8 de out. de 2020

Bolsonaro deveria ter seguido o exemplo de Millôr

 O Brasil já não sabe enxergar ironias

O chefe do Executivo sabe que os trabalhos da Lava Jato estão longe do fim/Planalto / Flickr

Augusto Nunes - Em 1987, entrevistado no programa Roda Viva, o grande Millôr Fernandes respondeu a uma pergunta com fina ironia. Imediatamente, centenas de espectadores fulminaram o estúdio da TV Cultura com comentários coléricos. No intervalo, resumi para o entrevistado o som da fúria. Ele revidou com a observação que precedeu a resposta seguinte: "O Brasil anda tão estranho que, antes de tratar algum assunto com ironia, convém começar com a advertência: 'Atenção, o que vou dizer agora é uma ironia. Repito: É uma ironia'".

O presidente Jair Bolsonaro deveria ter evocado o aviso sugerido por Millôr antes de afirmar, nesta quarta-feira, que acabou com a Lava Jato porque já não há corrupção no governo. Evidentemente, Bolsonaro pretendia registrar um fato: desde 1° de janeiro de 2019, não se noticiou um único caso de corrupção ocorrido com a participação ou a anuência do governo federal. Portanto, ao contrário do que aconteceu entre a ascensão de Lula e a queda de Dilma, a Lava Jato não precisará devassar o Palácio do Planalto à caça dos envolvidos em algum sucedâneo do Petrolão.

O chefe do Executivo sabe que os trabalhos da Lava Jato estão longe do fim. Sabe, também, que não dispõe de meios para encerrar investigações promovidas por outros poderes. E quem vê as coisas como as coisas são sabe que os que sonham com o fim da Lava Jato estao na frente ampla pró-corrupção formada por todos os corruptos já desmascarados,  parlamentares com medo de cadeia e ministros do Supremo transformados em padrinhos de bandidos.

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