Para a Lava Jato, as mensagens obtidas com a quebra de sigilo telemático de Elcio Pereira Vieira revelam "ser o sítio de propriedade e posse de Lula"
Lula: Maradona relatou ao petista sobre uma visita da força-tarefa da Lava Jato (Leonardo Benassatto/Reuters)
Com Estadão Conteúdo - E-mails apreendidos na Operação Lava Jato apontam que o caseiro do sítio de Atibaia, no interior de São Paulo, enviava mensagens ao destinatário ‘apoio@institutolula.org’ notícias sobre o dia a dia na propriedade.
Elcio Pereira Vieira, o Maradona, mantinha o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva informado sobre o que ocorria nas redondezas da chácara, encaminhava listas de materiais de construção, recibos de compras de itens da propriedade e relato sobre os animais de estimação.
Para a Lava Jato, as mensagens obtidas com a quebra de sigilo telemático de Maradona revelam “ser o sítio de propriedade e posse de Lula”.
Os e-mails foram anexados à nova denúncia contra o petista, agora acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por reforma milionária no sítio de Atibaia. Além do ex-presidente, outros 12 investigados são acusados nesta denúncia.
Em 21 de abril de 2015, o caseiro mandou fotografias em um e-mail intitulado “avião aki na chacara hoje pela manha”. Na mensagem, 12 fotografias de uma aeronave no céu.
Outro e-mail, de 23 de outubro de 2014, foi enviado ao mesmo destinatário com três fotos e uma mensagem: “a pirua esmagou os tres pintinhos de pavão que estava com ela bom dia!”.
Maradona relatou ao petista sobre uma visita da força-tarefa da Lava Jato.
O caseiro enviou, em 2 de junho de 2016, às 21h09, uma fotografia de um pedaço de papel com a anotação “Força-tarefa – Dr Julio, Dr Roberson, Dr Athayde e Dr Januário”. Ao lado, a indicação Ministério Público Federal. Em cima, um telefone.
Os procuradores Julio Noronha, Roberson Pozzobon, Athayde Ribeiro e Januário Paludo fazem parte da força-tarefa da Lava Jato, no Paraná.
Na acusação criminal contra Lula, a Procuradoria afirma que a anotação foi feita pelo filho de Edivaldo Pereira Vieira, irmão de Maradona, quando procuradores da força-tarefa “efetuaram diligências investigativas em Atibaia”.
Segundo a denúncia, Edivaldo prestou serviços no sítio, cuja propriedade é atribuída a Lula, o que a defesa do petista nega com veemência.
Edivaldo e Maradona não são acusados na denúncia do Ministério Público Federal.
“Na diligência efetuada pelos membros do Ministério Público Federal, Edivaldo respondeu falsamente que nunca trabalhou na propriedade e, após informado do dever de falar a verdade, seu filho anotou os dados de integrantes da força-tarefa para eventual contato, o que nunca ocorreu”, aponta a denúncia.
Obras
Em 31 de julho de 2014, Maradona encaminhou uma mensagem com o título “obras no sítio”.
No e-mail, também endereçado ao Instituto Lula, o caseiro listou materiais para realização de obras na propriedade.
No texto, Maradona escreve que combinou com a ex-primeira-dama dona Marisa (morta em fevereiro deste ano vítima de um AVC) que os materiais para fazer acabamento seriam vistos depois.
Mensagem de 4 de agosto de 2015, encaminhada pelo caseiro a Fernando Bittar, tem o título “orçamento da roçadeira” e apontava valores para o conserto do equipamento que estava com defeito.
Segundo a Lava Jato, a roçadeira havia sido adquirida por Marisa em 27 de abril de 2011, na loja Jardins Equipamentos LTDA.
Em uma das mensagens enviadas ao Instituto Lula, Maradona anexou duas fotografias com o valor de R$ 475 que seria destinado a reparos em um portão automático do sítio.
Em nota divulgada nesta segunda-feira, 22, o advogado Cristiano Zanin Martins, defensor de Lula, afirmou:
“A denúncia apresentada hoje (22/05) pela Força Tarefa da Lava Jato contra Lula mostra uma desesperada tentativa de procuradores da República justificar à sociedade a perseguição imposta ao ex-Presidente nos últimos dois anos, com acusações frívolas e com objetivo de perseguição política. A
nota que acompanhou o documento deixa essa situação muito clara ao fazer considerações que são estranhas à área jurídica e às regras que deveriam orientar a atuação de membros do Ministério Público, como a legalidade e a impessoalidade.
A peça buscou dar vida à tese política exposta no PowerPoint de Deltan Dallagnol, para, sem qualquer prova, atribuir a Lula a participação em atos ilícitos, envolvendo a Petrobras, que ele jamais cometeu.
Os procuradores reconhecem não ter qualquer prova de que Lula seja o proprietário do sítio, embora tenham repetido esse absurdo por muito tempo em manifestações formais e em entrevistas impropriamente concedidas à imprensa:
‘A forma de aquisição da propriedade e seu registro, mediante possíveis atos de ocultação e dissimulação, não são objeto da denúncia’.
Mas recorreram a pedalinhos e outros absurdos para sustentar a tese de que Lula seria o beneficiário de obras realizadas no local e que os valores utilizados seriam provenientes de supostos desvios ocorridos em contratos firmados pela Petrobras.
A afirmação colide com todos os depoimentos já colhidos em juízo até a presente data, com a obrigação de dizer a verdade, que afastam o ex-Presidente da prática de qualquer ato ilícito.
A Lava Jato age de forma desleal em relação a Lula, com acusações manifestamente improcedentes e com a prática de atos que são ocultados de sua defesa.
Hoje mesmo, o ex-Senador Delcídio do Amaral reconheceu em depoimento prestado na 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba que participou no Mato Grosso de Sul de interrogatório solicitado por autoridades americanas com a participação do Ministério Público Federal e com representantes da Petrobras.
O ato, embora relacionado às acusações feitas contra Lula, não havia sido revelado e os documentos correspondentes ainda são desconhecidos.
A falta de justa causa para o recebimento da ação penal proposta nesta data é flagrante e um juiz imparcial jamais poderia recebê-la.”
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