João Gutierres Valério tinha um acordo com Salvador de Sá pelo qual pagaria imposto por cada escravo desembarcado no porto

Em 1579, Valério arrendou na cidade terras que pertenciam aos jesuítas. Lá, o governador Salvador Correia de Sá havia feito erguer um trapiche, moenda de cana-de-açúcar movida a força de animais. Valério o comprou. Dizia, e assim está no contrato, que agia como procurador, governador e conquistador de Angola, Paulo Dias Novais.
Aquele foi o primeiro engenho de açúcar carioca. E açúcar valia dinheiro. O do Nordeste, de melhor qualidade, rumava para a Europa. Mas o objetivo de Valério, e de muitos outros nos anos seguintes, seria levar o açúcar para Luanda e usá-lo para escambo. Numa carta, Novais deixou registrados elogios ao açúcar do Rio.
Em 1583, Valério ganhou a posse da Ilha das Cobras. Foi doação do governador carioca. É possivelmente onde seus navios desembarcavam os escravos, que quase nunca ficavam no Rio. Este era o porto do intermediário. De lá, os homens eram levados para Buenos Aires e então, Rio da Prata acima, para as minas bolivianas. Valério tinha um acordo com Salvador de Sá pelo qual pagaria imposto por cada escravo desembarcado.
A rota Rio-Angola foi tão popular, nos primeiros anos da cidade, quanto a Rio-Lisboa. São Paulo de Luanda fora fundada por Novais em 1576, quando o Rio tinha 11 anos. Nasceram praticamente juntas. A posição geográfica de uma e de outra, além das correntes marítimas, favoreciam o porto do Rio para este tráfico. E como era açúcar o que os cariocas tinham para oferecer, assim foi que a base inicial do negócio foi estabelecida. Não havia troca de moeda. Em 1588, o jesuíta Antônio de Matos citava ter visto muitos “etíopes” no Rio de Janeiro.
O negócio prosperou muito, mas não para Valério. Em 1589, suas terras foram a leilão público.
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