4 de jan. de 2018

Presidente contra as reformas pode jogar o Brasil novamente para o fundo do poço, afirma Kawall


"Se nós não levarmos essa eleição a sério e elegermos o populismo, o Brasil não irá sobreviver", projeta o economista-chefe do Safra


Depois de passar pela pior recessão já vista em 2016, o Brasil conseguiu sair do fundo do poço no ano passado. Porém, a depender do resultado das eleições para presidente deste ano, podemos retornar em uma situação ainda pior: "a eleição de um presidente contra as reformas pode jogar o Brasil novamente para o fundo do poço, inclusive para algo muito pior do que vimos na última recessão", assim afirmou Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra e ex-secretário do Tesouro.

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Em entrevista exclusiva para InfoMoney, Kawall se mostrou otimista com a recuperação da economia, movimento que será liderado pela ponta do consumo, assim como estima uma inflação controlada e juro fixado em 6,75% ao longo de 2018, mas tudo isso pode ser colocado em xeque com o resultado das eleições.

Confira os principais trechos da entrevista:

Aprovação da reforma da Previdência
“Este não é o nosso cenário-base para este ano, na verdade acreditamos que há uma chance de 20% de aprovação do texto em pleno ano eleitoral, já que estamos falando de uma medida bastante impopular. Para nós, Previdência somente 2019, com o quadro eleitoral já definido. Por outro lado, o esforço que o governo empreendeu no final de 2017 para tornar a reforma mais ‘fácil de engolir’ pela população, deixando de lado o foco estritamente econômico e explicando que a reforma tem como objetivo reduzir a injustiça entre as aposentadorias pagas para o alto escalão do setor público, mantém acesa a chama de esperança de que o governo consiga passar o texto na Câmara em fevereiro, embora não seja nosso cenário-base”.

Rebaixamento do rating
“Caso aprovada [a reforma da Previdência] em fevereiro, o Brasil não será rebaixado e no cenário mais otimista as agências de classificação de risco poderiam retirar a perspectiva negativa do rating brasileiro, o que seria um grande alívio para os mercados. Agora, concretizado o cenário-base (somente em 2019), essa derrota do governo não será encarada da mesma maneira pelas agências de classificação de risco. Pelo quadro atual, a chance de rebaixamento pela S&P (Standard & Poor's) ultrapassa 50%. Já no caso das outras duas agências [Fitch Ratings e Moody´s], não vejo uma indicação tão clara como da S&P e apostaria que elas provavelmente aguardariam o desenvolvimento do quadro político, como o andamento da economia, para tomar uma decisão”. 

Expectativas econômicas para 2018
“Para este ano, nossa expectativa contempla um crescimento para o PIB (Produto Interno Bruto) de 2,5%, frente 0,9% no ano passado, recuperação que será liderada pelo consumo, especialmente por bens duráveis, que está mais ligado ao financiamento, com investimento se recuperando aos poucos na indústria. Na nossa opinião, os setores de construção civil e infraestrutura vão demorar mais para iniciar uma retomada”.

 “A inflação deve encerrar 2018 em 4,1%, ainda abaixo do centro da meta de 4,5%. Mesmo com o crescimento projetado para a economia e a política monetária expansionista, acreditamos que a inflação será bastante comportada neste ano tendo em vista que o tamanho do hiato do produto (quanto a demanda da economia está distante de sua capacidade máxima de produção) ainda é muito grande, como não esperamos uma melhora significativa do desemprego, o que permite que a inflação permaneça controlada em 2018”.

“O Copom (Comitê de Política Monetária) deve cortar a Selic em 25 pontos-base na primeira reunião de 2018 para 6,75% ao ano e encerrar neste nível. Uma alteração da taxa básica de juros pelo BC não dependerá do futuro da reforma da Previdência, mas sim o resultado da eleição, pois aí teremos uma mudança quanto ao horizonte das reformas para os próximos anos”.

Quadro fiscal
“Apesar de extremamente complexo, o quadro fiscal de 2018 não é mais caótico como dos últimos anos, pois agora nós temos gestão sobre as contas públicas em consonância com o comprometimento das metas fiscais. Obviamente, a aprovação da reforma da Previdência é importante para voltarmos ao superávit, mas não é a única medida que governo tem que tomar, que a partir das eleições deverá rediscutir suas despesas obrigatórias”.

“Portanto, com maior comprometimento com as metas, melhores expectativas para a economia e o pagamento de R$ 130 bilhões de dívida por parte do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) à União, esperamos uma melhora da dinâmica da Dívida/PIB em 2018”.

Risco eleitoral
“A eleição de um presidente contra as reformas pode jogar o Brasil novamente para o fundo do poço, inclusive para algo muito pior do que vimos na última recessão. Como uma vez disse o ex-ministro da Fazenda, Delfim Netto, se nós não levarmos essa eleição a sério e elegermos o populismo, o Brasil não irá sobreviver. Nós estamos no limite no campo das contas públicas e do descrédito internacional, já que estamos discutindo se vamos sofrer um novo rebaixamento. Não podemos insistir nos mesmos erros”. 

Lula presidente
“Caso eleito, não acredito que Lula realizará um tipo de governo intervencionista como tivemos na era Dilma, ele buscaria uma maior aproximação junto ao empresariado e ao mercado. A grande diferença será a realidade econômica que o petista enfrentará, bem diferente de 2003, quando tínhamos as ‘contas em dia’. Esse choque de realidade será o grande desafio para ele caso eleito, pois, inevitavelmente, será obrigado a discutir o andamento da agenda de reformas para resolver o quadro fiscal brasileiro, agenda que não faz parte dos planos políticos do PT”.

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