17 de jun. de 2020

O fascismo, no país em que vivo


A esquerda brasileira que diviniza Lula, fazendo dele luz e tudo mais poste, crava, com isso, nova baliza para marcar sua conduta fascista


Artigo publicado em 09.10.2018 -  Eu sei, eu sei. Comumente é dito o oposto. Seja nas manifestações acadêmicas e culturais, seja nas orquestrações rueiras, a acusação vai para o outro lado. Olavo de Carvalho chama atenção para o fato de o adjetivo “fascista” ser lançado como insulto sobre qualquer adversário que ouse se interpor no caminho dos partidos de esquerda. Dado que seus candidatos se deram bem mal nesta eleição, há muitos destinatários para esse adjetivo, disparado, inclusive, pelo jornalismo militante. Com efeito, alguns coadjuvantes do PT, que se mediam com a régua da própria arrogância, descobriram-se praticamente sem voto e sem povo em cujo nome falar. Juntam-se ao PT, porém, para insultar adversários: são todos fascistas...

 A maior causa da ignorância está em não suscitar qualquer mal estar físico. Se doesse, coçasse, causasse insônia ou tontura, os afetados buscariam cura através do conhecimento. O mundo seria melhor. A ignorância, no entanto, costuma vir acompanhada de uma sensação de euforia e de superior onisciência. Pois é o que normalmente acontece quando, no embate político, alguém fora do clubinho esquerdista é chamado de fascista.

 No entanto, o fascismo se caracteriza por:

• Ser estatista. Mussolini dizia: “Tudo no Estado, nada contra o Estado e nada fora do Estado”. No Brasil em que vivo, tamanha reverência antiprivatista ao Estado é marca registrada da esquerda e de suas corporações funcionais. Ou não?

• Ser nacionalista e expansionista. No Brasil em que vivo, a esquerda é nacionalista em benefício do Estado e seus poderes e verbas, e não em benefício da sociedade. Para completar o quadro, tem projetos expansionistas fora de nossas fronteiras, com ditaduras do continente, com o Foro de São Paulo, com a Unasul e com a URSAL. Ou não?

• Organizar parcelas da sociedade em corpos paramilitares, com estrutura de comando, exibi-los em ostensivos desfiles e mantê-los prontos para a ação, inclusive para a ação violenta. Qual a diferença essencial entre os “camisas negras” do fascismo italiano e os “exércitos” de Stédile, Boulos e os black blocs? Pois é.

• Formar, com o comunismo e o nazismo, a tríade coletivista e totalitária do século XX. A exemplo dos demais coletivismos, o fascismo desconsidera a preciosa dimensão individual da pessoa humana, diluindo-a no coletivo do estado nacional. O fascismo se opõe pelo vértice ao que pretendem liberais e conservadores. No Brasil em que vivo, ambos – conservadores e liberais – exaltam as potencialidades do ser humano livre e veem como um oneroso trambolho o Estado tão cultivado pela esquerda. Fascistas?

É muito raro, raro mesmo, que o gorro fascista seja arremessado por alguém que não o tirou da própria cabeça.

* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar.

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