OBS: Texto publicado há 9 anos o que demonstra toda as sua atualidade e ao mesmo tempo a estagnação humana.
Por Matheus Raposo - A nossa esquerda está tão acostumada a louvar e venerar os piores tipos de facínoras e assassinos como heróis da revolução – vide Che Guevara, Lênin, Fidel Castro, Marighella e seus tantos outros acólitos – que defender o Hamas era para eles uma atitude louvável.
Qualquer pessoa racional se sente instigado por uma indignação corrosiva quando vê uma deputada do PCdoB acusar Israel de genocida, enquanto o mesmo partido apoia os regimes mais ditatoriais do planeta, Cuba e Coréia do Norte; revolta-se ao ver nas Universidades Federais, ou nas PUCs da vida, um bando de moleques, que morrem de amores por Cuba, nas suas rodas de maconha, a criar carreira com passeatas pela paz e pelos “direitos humanos”, chegando até a concorrer para o cargo de Deputado Estadual, quando não Governador do Rio de Janeiro. Irracional, não? Para a esquerda não!
Se qualquer desses sujeitos, que habitam os melhores DCEs e as sessões de cinema iraniano mais próximas, for indagado sobre a sua incoerência eles logo deixarão escapar a real causa escondida sob o véu da bandeira dos “direitos humanos”. “Cuba é um regime assassino que não tem nenhum respeito pelos ‘direitos humanos’?”. “Ah, ‘camarada’ isso foi o necessário para defender o Socialismo do Capitalismo imperialista yankee”.
É essa a essência da mentalidade revolucionária. É o conceito que mal creditaram a Maquiavel: os fins justificam os meios – o maquiavelismo. Os “direitos humanos” para a esquerda é simplesmente um pedestal moral inquisitório, assim como a ética é ao petista, é um meio para denegrir seus detratores, é um mero artifício verbal igual ao usado pelo adúltero que jura não trair mais sua esposa, um vazio poderoso. Quando indagado de suas verdadeiras ações, deixam transparecer a verdadeira intenção do movimento revolucionário: a revolução; e se os “direitos humanos” estiverem nesse caminho logo se tornam uma arma burguesa a ser derrubada, uma bandeira supérflua.
Essa mesma mentalidade se encontra tanto no Hamas quando na nossa intelectualidade de esquerda. Eu não falo nenhuma mentira aqui, uma rápida espiada em qualquer DCE ou curso de Ciências Sociais se acham seres com camisas do Che Guevara ou professores romantizando a Revolução Cubana. Morrer ou matar pela revolução, para o Hamas e para a esquerda, é morrer ou matar por um ideal, o certo e errado não é morrer ou matar em si, mas é morrer ou matar pelo nosso ideal ou não. Deturpam o ato moral em si, despregando-se ao Imperativo Categórico Kantiano, e mergulham em um relativismo moral vazio que esconde o verdadeiro código moral esquerdista: não é o ato em si que é ruim, mas o motivo do ato praticado.
Quem melhor soube retirar a essência do movimento revolucionário foi Eric Hobsbawn, o historiador popstar dos cursos de humanas, chegando a dizer que seriam justificáveis os crimes de Stálin caso tivessem implementado um verdadeiro e genuíno comunismo.
Não importa se o Hamas usa sua população, e muitas vezes crianças, como escudo humano, não importa se são sempre eles a começarem os conflitos, não importa se o Hamas esconde mísseis em escolas, e até em locais chefiados pela ONU, não importa se é o Hamas a sempre quebrar as tréguas, nada disso importa. Não importa se Cuba e Coréia do Norte oprimem e matam diariamente sua população, não importa se a URSS matou muito mais do que as ditaduras positivistas da América, nada disso também importa para a esquerda.
O importante para essas pessoas é a revolução, que se explodam os ideais de fachada, os direitos humanos, se os crimes foram cometidos pela revolução, pelo partido, pelo Socialismo, pelo Comunismo os crimes serão justificados. E nesse meio se encontra a bandeira dos “direitos humanos” para a esquerda. Ao mesmo tempo o esquerdista consegue subir num palanque moral com uma camisa do Che Guevara e apontar Israel como um genocida. Noam Chomsky consegue a um tempo apoiar os piores tipos de regimes na história e criticar os EUA como a pior tirania da história.
