11 de jul. de 2013

ATMOSFERA DO FUTURO DIMINUIRÁ PRODUÇÃO DE ALIMENTOS, DIZ PESQUISA DA USP

UOL/Alessandra Morgado 
2008: Mulheres de Uganda carregam sacos de comida doados em uma das áreas mais secas e menos desenvolvidas do leste da África. Esta também é uma das áreas mais afetadas pelo aquecimento global e sofre com a falta de alimentos AFP/Walter Astrada

Em maio foi atingido o recorde de concentração de dióxido de carbono no ar, 400 partes por milhão -- e este patamar deve ser comum nos próximos anos. Mas na prática, o que ele significa? Redução na produção agrícola de alimentos como o arroz, feijão, soja, milho e trigo, segundo pesquisadores do Cena (Centro de Energia Nuclear na Agricultura), unidade da USP (Universidade de São Paulo) em Piracicaba, que simularam um ambiente saturado de CO2.

Já a cana-de-açúcar e as pastagens teriam incremento na produção com o aumento da concentração do CO2. Mas antes de ver um "lado bom", Adibe Luiz Abdalla, professor do Cena/USP e orientador do trabalho, faz um alerta: a braquiária, gramínea largamente utilizada para alimentação de gado, apresentou crescimento 20% superior do que as plantas em ambiente normal, porém esse crescimento também tornou o capim menos digestível para o animal.

Com mais gás carbônico, a planta produz 5% menos folhas e tem os talos, que têm fibras indigestas,  aumentados em 8%. Assim, a braquiária perde valor nutricional e aumenta ainda mais a emissão de metano pelos bovinos, o que significa mais gases do efeito estufa.

Os cientistas criaram uma área controlada onde a concentração do dióxido de carbono na atmosfera seria de 550 ppm (parte por milhão), o que corresponde a estimativa que seria alcançada em 30 anos. Atualmente, temos entre 370 e 390 ppm na atmosfera.

"A elevação de CO2 aumenta a fotossíntese e a produção de biomassa na braquiária", explica Abdalla. Porém, o algodão também sofrerá com uma menor produtividade.

Outra pesquisadora da Embrapa Jaguariúna, local onde foi feito o experimento, está avaliando o impacto no café e a qualidade do grão. Já se sabe que com o ambiente modificado a planta pode crescer e produzir mais, contudo a qualidade do grão e a fragilidade para doenças também tendem a aumentar, o que coloca os pesquisadores em alerta.

O campo da Embrapa, que fica no município de Jaguariúna/SP, é onde está localizado este experimento. A área possui 12 redondéis, com 10 metros de diâmetro, nos quais seis são equipados com injeções de C02 em seu interior, criando a atmosfera de CO2 elevado. A outra metade possui atmosfera ambiente. 

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