Jovens desembarcaram em Sena Madureira em 1921, após enfrentarem uma viagem de três meses. Com dificuldades, irmãs fundaram colégios no interior e capital, segundo o livro 'Vivências Missionárias no Acre'.
Maria Marinela Brizzi e Maria Regina Mollinette lançaram livro contando história da chegada das Servas de Maria ao Acre (Foto: Quésia Melo/G1 )
Quésia Melo - No livro "Servas de Maria Reparadoras: Vivências Missionárias no Acre", as irmãs Maria Marinela Brizzi e Maria Regina Mollinette resgatam a história da chegada da congregação que foi enviada ao Acre com a missão de educar as mulheres. Um grupo formado por seis jovens, sendo cinco freiras e uma vocacionada, enfrentou três meses de viagem saindo de Turim, na Itália, para as cidades de Londres e Paris até pegarem um navio em Nova Iorque, desembarcarem em Belém (PA) até chegarem a Sena Madureira, no interior do Acre, em 1921.
Brizzi conta que os Servos de Maria foram fundados em 1900 na Itália. Em 1919, o papa Bento XV confiou a prelazia Acre Purus, atual diocese de Rio Branco, que vai desde Assis Brasil até Manoel Urbano, aos Servos de Maria que chegaram no estado em 1920, quando somente padres de lábrea e de Manaus visitavam a área uma vez por ano. O primeiro Servo de Maria no Acre foi o bispo Dom Próspero Gustavo M. Bernardi, que está enterrado na nossa Catedral de Rio Branco.
Foi Bernardi que mandou uma carta à fundadora das Servas de Maria perguntando se tinham irmãs para mandar em missão ao Acre, sobretudo no setor da Educação. Na época, segundo Marinela, os rapazes de Sena Madureira saíam do município para estudar em universidades da Europa, enquanto as mulheres precisavam aprender a cozinhar, bordar, corte costura, pintura e até tocar instrumentos musicais como o piano.
“A nossa fundadora, madre Elisa, teve muita coragem. Ela mandou uma carta para todas as irmãs dizendo “há algumas irmãs que se sintam disponíveis para ir até no Acre, lá na Amazônia?” e a resposta foi muito grande, muitas se ofereceram. Bernardi foi, claro, e pediu à madre fundadora que mandasse irmãs para a educação”, conta Brizzi.
Porém, ao chegarem no Acre, as Servas de Maria enfrentaram várias dificuldades e antes de oferecer educação assumiram vários tipos de trabalho, costurando e bordando para fora e até trabalhando na roça para se sustentarem.
Livro mostra trajeto das primeiras Servas de Maria que foram enviadas ao Acre (Foto: Quésia Melo/G1 ) |
“Tiveram uma estadia muito penosa, pois chegaram e foram morar em uma casa de palha e depois, com ajuda da prelazia, construíram o Colégio Santa Juliana, em Sena Madureira. Foi ali que começou mesmo a educação formal no município. Hoje somos consideradas as irmãs pioneiras na educação no Acre, porque as irmãs foram chamadas para a educação”, destaca Brizzi.
Irmã Juliana
O resgate de toda essa história só foi possível após Brizzi e Mollinette trabalharem dois anos pesquisando, ouvindo relatos e utilizando crônicas das comunidades paroquiais. O livro é dividido em duas partes, a primeira relata a viagem das Servas de Maria até o Acre e os desafios que enfrentaram.
A segunda conta a história da irmã Juliana, que foi umas das primeiras vocacionadas no Acre.
Juliana era chamada de Maria, mas após entrar para a congregação mudou o nome. Mollinette conta que ela viveu até os 103 anos e morreu às vésperas de completar aniversário.
“Ela nunca havia visto irmãs, mas sentia o chamado de Deus dentro dela e superou muitas dificuldades até entrar para a congregação. Ela teve uma vida exemplar, que vamos deixar para as novas gerações esse testemunho de fé e vida religiosa”, destaca.
Rio Branco
Após atuar em Sena Madureira, a irmã Juliana foi encaminhada para Rio Branco e, junto com a Madre Evangelista, construiu o Colégio São José com ajuda de outras irmãs. Mollinette conta que, segundo relatos, as irmãs passavam a noite quebrando tijolos para que os trabalhadores tivessem material para a construção pela manhã.
Para enfrentar as dificuldades, a irmã Juliana decidiu dar aulas de bordado , corte e costura em uma pequena casinha, onde hoje fica a Catedral Nossa Senhora de Nazaré, em Rio Branco, e que, na época, pertencia ao prefeito. Além disso, não tinham água filtrada e bebiam água retirada de um poço cheio de entulhos, ferviam, coavam e usaram para beber e fazer comida.
“Teve uma coisa muito interessante que nos relataram. As alunas durante o intervalo caminhavam pelo local e viram atrás dessa casinha um monte de sacas com material esquisito dentro. Era o cimento para a construção da Catedral. Elas foram dizer para irmã Juliana que tinham visto uma coisa fora do comum e não sabiam o que era. Nisso, a irmã Juliana respondeu: “minhas queridas, é o progresso que está chegando”. Depois disso o São José foi crescendo e elas partiram para o Rio de Janeiro e outros estados abrindo colégios e hospitais”, relata Brizzi.
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