6 de jun. de 2020

Carta aos Brasileiros escrita pelo Príncipe Dom Luiz de Orleans e Bragança


dunapress.org/Deusati Eliane Cardoso - Quis a Providência Divina que, há vinte e cinco anos, recaísse sobre minha pessoa o múnus da chefia da Casa Imperial do Brasil.

O transcurso desta data particularmente significativa e, mais ainda, as condições dramáticas pelas quais passa o Brasil, me impõem o dever de um pronunciamento. Faço-o pela diligência e pelo desvelo que me animam enquanto Príncipe brasileiro.

Pelo falecimento de meu saudoso Pai, o Príncipe D. Pedro Henrique de Orleans e Bragança, deu-se naturalmente minha ascensão à condição de Chefe da Casa Imperial. Permita-se-me, pois, que para sua figura de Príncipe católico eu volte, antes de tudo, meu olhar filial e a ele dedique minhas primeiras palavras desta carta.

Meu Pai foi no Brasil – em tempos em que, infelizmente, já grassava a desagregação familiar – um modelo de chefe de família. Com a ajuda preciosa e incansável de minha querida Mãe, inculcou-me ele – bem como a todos os meus onze irmãos e irmãs – a noção dos deveres de Príncipes e das obrigações para com a Pátria.

Senhor de uma sólida cultura, meu pai voltou do exílio na esperança de empreender ampla atuação com vistas a esclarecer os brasileiros sobre as vantagens da forma monárquica de governo, na qual via a solução normal para os problemas do Brasil. Mas como para ele a restauração monárquica não constituía uma esperança pessoal e muito menos uma ambição política particular, logo percebeu que não era possível nem oportuno desenvolver a ação pública que tanto almejava.

Cônscio das limitações que as circunstâncias políticas lhe impunham, não deixou, entretanto, de em determinados momentos fazer ouvir sua voz, sempre dentro da mais estrita legalidade, dando mostras vivas de como, na condição de herdeiro legítimo ao Trono, se debruçava com afinco sobre a realidade do País.

Bandeira Imperial do Brasil. Vigorou durante o período de 1822-1889

Diante da admiração e respeito que, em sua generalidade e até sem distinção de colorido político, os brasileiros conservavam para com a Família Imperial, entendeu ele ainda o papel de natureza social que cabia à Família Imperial desempenhar no panorama nacional, “um conjunto de tradições e valores morais cuja ação de presença no Brasil contemporâneo se exerce de uma maneira discreta, porém profunda e eficaz”, segundo suas próprias palavras.

Espelhei-me no exemplo paterno, de catolicidade, de fidelidade a princípios, de amor ao Brasil, nestes vinte e cinco anos de Chefia da Casa Imperial. Como ele, segui o exemplo de meus maiores na condução desta missão, acompanhando com uma atenção feita de solicitude e devotamento a evolução das circunstâncias de nossa realidade nacional.

Entretanto, essas mesmas circunstâncias exigiram de mim uma atitude de maior presença no panorama brasileiro. Assim, tive a alegria de contribuir, de modo decisivo, para uma mudança marcante na situação da corrente monárquica no Brasil, ao dirigir aos constituintes de 1988 uma carta que viria a ser determinante para o fim da cláusula pétrea e para a realização do Plebiscito sobre forma e regime de governo. A realização de tal Plebiscito exigiu igualmente de mim e de meus irmãos – com merecido destaque para meu querido irmão, D. Bertrand, Príncipe Imperial do Brasil – uma presença marcante na cena pública.

Operou-se assim uma transformação fundamental para a corrente monárquica, sobretudo após o expressivo resultado obtido nas urnas. Deixou ela de ter sua liberdade cerceada e de ser vista como um diminuto grupo de utópicos saudosistas, para ganhar foros de cidadania e, mais ainda, se tornar uma corrente de pensamento e de ação de reconhecida relevância.

Após a realização de tal Plebiscito, a Família Imperial recolheu-se ao perfil discreto de intervenção na cena pública que a caracterizara anteriormente, na medida em que a mudança de cenário o permitia. Continuou ela a abster-se de uma interferência ativa no embate dos interesses e paixões das forças que predominam no cenário político do País, não se eximindo, entretanto, de seguir de perto e com atenção tudo o que aqui se passa e quanto no exterior diz respeito ao Brasil.

