Por Martha Medeiros
NO ZERO HORA - Como é sabido, um comercial de lingerie da qual Gisele Bündchen é garota-propaganda está sendo considerado ofensivo às mulheres. No comercial, se aconselha a melhor maneira de uma esposa dar uma notícia ruim ao marido: primeiro Gisele aparece vestida, dizendo que bateu o carro dele, e depois aparece de calcinha e sutiã dando a mesma notícia.
De igual forma quando avisa que estourou o cartão de crédito ou quando comunica que a mãe dela vai morar com eles. Situações clichês entre casais, vistas com bom humor. Se um homem perde o rebolado ao ver uma beldade em trajes sumários (outro clichê), então é assim que se vai amansar a fera.
Seria apenas mais um comercial valendo-se de uma piada, sem nenhuma consequência para a moral da sociedade, mas como temos hoje uma mulher chefiando a nação, a Secretaria de Políticas para Mulheres da Presidência da República se sentiu no dever de pedir que a propaganda saísse do ar. Um tiro no pé. Como se não tivéssemos massa cinzenta suficiente para julgar o que assistimos.
Ter uma presidente demonstra que estamos alinhados com uma mentalidade menos preconceituosa e indica que possivelmente nossa soberana tenha maior sensibilidade para avaliar questões que interessam às mulheres, como desigualdades salariais, ausência de creches, violência doméstica, dificuldade de fazer mamografias e tantos outros fatores cuja interferência do Estado é bem-vinda. Palpites em propaganda de lingerie, não carece.
Mulher nenhuma vai esperar o marido de calcinha e sutiã à luz do dia, no meio da sala, a não ser que tenha perdido o juízo ou seja, de fato, uma übermodel. Mulher não convida a mãe para morar com o casal, salvo em casos de emergência ou como recurso para terminar o casamento de vez.
Mulheres não batem o carro mais do que os homens, só arranham um pouquinho. Mas é verdade que toda mulher sonha em ser Gisele. Como jamais será, comprar a calcinha e o sutiã que ela usa dá uma falsa ilusão de parecença.
Propaganda mostrando mulheres frívolas que escolhem um homem por causa do carrão dele, ninguém comenta. Mulheres de avental e com um espanador na mão sendo trocadas por um jogo de futebol (papel que a própria Gisele encarnou numa campanha de canal por assinatura) tampouco causam estranhamento. Homens comparando mulher e cerveja, normal. Por que uma mulher utilizando sua sensualidade em benefício próprio seria uma influência mais danosa?
Chega desse paternalismo com as mulheres, como se a gente fosse umas bobocas que não sabem pensar, não sabem avaliar o que veem e não sabem rir de si mesmas. Os publicitários se valem de estereótipos e não denigrem a imagem de ninguém, a não ser a deles mesmos, quando fazem comerciais ineficientes – o que, pela polêmica gerada, não foi o caso. E o governo tem coisa bem mais séria com que se preocupar. I hope.
NO ZERO HORA - Como é sabido, um comercial de lingerie da qual Gisele Bündchen é garota-propaganda está sendo considerado ofensivo às mulheres. No comercial, se aconselha a melhor maneira de uma esposa dar uma notícia ruim ao marido: primeiro Gisele aparece vestida, dizendo que bateu o carro dele, e depois aparece de calcinha e sutiã dando a mesma notícia.
De igual forma quando avisa que estourou o cartão de crédito ou quando comunica que a mãe dela vai morar com eles. Situações clichês entre casais, vistas com bom humor. Se um homem perde o rebolado ao ver uma beldade em trajes sumários (outro clichê), então é assim que se vai amansar a fera.
Seria apenas mais um comercial valendo-se de uma piada, sem nenhuma consequência para a moral da sociedade, mas como temos hoje uma mulher chefiando a nação, a Secretaria de Políticas para Mulheres da Presidência da República se sentiu no dever de pedir que a propaganda saísse do ar. Um tiro no pé. Como se não tivéssemos massa cinzenta suficiente para julgar o que assistimos.
Ter uma presidente demonstra que estamos alinhados com uma mentalidade menos preconceituosa e indica que possivelmente nossa soberana tenha maior sensibilidade para avaliar questões que interessam às mulheres, como desigualdades salariais, ausência de creches, violência doméstica, dificuldade de fazer mamografias e tantos outros fatores cuja interferência do Estado é bem-vinda. Palpites em propaganda de lingerie, não carece.
Mulher nenhuma vai esperar o marido de calcinha e sutiã à luz do dia, no meio da sala, a não ser que tenha perdido o juízo ou seja, de fato, uma übermodel. Mulher não convida a mãe para morar com o casal, salvo em casos de emergência ou como recurso para terminar o casamento de vez.
Mulheres não batem o carro mais do que os homens, só arranham um pouquinho. Mas é verdade que toda mulher sonha em ser Gisele. Como jamais será, comprar a calcinha e o sutiã que ela usa dá uma falsa ilusão de parecença.
Propaganda mostrando mulheres frívolas que escolhem um homem por causa do carrão dele, ninguém comenta. Mulheres de avental e com um espanador na mão sendo trocadas por um jogo de futebol (papel que a própria Gisele encarnou numa campanha de canal por assinatura) tampouco causam estranhamento. Homens comparando mulher e cerveja, normal. Por que uma mulher utilizando sua sensualidade em benefício próprio seria uma influência mais danosa?
Chega desse paternalismo com as mulheres, como se a gente fosse umas bobocas que não sabem pensar, não sabem avaliar o que veem e não sabem rir de si mesmas. Os publicitários se valem de estereótipos e não denigrem a imagem de ninguém, a não ser a deles mesmos, quando fazem comerciais ineficientes – o que, pela polêmica gerada, não foi o caso. E o governo tem coisa bem mais séria com que se preocupar. I hope.
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