PORTAL FEB - Israel Blajberg - Em clima de emoção, o documentário de Caco Ciocler foi aplaudido pelo publico presente a Première Brasil: Competição – longa documentário, no Festival do Rio 2014.
Em 1938 Aracy Moebius de Carvalho (1908-2011) era secretaria na Seção de Vistos do Consulado Geral Brasileiro em Hamburgo. Em meio ao colapso moral da Europa, uma mulher brava e resoluta, digna da lutadora Maria Quitéria ousou desafiar os nazistas, pela concessão de vistos a judeus perseguidos.
Se a Gestapo descobrisse certamente correria enorme risco de vida. E no mínimo perderia o emprego, se o Itamaraty soubesse. Seu nome brilha no infinito, ao lado de gente honrada como o Embaixador Souza Dantas, Aristides Mendes, Jose Castellanos, Chiune Sugihara e Angel Sanz.
As portas se fechavam cada vez mais. Na noite negra do Holocausto Getúlio cedeu aos antissemitas que o cercavam. Esta terra abençoada lamentavelmente era maculada pelas ignominiosas circulares secretas do Itamaraty.
Felizmente a índole humanista do brasileiro prevaleceu. Muitos judeus foram admitidos, contrariando as restrições. Mesmo amigos pessoais de Getúlio, como o Coronel Aristarcho Pessoa, facilitaram a entrada de judeus em perigo.
Na verdade Aracy e outros abnegados foram exceção. O mundo ignorou o que se passava.
Dizia Balzac, a História é como um bobo, se repete… se repete… se repete… hoje novamente espectadores passivos assistem a iniquidades praticadas por outras falanges ensandecidas, sabe-se lá em nome de que, sob a bandeira negra do ódio.
Por incrível novamente o mundo se cala ante ameaças e agressões de ideologias espúrias, não apenas contra judeus. O lobo antissemita sob a pele de cordeiro antissionista difama os judeus sob falsos pretextos. Se não mais assacam a calunia do crime ritual, com novos métodos ainda mais perversos superam o próprio Goebbels na criatividade marqueteira do ódio, ao sacrificar suas próprias crianças.
É neste pano de fundo que, dentre as centenas de filmes do Festival do Rio 2014, destacava-se a historia fantástica de Aracy Guimaraes Rosa, a brasileira que não se omitiu diante do sofrimento alheio: “ESSE VIVER NINGUEM ME TIRA”.
Sua sala no Consulado Brasileiro em Hamburgo vivia abarrotada de judeus. Mães em lagrimas imploravam pelo visto salvador que permitiria a fuga do inferno nazista.
Enquanto o mundo virava as costas Aracy resolveu agir. Da sua mesa saiam os passaportes já visados para a assinatura do Consul Geral. Quantos vistos foram concedidos somente o Eterno sabe. Porque Aracy jamais divulgou seus atos.
Sete testemunhos foram dados ao Yad Vashem, Instituto de Jerusalém que guarda a memoria do Holocausto, sendo Aracy reconhecida em 1982 como uma Justa Entre as Nações, os que arriscaram a própria vida para salvar judeus do Holocausto.
Seu nome em letras gravadas a fogo esta perpetuado no Jardim dos Justos, uma de 25 mil que se recusaram a ser simples espectadores do assassinato em massa de um povo. Uma arvore foi plantada em sua homenagem no Bosque dos Justos, sobre a colina da Cidade Santa onde se ergue o Yad Vashem.
Aracy estava predestinada. O Grande Arquiteto do Universo traça os destinos pelos méritos de cada um. E foi no mesmo consulado de Hamburgo que ela conheceu João Guimarães Rosa, o diplomata e escritor que seria o amor da sua vida, com quem se casou em 1940, retornando ao Brasil em 1942.
Reza antiga lenda judaica que sempre existem 36 Justos sobre a face da Terra. Ninguém, nem eles mesmos, sabe quem são, sequer se conhecem.
São puros, humildes, atuando anonimamente mediante seus poderes místicos para evitar que o mal aconteça às pessoas a sua volta. Como pilares secretos do universo, por sua causa o Eterno permite a Humanidade continue existindo. Sem perceber, são nossos salvadores.
Qualquer pessoa pode ser um deles, seja um trabalhador dedicado, um professor, um medico bondoso, uma secretaria …
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