Hoje, uma vez mais, diante das circunstâncias de suma gravidade em que se encontra o Brasil, sinto-me obrigado a pronunciar-me enquanto Chefe da Casa Imperial. Levam-me a isso diversos fatores, entre os quais os apelos de monarquistas de variados pontos do País e até de brasileiros sem especiais simpatias pela forma de governo monárquica, os quais consideram que, na condição de continuador de uma linhagem tão intimamente unida aos destinos do Brasil, deveria externar minhas considerações a respeito do momento Pátrio.

O Brasil é atualmente sacudido por uma somatória de crises de naturezas diversas – morais, ideológicas, políticas, sociais, institucionais. A entrelaçar-se em todas elas, até uma crise religiosa, fruto das dissensões que perpassam os ambientes católicos e que vão repercutindo em nossa população de modo palpável. Talvez nunca, desde sua Independência, o País tenha atravessado um momento tão grave e de tantos perigos para seu futuro.

Após um processo político, cujas origens e desenvolvimento não é o momento de analisar, a opinião pública assiste ao triste espetáculo do desmoronamento das instituições públicas e do enfraquecimento do Estado, sem precedentes em nossa história. Processo tão mais grave, uma vez que revela a intenção de impor a nosso País o domínio de ideologias alienígenas e tão distantes do sentir e pensar de nosso povo. Na história recente tanto se tem falado de liberdade e, em nome dela, quantos pensam em caminhar rumo à tirania!

A avalanche desconcertante de desmandos, indignidades, atos de corrupção e até mesmo de crimes, perpetrados em altas esferas do Poder público, geram em nosso povo um misto de desagrado, de inconformidade, de indignação. Mas, ao mesmo tempo, uma sensação de impotência diante da magnitude do ocorrido e da impossibilidade prática de reagir.

Dom Pedro II: o último Imperador do Brasil. Revolucionou o ensino, a indústria e sistema de transporte. Lamentavelmente, os golpistas republicanos destruíram o trabalho do Imperador. Eles extinguiram o ensino público e gratuito, deixaram as ferrovias perecerem e afundaram o Brasil em crise econômica e corrupção política sem fim.

Um dos mais inapreciáveis bens e legados de nossos maiores, é sem sombra de dúvidas a unidade nacional, plasmada por séculos de Civilização Cristã, desde que as naus de Cabral, marcadas pela Cruz de Cristo, aqui aportaram, trazendo em seu bojo promessas de riquezas espirituais e culturais.
Ora, é precisamente sobre as ameaças a esta unidade que recaem minhas principais preocupações.
Vejo com apreensão acirrarem-se os ânimos em torno das mais diversas questões. Como que por impulsos misteriosos, tenta-se jogar brasileiros contra brasileiros em embates fratricidas, muitas vezes com o fantasma da luta de classes como fundo de quadro.

No nosso interior, verdadeiras hordas de agitadores se atiram de modo inclemente contra aqueles brasileiros que, em um esforço abnegado, aproveitam, pelas vastidões desse Brasil, as riquezas de nosso solo.

Mais ainda, vozes exóticas se fazem ouvir para atacar como maléfica qualquer idéia de sadio progresso humano, acenando com soluções radicais de um completo primariam cultural e de uma inteira indigência material.

Intelectuais utópicos, políticos eivados de estranhas ideologias, adeptos de errôneas correntes teológicas, forçam a implantação de políticas públicas de conotação racial que ameaçam a integração harmônica reinante em nosso País, podendo abrir no tecido social, elas sim, em nome de um igualitarismo radical, as chagas de uma discriminação e de um racismo até agora inexistentes.

Outros tentam ainda, de tempos em tempos, com base em explosões violentas de inequívoca artificialidade, criar em nosso território “nações”, cujas primeiras vítimas serão precisamente nossos irmãos indígenas que, em sua grande maioria, apenas anseiam por ser elementos positivos nessa soma de raças e de povos que aqui se foi constituindo.

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