trazendo essas frequências de volta ao espectro.
Como o iBrain e seu algoritmo funcionam no estudo da consciência animal?
Quando apliquei essa matemática aos animais, percebi que nós os tratamos de forma primitiva. Eles têm oscilações cerebrais muito avançadas, e eu não sou o único a dizer isso. Sou um viciado em dados. Não uso o julgamento de ninguém para me dizer o que é real ou não. Eu olho para os dados.
Você acha que essa abordagem mais técnica pode mudar a opinião das pessoas sobre o uso de animais em testes de laboratório?
Essa é uma pergunta complicada. Sei que houve a questão do Instituto Royal aqui no ano passado, e acho que é muito importante que se discuta isso. Mas, por outro lado, é importante que as pessoas não se acusem. Os ativistas costumam achar que cientistas são malignos, e os cientistas acham que os ativistas são estúpidos. E isso não é produtivo para ninguém. Nem para os animais nem para os humanos.
Eu vejo a questão da seguinte forma: se os cientistas usam financiamento público, como qualquer companhia, os investidores têm o direito de saber o que está acontecendo, como o dinheiro está sendo usado. Nesse caso, todos os cidadãos são investidores, afinal, o dinheiro é público. Então minha mensagem é: não ataque os cientistas, eles querem ajudar a sociedade. Se você não gosta do que eles fazem, não os pague para fazer isso. É necessário que os políticos respondam ao público e que haja leis que evitem que esse dinheiro seja usado em desacordo com sua opinião.
Também há o aspecto econômico das pesquisas com animais. Se eu chegasse e dissesse: "Olá, tenho uma companhia que mata milhares de animais todo ano, gasto 40 bilhões de dólares nisso, e a chance de testar em humanos é menor que 6%". Você investiria? Não. Mas é isso o que estamos fazendo como sociedade.
Qual seria a alternativa a isso?
Eu prefiro trabalhar analisando o cérebro humano, buscando sintomas antes de eles se manifestarem, poupando os animais e todo o dinheiro gasto com isso.
VIA PLANETA SUSTENTÁVEL
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