Jairo Carioca - Eleger-se deputado federal não é coisa impossível para ninguém. Tarefa mais difícil é a de explicar como fazer isso com uma estrutura mínima de campanha, ganhando no peito e na raça, como diz o ditado popular. Assim o deputado federal eleito, Major Rocha (PSDB) classificou sua vitória nas eleições deste ano. Com 23.466 votos, ele foi o mais votado da oposição. Conseguiu ficar à frente de candidatos com padrinhos fortes como Jéssica Sales e Flaviano Melo (ambos do PMDB), Léo de Brito e Sibá Machado (os dois pelo PT).
Enganado pela executiva nacional, Rocha ainda enfrentou o ‘fogo amigo’, perdeu apoio de aliados do próprio partido e foi boicotado até no tempo de televisão. Prefeitos tucanos das cidades de Assis Brasil, Epitaciolândia (Alto Acre), Senador Guiomard (Baixo Acre) e Santa Rosa do Purus (Juruá), apoiaram candidaturas concorrentes pelo PSD, PSC e PT.
“Minha alternativa foi colocar o pé no chão e gastar sola de sapato. Andei bairro por bairro em Rio Branco, busquei apoios de lideranças nos 22 municípios e optei por fazer uma campanha pedindo voto e olhando nos olhos das pessoas, mantendo um diálogo aberto, direto e honesto, acreditando no trabalho que eu fiz como verdadeira voz da oposição” comentou Rocha.
Aos 45 anos, casado com Selma Freitas Rocha, pai de 2 filhos, o atual deputado estadual foi office-boy do ex-governador Flaviano Melo. Antes de ingressar na carreira de militar, ainda trabalhou como repórter e passou pelas redações dos principais jornais escritos em Rio Branco. Na Policia Militar, especializou-se em Direitos Humanos pela Cruz Vermelha e de Comando de Operações Aéreas. É bacharel com pós-graduação em Segurança Pública.
Sua trajetória política começou exatamente com sua luta em defesa dos militares do Acre. Como ex-presidente da AME foi preso por determinação do Comando da Policia Militar do Acre, depois de afirmar, em entrevista, que a Constituição Federal garante a todos o direito a manifestação pacífica. Detido, Rocha fez greve de fome em favor dos direitos da categoria, episódio que na opinião de especialistas políticos, garantiu a sua primeira eleição, como deputado estadual, em 2010, eleito com 4.228 votos.
Na Assembleia Legislativa do Acre se tornou líder da oposição, presidiu a Comissão de Legislação Participativa ajudando a encaminhar o projeto de lei que previa a redução de impostos na cobrança da taxa de energia elétrica em todo o Estado e presidiu a Frente Parlamentar Estadual em Defesa da Defensoria Pública.
Em defesa dos militares, policiais civis e operadores da segurança pública, foi autor do projeto que institui o Dia do Militar [30 de junho] e do projeto de lei que cria o novo código de ética das instituições militares do Acre. Também propôs o projeto que transforma em pecúnia indenizatória as licenças especiais e usufruídas por policiais e bombeiros militares, agentes penitenciários e agentes socioeducativo, medida que ajuda o governo a resolver o déficit de profissionais na área de segurança pública e no combate à violência.
O parlamentar tucano surpreendeu quando encampou uma das maiores lutas de seu mandato em favor das comunidades do Projeto de Manejo Antimary, localizado nos municípios de Bujari e Sena Madureira. A denuncia conhecida como “Golpe Verde no Acre” teve repercussão nacional e internacional, foi replicada na Revista Isto É e encaminhada ao ambientalista Al Gore (que foi vice-presidente na administração de Bill Clinton).
Autor de leis de controle da gestão pública, como a que obriga o Estado a identificar veículos e prédios locados e a prestação de contas dos recursos recebidos pelas Organizações Não Governamentais, Rocha manteve luta incansável em defesa do controle dos gastos públicos. Atuou também em áreas importantes como saúde e educação. Foi autor da lei do autista e do projeto que obriga o Estado a contratar somente em 25% a quantidade de professores temporários.
Com estilo discreto e o diálogo honesto com as pessoas, ele acredita que sua atuação firme como oposição o credenciou para a Câmara dos Deputados. Rocha foi eleito por dois anos consecutivos como destaque no Prêmio Rubedina Braga e, em 2013, como deputado mais atuante, pesquisa feita por internautas.
Fortalecendo a bancada da segurança pública, Rocha prometeu continuar em Brasília a batalha pela equiparação da remuneração dos militares de todas as unidades da Federação em relação aos valores praticados no Distrito Federal. E quer ir mais além, trabalhar pelas reformas política, do código penal e a reforma tributária e fazer um mandato em defesa do Acre e das cidades.
Veja na íntegra a entrevista concedida pelo deputado eleito.
ac24horas – O senhor chegou a ser considerado como fraco concorrente, principalmente depois que veio à tona a quebra de acordo da executiva nacional. O que foi mais difícil nessa campanha?
