Na fronteira da Rússia uma comitiva do governo aguardou para receber o imperador do Brasil.
Mas novamente quem chegava para o escândalo de todos, era o cidadão Pedro de Alcântara, incógnito, que foi até o restaurante da estação tomar um cafezinho.
Os restaurantes russos publicavam diariamente a viagem do imperador, louvando sua cultura e comparando-o a Alexander II.
A Lei do Ventre Livre 1871 era o paralelo entre Pedro II e o czar russo, que havia libertado 22 milhões de servos (mais que o dobro da população brasileira na época).
No dia 29 de agosto de 1876, D. Pedro e sua comitiva chegaram a São Petersburgo, onde foram recebidos pelo prefeito, uma vez que a família imperial se encontrava na Crimeia. Hospedado no Grande Hotel Europa, o imperador logo partiu para suas expedições, visitando tudo que podia e ficando pasmado perante a opulência da capital russa idealizada por seu homônimo, Pedro, o Grande.
Diversos traços de semelhança podem ser encontrados entre os dois monarcas, começando pela altura, além do fato de terem fundado cidades com seus nomes (São Petersburgo e Petrópolis) que se tornaram muito relevantes para a política dos países no futuro. Ambos perderam seus pais e assumiram o trono muito cedo (Pedro, o Grande não tinha quatro anos quando seu pai morreu e D. Pedro I renunciou e partiu para Portugal quando D. Pedro II não tinha completado seu quinto ano).
Ambos tinham grande preocupação em modernizar e dar visibilidade internacional a seus respectivos impérios, sendo aficionados a inovações. Todavia, o fato que melhor deve ter servido para ligar a imagem dos dois Pedros no imaginário russo foi o fato de o Alcântara ser um viajante.
A história conta que Pedro, o Grande, entre 1697-98, viajou pela Europa, sob o nome de Pedro Mikhailov, para adquirir conhecimentos e descobrir tecnologias e técnicas que poderiam ser implementadas na Rússia. O imperador do Brasil ficou mais de quinze meses, entre 1876-77, em um périplo em cerca de doze países.
Sem cerimônia, na Biblioteca Imperial, Pedro II, que conhecia russo, conversou com curadores, pesquisadores russos, e, em outras ocasiões, estrangeiros, egiptólogos, assombrando a vários desses com seus conhecimentos, discutindo sobre trechos controversos de publicações e de suas traduções.
Visitou diversas igrejas e universidades, recebeu muitas coleções de livros e diplomas de membro honorário da Academia de Ciências e da Universidade de São Petersburgo.
Junto ao grão-duque Konstantin Nikolaevich, irmão do czar, visitou os palácios de Tsarskoye Selo, próximo da capital. De São Petersburgo, foi para Moscou, onde visitou o Kremlin exatos 64 anos depois da entrada de Napoleão nele. Novamente correu institutos, feiras, palácios e museus, e achou Moscou a mais bela cidade que conhecera até então.
No Teatro Bolshoi assistiu à ópera de Bellini: "A sonâmbula". Até de uma festa cigana o imperador participou, que se seguiu à um jantar tipicamente russo organizado pelo governador de Moscou em sua homenagem.
Visitou também o Monastério de Troitza-Serghiev, o mais importante da Rússia e centro nacional de peregrinação a São Sérgio. Ainda em Moscou, uma recepção musical foi organizada na casa do diretor do Conservatório Musical, o pianista e compositor Anton Rubinstein. De partida para a Crimeia, passaram pela Ucrânia e visitaram Kiev e outras cidades.
O imperador viu o contraste de etnias, credos, costumes, climas, paisagens, não muito diferente do que, em escala proporcional, os olhos estrangeiros reservavam a respeito do Brasil. De Odessa partiram para Livadia, para enfim visitar a família imperial russa.
A região de Yalta e boa parte da região litorânea da Crimeia era o local tradicional de férias dos Romanov e da aristocracia russa devido ao clima aprazível. Ali D. Pedro II e o czar Alexander II se conheceram, e o último levou o brasileiro em seu iate para ver os cenários da Guerra da Crimeia, que mobilizara a opinião pública mundial. Ele pôde conhecer de perto a campina a qual foi palco da Brigada Ligeira - uma vitória russa na Batalha de Balaclava -, eternizada em poema por lord Tennyson.
A década de 1880, todavia, seria trágica para os dois homens.
Em 1881, Alexander II seria assassinado em São Petersburgo num atentado a bomba. E em 1889, Pedro II seria exilado e expulso do Brasil para sempre".
Diário de Pedro II do Brasil
“Estou sendo muito bem tratado na Rússia, porém muitos assuntos são proibidos e isso me incomoda muitíssimo! Aqui diferentemente do meu Brasil onde temos uma constituição severa e um parlamento formado por eleições, eles são absolutistas. Ainda acham que são monarcas por obra de Deus, um pensamento que nem meu avô mais o tinha. As construções reais e palácios são de uma opulência assustadora. Tudo é ornado com ouro e diamantes, até as vestimentas masculinas e os grandes vestidos femininos da aristocracia. Como a Sra. Barral sempre me lembra em nossas cartas a vergonha da escravidão no Brasil e concordo plenamente com ela, mas aqui não tem constituição severa e muito menos parlamentares que decidem em sua maioria de votos o futuro do meu Brasil. Aqui o absolutismo é fato e aclamado por quase todos! Não tive oportunidade de falar sobre tal assunto com o Czar até agora e percebo que não terei essa oportunidade até o final da viagem. Seu eu tivesse o poder absoluto que possuem aqui, tinha mandado todos as favas e feito a abolição ainda em meus 14 anos de idade. Mas se Deus existe como acho que existe ainda verei meu Brasil livre dessa vergonha antes que meus olhos se fechem para sempre”
Fonte: Facebook Pedro II do Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Atenção:
Comentários ofensivos a mim ou qualquer outra pessoa não serão aceitos.