Tiioda/22/01/1997 — A Revolução Cultural levada à prática pelo ditador Mao Tsé-tung a partir de 1966, entre outras atrocidades, permitiu abertamente o canibalismo em algumas regiões da China. A denúncia consta do livro “História de Canibalismo Na China Moderna”, lançado pelo chinês Zheng Yi, nos Estados Unidos. Por causa das inúmeras denúncias, ele voltou, na década de 1980, à região de Guangxi para fazer uma pesquisa de campo. Descobriu que a antropofagia não havia se limitado a episódios isolados de fanatismo. Centenas de “inimigos do povo” foram devorados. De acordo com a pesquisa, na década de 1970, era possível encontrar um chefe político carregando a perna de um cadáver ou presenciar um churrasco numa escola no qual os estudantes assavam pedaços do diretor assassinado.
Mao Tsé-tung: o grande carniceiro |
As histórias do livro nunca foram confirmadas nem desmentidas pelo Partido Comunista Chinês. O autor só conseguiu investigá-las porque, em 1986, ainda era considerado um comunista leal. Graças às suas conexões em Pequim, pôde xeretar arquivos oficiais, copiar documentos e entrevistar parentes das vítimas do canibalismo. Conversou também com canibais confessos, que se disseram nem um pouco arrependidos. Segundo esses canibais, quase não se usavam balas nas execuções: a pedagogia revolucionária recomendava, por economia, o emprego de socos, porretes e pedras. Na hora de descarnar os corpos, dava-se preferência ao coração, ao fígado e à genitália, órgãos a que os chineses atribuíam poderes medicinais. O PC chinês nunca sancionou a prática, mas tampouco se empenhou em coibi-la.
Trecho do Livro
Deng Jifang, morador de Sishao, uma aldeia da região autônoma de Guangxi, no sul da China, foi condenado à morte em 1968, no auge da Revolução Cultural. Seu crime: ser filho de um grande proprietário de terras. O julgamento foi público e a sentença proferida na praça central da aldeia.
— O que faremos com esse inimigo da revolução? — perguntou o juiz à turba?
— Lincha, lincha — foi a resposta
A própria multidão executou a sentença com pauladas e pedradas. Morto o inimigo da revolução, começou então o rito medonho: a retalhação do cadáver e a distribuição dos pedaços para que fossem comidos pelos presentes. “A primeira faca que usei não tinha corte. Joguei fora e com outra mais afiada abri seu peito de alto a baixo”, conta Yi Wansheng, o homem que esfolou o condenado. “Mas, quando tentei cortar o coração e o fígado, o sangue era tão quente que tive de esperar esfriar um pouco. Arranquei, então, os dois órgãos, cortei tudo em pedacinhos e entreguei para o povo.” À noite, os pedaços foram cozidos e comidos pelos habitantes de Sishao.
Texto extraído da matéria “Canibais de Mao”, do jornalista Izalco Sardenberg, publicada na revista Veja, edição de 22 de janeiro de 1997, página 48.
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