28 de set. de 2020

Preço do arroz mina discurso de Lula - Vale a pena ler de novo - 21/10/2006

Mauro Zafalon - Uma dona-de-casa paga R$ 5,90 pelo arroz Tio João e em 2003 ela pagava R$ 13. Vai falar mal de mim para essa mulher..." A frase é do presidente Lula e foi dita há um mês.

Pela evolução dos preços do produto nas últimas semanas, a argumentação do candidato-presidente deve ser revista. É que o pacote de arroz pode voltar a R$ 13 ainda neste ano.

"O arroz está com alta galopante e preocupante", afirma Romeu Fiod, especialista no produto. Negociada de R$ 17,50 a R$ 18 há poucos meses, a saca de 50 quilos do arroz em casca subiu para R$ 23 a R$ 24 nos últimos dias.

As negociações travaram e os preços pedidos pelos produtores para as indústrias de beneficiamento vão de R$ 25 a R$ 26. Se esses preços se confirmarem e forem repassados para o varejo, o consumidor voltará a pagar de R$ 12 a R$ 13 pelo pacote de cinco quilos do produto de melhor qualidade, diz Fiod.

Nas últimas semanas, houve uma queda-de-braço entre fornecedores da matéria-prima e o varejo, que não quer pagar os novos preços. O arroz sempre foi um "produto chamariz" para as redes de supermercados atraírem clientes.

Apesar dessa morosidade do varejo em reajustar os preços, o aumento no atacado vai forçar o reajuste para os consumidores, diz Fiod. Segundo ele, o pacote de cinco quilos de arroz varia de R$ 5,80 a R$ 8,50, dependendo da qualidade.

Não há falta de arroz. A produção e o consumo estão equilibrados neste ano. A produção de 11,6 milhões de toneladas, mais as importações de 1,2 milhão da Argentina e do Uruguai e os estoques iniciais ("carry over") da safra 2004/5, de 2,2 milhões, é suficiente para o consumo previsto de 12,5 milhões a 12,7 milhões.

Estoques

O aperto nos preços neste momento ocorre porque os produtores foram obrigados a negociar o arroz logo após a safra para pagar dívidas. Com isso, os preços caíram e o valor recebido não foi remunerador para os agricultores.

Mantêm estoques hoje produtores e cooperativas com boas condições financeiras e que não estão dispostos a vender o produto, à espera de preços melhores. É difícil prever o total desses estoques, diz Fiod.

Já os estoques oficiais somam 1,27 milhão de toneladas, sendo que 906 mil estão no Rio Grande do Sul. Para o analista, o governo terá de repor ao menos 100 mil toneladas mensais dos estoques para manter os preços equilibrados. Caso contrário, o arroz volta a subir e terá forte peso na inflação.

O governo está atento a essa movimentação de preços e marcou para a próxima semana uma reunião com produtores e beneficiadores. "Vamos estabelecer um padrão de preço para intervir no mercado", afirma Sílvio Farnesi, da Secretaria de Política Agrícola, do Ministério da Agricultura.

Segundo o técnico do governo, os preços estabelecidos nessa intervenção não podem ter muita discrepância dos do mercado. Para ele, é preciso estipular um preço a partir do qual o governo possa intervir, colocando estoques em leilão.

Consenso

Farnesi espera que, na reunião da próxima semana, chegue-se a um consenso como o ocorrido na quinta-feira em São Paulo, quando foram acertados os parâmetros para o leilão de milho. Foi estabelecido que o governo abastecerá os principais mercados consumidores quando o preço atingir R$ 17 por saca.

A movimentação dos preços do arroz já começa a chegar à inflação, mas ainda de forma lenta. Há um mês, a Fipe mostrava queda de 1,3% no preço do produto em 30 dias em São Paulo. Nesta semana, a queda em 30 dias é de apenas 0,19%.

Nos últimos 12 meses, o arroz teve alta de 2,1% nos supermercados de São Paulo e a inflação no período foi de 1,9%. Desde janeiro de 2000, o arroz subiu 43%, e a inflação média foi de 49%, segundo a Fipe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Atenção:
Comentários ofensivos a mim ou qualquer outra pessoa não serão aceitos.