Nessa quarta-feira (9), a emissora — que já foi acusada de pagar propina para transmitir jogos de futebol — afirmou que o Terça Livre e outros sites chamados de “bolsonaristas” pelo jornal foram “abastecidos” com verba de publicidade federal para “propagar discurso de ódio e mensagens contra a estabilidade democrática”.
A informação já foi corrigida inúmeras vezes pela Secretaria de Comunicação do Governo Federal (Secom). A pasta explica que não houve nenhuma verba direcionada para sites ou blogues, e que qualquer eventual publicidade foi feita pela plataforma do Google por meio de algoritmos que remuneram páginas mais acessadas, sem fazer direcionamentos.
O relatório da Secom mostra que o Terça Livre recebeu desta forma (via AdSense) menos do que sites de esquerda. A quantia destinada à empresa jornalística foi de R$ 32, enquanto, por exemplo, a revista de esquerda Fórum recebeu R$ 479.
Além disso, os dados originais emitidos pela Secom mostravam que 65 mil canais receberam quantias via AdSense, mas a imprensa foca em divulgar apenas os canais conservadores mencionados no relatório.
A base das informações da velha imprensa e que constam no inquérito dos “atos antidemocráticos” relatado pelo ministro Alexandre de Moraes é uma nota técnica feita em 2020 por funcionários legislativos e entregue à CPMI das Fake News
A nota mencionava apenas os trechos em que apareciam sites conservadores.
O Terça Livre já denunciou que os consultores legislativos da CPMI Cristiano Aguiar Lopes e Daniel Chamorro Petersen fizeram-se passar por cristãos anticomunistas para obter com mais facilidade as informações via Lei de Acesso à Informação (LAI).
Em posse de todas as informações e sabendo a real quantidade de anúncios feitos via AdSense, os autores da nota técnica induziram a CPMI à conclusão de que o Terça Livre receberia “verba pública” e que o jornalista Allan dos Santos teria mentido ao negar isso.
O deputado federal Márcio Labre (PSL-DF) chegou a alertar e questionar a CPMI sobre as distorções produzidas no relatório da consultoria legislativa.
O deputado apontou que canais de oposição ao governo receberam cem vezes mais anúncios do que o Terça Livre.
Mesmo enviesada, a nota técnica embasou Alexandre de Moraes no inquérito dos “atos antidemocráticos”.
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Globo e Secom
Por outro lado, quem foi abastecido durante mais de uma década com verbas federais foi o Grupo Globo. Segundo dados do antigo Instituto de Acompanhamento da Publicidade, o veículo de comunicação recebeu mais de R$ 10 bilhões em publicidade federal de 2000 a 2016.
O Terça Livre já obteve vitórias judiciais contra acusações de recebimento de dinheiro público via Secom. O diretor da IstoÉ, Germano Oliveira, por exemplo, foi condenado a indenizar o jornalista Allan dos Santos por danos morais após dizer que a empresa recebia cem mil reais mensais da Secom.
A IstoÉ também foi obrigada a conceder direito de resposta ao Terça Livre por mentir sobre o assunto.
A revista da Editora Três também foi beneficiada com dinheiro público entre 2000 e 2016, com valores que ultrapassam os 200 milhões de reais.
Durante o Boletim da Noite dessa quarta-feira (9), o ex-secretário de Comunicação da Presidência da República Fábio Wajngarten voltou a negar que a Secom tenha direcionado verbas para o Terça Livre.
“A Secom tem agências de publicidade licitadas. Não fui eu que solicitei, eu herdei a licitação do governo anterior, eu não escolhi as agências que me atenderam durante a minha gestão. Todos sabiam que era uma meta da minha gestão fazer um novo edital de publicidade, mas também não tenho nada contra as que me atenderam. As agências que contratam o Google para servir a publicidade”, explicou o ex-secretário.
Ainda de acordo com Wajngarten, os algoritmos do Google, entendendo hábitos de consumo de mídia das suas respectivas audiências, distribuem suas publicidades e remuneram automaticamente os veículos que vincularam a sua publicidade.
“Assim são as plataformas e ferramentas do Google. O algoritmo tem um aprendizado contínuo para atingir aquela audiência desejada. Reitero aqui que durante a minha gestão na Secom não foram feitos investimentos em publicidade de forma direta sem o Google em nenhum site ou blog, vamos deixar isso muito claro”, acrescentou.
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