Major Rocha – Eu estava preparado para uma reeleição. O convite feito pela Executiva Nacional para uma disputa na Câmara dos Deputados veio com a desistência da Marcia Bittar no cenário regional. Para quem a vida inteira fez política partidária séria, tinha as garantias dadas pela executiva nacional e avalizadas pelo candidato ao governo Marcio Bittar, como certas. Fazer um segundo replanejamento de campanha foi muito difícil. Por muitas vezes desliguei meu telefone celular, cheguei a pensar em desistir. Mas como já estava no jogo, não tive alternativa se não acreditar na plataforma construída nos quatro anos de mandato.
ac24horas – Além desses fatores o senhor ainda perdeu apoio de prefeitos do seu próprio partido. Teve tempo de televisão boicotado. O senhor guarda alguma mágoa desses episódios?
Major Rocha – Hoje eu vejo que o reflexo dessa infidelidade repercutiu mais na eleição majoritária do que em minha própria votação. Logicamente que esse foi outro momento duro. Eu ajudei os prefeitos de Assis Brasil, Epitaciolândia e de Senador Guiomard nos momentos em que eles mais precisaram do meu apoio como deputado estadual. Dei com uma mão e esperava receber com a outra. Tive mesmo que chamar o Marcio Bittar e exigir pelo menos um tempo de TV e um programa com mais qualidade. Existia um boicote por parte de militantes tucanos que não viram minha candidatura como um projeto de partido. Lamentável. Não guardo mágoas, vou fazer um mandato para toda população do Acre independente de onde eu tive ou deixei de ter apoio. Levo essa lição como dever de casa. Precisamos fortalecer a política partidária no Brasil. Ao renovar 75% da bancada estadual, o eleitor acreano deu um recado para essa política rasteira.
ac24horas – O que o senhor quer dizer quando afirma que o reflexo dessa postura dos prefeitos atingiu mais a campanha do Marcio Bittar?
Major Rocha – É a leitura das urnas. O caminho para o Marcio Bittar nesse Segundo Turno era pra ser bem mais curto se não tivesse prevalecido em algumas regiões a familiocracia. No Alto Acre, se tivéssemos ficados unidos, por um projeto de partido, os resultados seriam diferentes. O eleitor acreano não gosta de trairagem. Em outros municípios em que existiu empenho, o reflexo negativo ocorreu pela crise financeira enfrentada pelos gestores. Alguns ainda estão se recuperando do rombo deixado pelos prefeitos anteriores. Foram massacrados pela política de ódio e desprezo do Sebastião Viana que não governa para o Acre, mas para grupos políticos. Isso tudo precisa ser colocado na balança.
ac24horas – O senhor acredita que mesmo assim é possível reverter a situação no Segundo Turno?
Major Rocha – É outra eleição. Contamos com o apoio forte do senador eleito com a maior votação da história política desse estado: o Gladson Cameli. O apoio do ex-candidato Tião Bocalom. A insatisfação dos deputados que ficaram fora do guarda chuva estendido pelo governador. Agora creio que alguns prefeitos devem se empenhar mais na campanha majoritária. Se somarmos os votos de oposição observaremos em todo o estado um desejo de mudança. É preciso errar menos. Eu vou continuar fazendo política partidária séria e honesta, lutar com todas as minhas forças para elegermos o nosso governador.
ac24horas – O senhor esperava uma perseguição maior em sua campanha por parte do Palácio Rio Branco? A impressão que dá é que a coisa correu solta.
Major Rocha – Tentaram repassar a ideia de que minha campanha seria milionária. Quem não se lembra da estória do dinheiro que eu recebi em um hotel? A intenção naquele momento foi de me sufocar jogando meus apoiadores contra mim. Foi difícil, tive que dar muitas explicações. O Sebastião Viana jogou tudo que tinha para vencer a eleição no primeiro turno. Acabou criando sérias dificuldades para ele mesmo. Precisa administrar a fúria dos aliados que ficaram de fora da Assembleia. Que bom que com relação à minha candidatura eles entraram no oba, oba, no jargão do já perdeu.
ac24horas – O senhor disse que pensou em desistir, mas em qual momento o deputado acreditou que poderia ganhar as eleições?
Major Rocha – Como não tinha dinheiro, a estratégia foi fazer uma campanha silenciosa. Eu e minha equipe, meus pais e minha família acreditávamos na vitória. Esse sentimento foi cada vez mais forte quando coloquei o pé no chão, gastei sola de sapato e de bairro em bairro, de cidade em cidade comecei a pedir votos olhando nos olhos das pessoas, mantendo um diálogo aberto, direto e honesto. As manifestações de apoio nos encorajavam a cada momento. Deu certo.
ac24horas – O que esperar agora do Major Rocha deputado federal. O senhor tem ideia do tamanho dessa responsabilidade?
Major Rocha – O desafio é do tamanho do amor que eu tenho pelo Acre. Quero fazer um mandato para todos, abrir as portas do meu gabinete para os prefeitos dos 22 municípios independente de cor partidária. Estar presente nos maiores debates e nas reformas que o Brasil precisa.
ac24horas – Que mensagem o senhor deixa aos eleitores que lhe elegeram e ao povo do Acre.
Major Rocha – A mensagem é de agradecimento. Eu gostaria de dar um abraço a cada um dos 23 mil eleitores. Vou lutar para honrar cada voto que recebei e cumprir cada promessa de campanha. Quero agradecer minha esposa Selma que foi uma grande guerreira nesse processo. Meus filhos, minha equipe, enfim, todos que acreditaram nesse projeto e que foram vitoriosos junto comigo.
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