Arsenal de Marinha tornou-se o primeiro órgão público no País responsável por extinguir incêndios no Rio de Janeiro
Primeiro-Tenente (T) Ohana Gonçalves dos Reis Martinho - RJ - Quando os sinos das igrejas badalavam, em tom de aflição, na antiga cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, entre os séculos XVIII e XIX, significavam uma grande emergência, geralmente incêndios.
Na ocasião, não havia profissionais especializados nesta área e tornou-se comum o emprego de marinheiros, que já estavam acostumados a manusear bombas d’água em navios e a subir locais elevados, como mastros. Esse cenário motivou a determinação do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ) como o primeiro órgão público no Brasil responsável pela extinção de incêndios.
O artigo XII do Alvará Régio de 12 de agosto de 1797, assinado pela Rainha Dona Maria I, determinava que: “Terão sempre promptas bombas, e todos os mais instrumentos necessários para se acudir promptamente não só aos incendios da Cidade, mas tambem aos do mar ”. A partir dessa data, portanto, o Arsenal de Marinha passou a combater incêndios na capital do Vice-Reino do Brasil.
De baldes de couro de água a modernos caminhões de combate a incêndios
Ao se tornar capital do Vice-Reino do Brasil, o Rio de Janeiro recebeu muitos migrantes, provocando um crescimento desordenado da cidade. A madeira era o principal material de construção, usada nas estruturas, telhados e assoalhos. O fogo era utilizado em fogões a lenha, em candeeiros e lamparinas. O acesso à água era precário, sendo necessário recorrer aos chafarizes públicos. Esses fatores propiciavam o surgimento e a expansão de incêndios na cidade.
Os navios deslocavam bombas d’água manuais e os militares descarregavam os materiais de combate próximo ao acidente. Com o apoio de moradores, que utilizavam baldes de couro com água no seu interior, os marinheiros continham as chamas de fogo.
Após a criação do Corpo de Bombeiros, em 1856, a atividade externa deixou de existir, dando lugar para a prevenção e o combate a possíveis sinistros que possam ocorrer nas Organizações Militares (OM) sediadas no Complexo Naval da Ilha das Cobras (CNIC) e no Comando do 1º Distrito Naval.
Atualmente, o som de três toques longos de sirene sinaliza a ocorrência de incêndio em algum lugar no CNIC. Com o lema “Frente ao impossível, tentaremos”, a Divisão de Combate a Incêndio da Base Naval da Ilha das Cobras (BNIC) coleciona histórias de heroísmo.
Em 1998, militares e servidores civis da Marinha foram acionados, excepcionalmente, para enfrentar um incêndio no Aeroporto Santos Dumont, que durou toda a madrugada do dia 13 de fevereiro, bem como para minimizar os castigos de uma forte chuva, ocorrida no início de janeiro, que provocou desabamentos e quedas de árvores e deixou 240 pessoas desabrigadas.
“Comecei a minha carreira em 1976. Vi muita coisa acontecer. Em 1989, por exemplo, atuamos no combate a incêndio em uma agência bancária que ficava próxima à Igreja da Candelária, no centro do Rio, junto com os Bombeiros do Estado”, relembrou o servidor civil mais antigo da Divisão, Germano de Freitas Heredia, com experiência de mais de 46 anos na Marinha.
O interesse pela profissão surgiu quando seu pai, Joel de Freitas Heredia, o orientou para ingressar na Força. Eles tiveram a oportunidade de trabalhar juntos na mesma divisão por cinco anos, antes do seu pai se aposentar.
A Divisão de Incêndio nos dias atuais
Atualmente, a Divisão de Combate a Incêndio da BNIC conta com 40 militares e 18 servidores civis, dois caminhões de combate a incêndios - sendo um hidroquímico -, dois caminhões-pipa e uma motobomba rebocável. Periodicamente, são realizados treinamentos focados na prevenção.
“Como forma de manter o alto grau de aprestamento e de prontidão dos componentes dessa Divisão, dentro do contexto de mentalidade do controle de avarias, cada vez mais enraizada na BNIC, esses militares e servidores civis são diuturnamente adestrados e submetidos a cursos de qualificação ministrados no Centro de Adestramento Almirante Marques de Leão e por meio de treinamentos diários nas instalações da própria Base ou em exercícios de apoio mútuo com o pessoal das OM do CNIC e Com1ºDN”, destacou o Comandante da BNIC, Capitão de Mar e Guerra Maurício Barata Soares Coelho Rangel.
Para mais detalhes da história sobre como o Arsenal de Marinha se tornou o primeiro órgão público no País responsável por extinguir incêndios no Rio de Janeiro, confira o artigo elaborado pelo Capitão-Tenente Auxiliar da Armada Marcelo de Assis Silva, Encarregado da Divisão de Combate a Incêndio da BNIC.
Equipamentos utilizados em combate a incêndio no século XX |
Extintor histórico de combate a princípio de incêndio |
Atuais componentes da Divisão de Combate a Incêndio da BNIC |
Componentes da Divisão de Combate a Incêndio do AMRJ na década de 1970 |
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