Muitos executivos alertam que os consumidores nas duas maiores economias estão gastando menos, mas por razões diferentes
Por Natasha Khan - No meio do ano, os líderes de algumas das maiores empresas viam sinais de problemas nas duas maiores economias do mundo.
Do McDonald’s à Mercedes-Benz, os executivos dizem que muitos consumidores na China e nos Estados Unidos estão reduzindo os gastos. As razões são diferentes. Na China, a demanda está sendo drenada por um mercado imobiliário em crise, pressões salariais e preocupações com uma tempestade econômica cada vez mais difícil.
Nos EUA, algumas famílias, especialmente aquelas com renda mais baixa, sentem-se pressionadas após uma onda de alta inflação. O Departamento do Trabalho informou que as contratações desaceleraram em julho e a taxa de desemprego dos EUA subiu para 4,3%.
“Com uma grande parte dos gastos do consumidor mundial sob pressão, as empresas agora precisam ser mais criativas em relação aos caminhos para gerar crescimento de receita”, disse Gregory Daco, economista-chefe da Ernst & Young.
Se os consumidores americanos vacilarem, isso significaria um golpe duplo para as empresas multinacionais, que enfrentam uma demanda fraca na China há vários trimestres. Ao divulgar os resultados do segundo trimestre, uma série de empresas alertou para o abrandamento das vendas e reduziu suas previsões de lucros, citando problemas nos dois países.
Até agora, os lucros corporativos se mantiveram, sustentados em parte pelas recompras de ações. No geral, o crescimento ano a ano no lucro por ação do S&P 500 no segundo trimestre está a caminho de 12,4% com crescimento de receita de 4,9%, de acordo com estimativas do provedor de dados financeiros LSEG.
O apetite diminui
A PepsiCo soou um alarme precoce sobre os gastos do consumidor nos EUA e na China. Nos últimos anos, com a disparada dos preços, muitos consumidores continuavam comprando Doritos e Lay’s, renunciando a gastos maiores, como refeições em restaurantes ou viagens. Agora, estão desistindo das batatas fritas também, disse a PepsiCo. O negócio da Frito-Lay na América do Norte registrou uma queda de 4% no volume de vendas no último trimestre.
Enquanto isso, na China, a população está cada vez mais cautelosa com seus gastos, disse Ramon Laguarta, presidente-executivo da PepsiCo. “O consumidor está claramente economizando — economizando mais do que gastando”, disse ele em uma teleconferência com analistas em 11 de julho.
As ações da Heineken caíram 10% em 29 de julho, depois que a cervejaria holandesa divulgou lucros mais fracos do que o esperado e reduziu o valor de um grande investimento na China. As ações da Procter & Gamble caíram no dia seguinte, depois que a fabricante do detergente Tide e do papel higiênico Charmin relatou uma queda inesperada de 7% nos lucros.
A P&G disse que os aumentos de preços desaceleraram para apenas 1% globalmente, enquanto as vendas do recente festival de compras 618 da China, evento anual de compras on-line, sugeriram que os consumidores estavam gastando menos, mesmo com descontos significativos dos varejistas.
“Eu já disse muitas vezes: esta não será uma linha reta”, disse o CEO da P&G, Jon Moeller. “Ainda há mais trabalho a fazer para continuar melhorando as áreas sob nosso controle, o que será necessário para compensar os ventos contrários que basicamente não podemos controlar.”
Embora as medidas de inflação estejam moderando nos EUA, muitos consumidores sentem o impacto cumulativo de anos de aumento do preço de itens essenciais, como mantimentos e produtos menstruais. Os altos custos de empréstimos e os aumentos acentuados nos custos de seguro estão pressionando ainda mais os orçamentos familiares.
O McDonald’s relatou uma desaceleração nas visitas de consumidores de baixa renda, uma tendência que a empresa disse ter começado no ano passado e se aprofundado nos EUA. A gigante dos hambúrgueres relatou uma queda de quase 1% nas vendas nas mesmas lojas no trimestre de junho, o primeiro declínio desde 2020.
O marasmo da China
A inflação não é um problema na China, onde as empresas evitam aumentar os preços há vários anos devido à fraca demanda. Em vez disso, segundo economistas, os gastos chineses estão desacelerando porque as pessoas economizam para se proteger em caso de dificuldades futuras, pois enfrentam uma profunda crise imobiliária e preocupações sobre os rumos da economia.
“As famílias americanas podem esperar taxas de juros mais baixas no futuro”, disse Mark Williams, economista-chefe da Capital Economics para a Ásia. “O governo da China prometeu fazer mais para apoiar os consumidores, mas não há nada sugerindo que uma grande reviravolta seja provável.”
O crescimento das vendas no varejo da China, um indicador do consumo, baixou de 3,7% em maio para 2% ano a ano em junho. Os líderes chineses disseram em 30 de julho que tomariam medidas mais agressivas para aumentar os gastos do consumidor.
A fabricante de botox AbbVie declarou que os ventos contrários na China prejudicaram as vendas de sua divisão de produtos farmacêuticos estéticos no trimestre de junho e reduziram suas perspectivas para esses produtos nos EUA e em casa. A Starbucks informou que suas vendas nas mesmas lojas nos EUA caíram 2% no trimestre de junho, o segundo declínio consecutivo. E na China, caíram 14%, já que a rede de café enfrentou maior concorrência de rivais de baixo custo.
A General Motors disse que a força no mercado dos EUA foi compensada por uma maior erosão na China, onde perdeu dinheiro pelo segundo trimestre consecutivo em meio à forte concorrência de marcas locais. A Mercedes-Benz e a Porsche sinalizaram um ambiente mais difícil e uma concorrência mais acirrada no país asiático.
A Apple também está enfrentando incursões de uma grande marca chinesa, a fabricante de smartphones Huawei. A empresa do iPhone disse que a receita na região da grande China, seu terceiro maior mercado, caiu mais de 6% no trimestre de junho em relação ao ano anterior.
Porém, nem todas as empresas ocidentais estão relatando uma desaceleração no país. A Domino’s Pizza afirma que ainda vê o país como uma oportunidade; sua franquia chinesa planeja abrir a milésima loja lá este ano.
Em uma teleconferência de resultados, Sandeep Reddy, diretor financeiro da rede de restaurantes, disse que novas lojas estão sendo abertas e há recorde de vendas por lá. “Então, é muito animador ver o crescimento vindo da China”, completou ele.
O luxo perde um pouco do brilho
A China impulsionou o crescimento de algumas das marcas mais sofisticadas do mundo. Agora, sua população está ligada nas marcas do país.
A Richemont, proprietária da Cartier, relatou uma queda de 27% nas vendas na China, em Hong Kong e em Macau. A Hermès, fabricante das bolsas Birkin, disse que o ímpeto de crescimento das vendas continua em todas as regiões, exceto na Ásia.
Nos EUA — um mercado que já foi um impulsionador de seu boom pós-pandemia — as vendas aumentaram apenas 2%. A LVMH disse que a inflação e as taxas de juros mais altas afetaram o poder de compra de possíveis clientes nos EUA.
“Isso não é bom”, disse Jean-Jacques Guiony, chefe financeiro da LVMH, em uma teleconferência com analistas. “Algumas marcas, principalmente nos EUA, estão pagando o preço por essa situação.”
Escreva para Natasha Khan em natasha.khan@wsj.com e Theo Francis em theo.francis@wsj.com
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