Ditador venezuelano rompe compromissos relativos ao território de Essequibo a dois meses de eleições que ameaçam seu poder
Militares venezuelanos cruzam ponte construída na região de Essequibo - Foto: Reprodução/X de Domingo H. Lárez
Carlos Graieb - Lula continua sendo humilhado por seu amigo Nicolás Maduro.
Na semana passada, completou-se a construção de uma “ponte provisória” entre a Venezuela e a ilha de Ankoko, que o país bolivariano ocupa há décadas, embora um tratado internacional do final do século 19 tenha compartilhado sua posse entre a Venezuela e a Guiana.
A iniciativa tem se ser vista pelo que é: mais um passo da ditadura de Maduro no sentido de anexar o território de Essequibo, onde fica a ilha.
Ponte e tanques
Segundo o general Domigo Hernández Lárez, comandante da equipe de engenheiros militares responsável pela construção, ela servirá para “levar harmonia e progresso ao nosso estado de Guyana Esequiba”, que é como a Venezuela se refere ao território que reclama.
Por ali, acrescentou o militar, “passarão máquinas, construiremos escolas, universidades, centros de saúde, centros de abastecimento, pistas de interconexão, comércio e muitos outros projetos construtivos”.
Trata-se de uma bravata criminosa. Ainda que a Venezuela fosse capaz de levar desenvolvimento aonde quer que seja – não é, tendo em vista a penúria em que o bolivarianismo enterrou o país –, tudo que pode passar pela estreita ponte neste momento são equipamentos de guerra. E há relatos de que tanques já fizeram a travessia.
Lárez, aliás, publicou em suas redes sociais imagens de tanques que teriam feito a travessia.
Escalada no conflito
É mais do que provocação. É uma ação militar concreta, ainda que em ínfima escala.
Ela veio acompanhada, além disso, da nomeação de um colegiado que deve elaborar a “constituição” do hipotético novo estado venezuelano.
Com isso, Maduro violou o Acordo de Argyle, assinado entre Venezuela e Guiana em dezembro do ano passado. O documento contém a promessa de que “ambos os lados vão se abster, por palavras ou atos, de escalar qualquer conflito ou desentendimento derivado da controvérsia entre eles”.
Ele também desdenhou do pedido que Lula lhe fez na mesma época, como mediador da conversa entre as duas nações: evitar “medidas unilaterais”.
Rasteira ou cumplicidade
Trata-se de clara rasteira no presidente brasileiro, que pretende ter voz respeitada em questões mundiais, mas não consegue sequer influenciar o encrenqueiro da vizinhança.
Lulistas do Itamaraty dirão que não se deve sobrevalorizar esses acontecimentos: eles não seriam uma escalada verdadeira (não é o que pensa a Guiana), mas somente jogadas políticas de Maduro, tendo em vista as eleições presidenciais prometidas para o final de julho.
Admita-se por um momento que o raciocínio faz sentido. Nesse caso, estamos diante de um governante que não hesita em usar a cartada do conflito internacional para continuar no poder.
Ou que, face a sinais consistentes de que será derrotado nas urnas, poderia provocar um estado de emergência, cancelando o pleito.
Essas hipóteses fazem de Lula mais que um palerma enganado por Maduro. Transformam sua complacência em cumplicidade com o ditador.
Se os posicionamentos sobre as guerras na Ucrânia e em Gaza mostram a indigência moral da diplomacia lulista, a incapacidade de aquietar Maduro demonstram cabalmente que suas pretensões de liderança estão assentadas no vento.
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