Nota-se bem isso no PT atual. Genoíno, Dirceu e Delúbio não foram meros corruptores, como foi André Vargas, eles se corromperam pelo partidão, pela causa. Um simples ataque à democracia para uma escalada ao poder seria condenada por eles, mas fazer isso em prol do partidão e da causa são atos de heroísmo.
Hipocrisia? Nada disso. O esquerdista é tomado por uma consciência revolucionária que torna essas inconsistências de discurso algo orgânico, natural, se mistura a psicopatia predisposta ao movimento revolucionário com o pragmatismo oportunista. O revolucionário, como já disse, não tem no cerne a defesa dos “direitos humanos”, da ética, ou de qualquer valor moral elevado. Pelo contrário, esses valores morais são meros mecanismos úteis, pragmáticos para denegrir, para minar a moral de seus inimigos. São imputados na mentalidade do movimento como é ruim isso do outro lado do muro, mas justificável do lado esquerdo.
Apoiar o Hamas e demonizar Israel não é em si uma simpatia pelo Hamas, ou mesmo um ódio por Israel, é o capital político a ser explorado pela esquerda. Israel é tida pela esquerda como a “prostituta” yankee naquela região. Os palestinos podem ser postos na dicotomia oprimido/opressor e servir à causa revolucionária. E o tema cabe muito bem no modus operandi da esquerda. Quando a esquerda apresenta uma trinca de “direitos humanos”, é um mero artifício verbal para minar a força política do Capitalismo e da democracia liberal, mas que abaixo daquelas palavras bonitas infladas pelo tema de fundo “Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores” numa micareta cutiana se esconde o real objetivo da psicologia revolucionária: fazer a revolução.
A esquerda organizou passeata, a deputada Jhandira Feghalli, PCdoB, organizou piquete no Congresso contra Israel. A indignação desses até nos faz titubear e acreditar na causa dos direitos humanos dessa esquerda. Mas quando vemos o assassinato de cristãos na Síria, mais de 1200 pessoas, não achamos uma única nota sobre isso do PCdoB, da esquerda ou da deputada Jhandira. Ou mesmo na Coréia do Norte, país ao qual o PCdoB fez nota de apoio, onde estima-se haver mais de 50 mil cristãos presos, onde está a indignação da esquerda para esses casos? Cadê as passeatas? O esperneio? Ou mesmo a indignação pela condição de vida dos cubanos, que têm de nadar com os tubarões para fugir do inferno castrista. Cadê a indignação da esquerda com a falta de direitos humanos nesses países. Cadê a indignação da esquerda com os vários mortos da Guerra da Síria. O silêncio é ensurdecedor.
Inexiste reação da esquerda quando não dá usar os chavões “burguês”, “imperialista” e seus derivativos e a causa dos “direitos humanos” fica na gaveta às traças. E a indignação que a esquerda nos mostra pelos conflitos na Faixa de Gaza são puros frutos da psicologia revolucionária, como já disse antes, um fruto revolucionário imputado na mentalidade esquerdista. Essa mesma indignação não se apresenta quando confrontados com as atrocidades listadas acima. Se realmente tivessem os “direitos humanos”, a ética, ou qualquer valor moral superior como algo valoroso, caro, como real bandeira não existiriam tantas incoerências. Essas, pelo contrário, só mostram que a esquerda tem como bandeira a revolução, assim como o Hamas só tem como bandeira o fim de Israel, o mesmo maquiavelismo com diferentes facetas.
Diferente da física, nas ciências sociais os semelhantes tendem a se atrair. Os canalhas, torpes, sociopatas, facínoras, fracos têm maior facilidade de se aproximar e transfigurar um ideal como uma causa moral maior e se blindar de qualquer tipo de julgamento moral racional. O Hamas usa a população como escudo humano, mas é em nome de Alá, quando não pior, pelo fim de Israel. Deturpam o próprio Islã e passam a imagem de que todo país islâmico/árabe é formado de radicais fanáticos como os do Hamas. O esquerdista admite mortes, corrupção e tutti quanti quando o objetivo previsto é o fim do capitalismo, a implementação do socialismo e por aí vai.
Publicado originalmente no Liberzone
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