1 de nov. de 2018

Quando o desemprego cai, a esquerda esquece da reforma trabalhista


(Shutterstock)

Pedro Menezes - Entre o fim de 2017 e o meio desse ano, boa parte da esquerda usou um suposto aumento do desemprego de modo oportunista. Nos últimos meses, com o desemprego em indiscutível queda, a associação entre reforma trabalhista e resultados do desemprego parou. As manchetes já não relacionam uma coisa à outra e os números divulgados pelo IBGE não viralizam em redes sociais.

Desde novembro de 2017, a esquerda brasileira escolheu um argumento de combate à reforma trabalhista: a medida estaria causando aumento de desemprego. Escrevi sobre o assunto em 16 de agosto, num dos primeiros textos deste blog.

Nos debates, esse discurso foi repetido por Ciro Gomes e Guilherme Boulos (Haddad ainda não era candidato). A irresponsabilidade de órgãos de imprensa teve seu papel. Veículos como Folha de São Paulo e O Globo publicaram manchetes caça-cliques associando os resultados do desemprego à reforma trabalhista. Ciro chegava a dar um número: a reforma seria culpada pelo desemprego de 500 mil brasileiros.
No texto de agosto, meu argumento era o seguinte:

A reforma entrou em vigor em novembro de 2017, os dados disponíveis chegavam até junho. De fato, entre novembro de 2017 e junho de 2018 houve um aumento de desemprego semelhante ao apontado por Ciro

O que Ciro, Boulos, Folha e O Globo omitiam é que todos os períodos entre novembro e junho tiveram aumento de desemprego segundo o IBGE. É uma característica do primeiro semestre, desde quando a economia brasileira ia bem.

Se, ao invés de comparar novembro com junho, a análise confrontasse cada mês com seus equivalentes em anos anteriores, a conclusão seria contrária ao que Ciro e Boulos diziam. O desemprego passou a cair justamente quando a reforma trabalhista entrou em vigor.

Portanto, o discurso da esquerda brasileira era equivalente ao de quem, após observar que os novembros de São Paulo são quentes e os junhos são frios, conclui que o aquecimento global não existe. Sem considerar as especificidades de cada mês, a análise diz muito pouco sobre o comportamento do desemprego.

O que mudou desde então? Os resultados perderam essa ambiguidade, porque o desempregou está diminuindo nesse segundo semestre. Os resultados de julho, agosto e setembro foram muito bons para o trabalhador brasileiro. E, justamente quando a situação melhorou, a esquerda brasileira parou de associar reforma e desemprego. O assunto perdeu relevância.

O que aconteceu com o desemprego nos últimos meses?
Quem acompanha o mercado de trabalho brasileira está sempre lidando com duas bases de dados atualizadas mensalmente.

A PNAD Contínua funciona como qualquer outra pesquisa: um funcionário do IBGE pergunta a vários brasileiros se eles estão trabalhando ou procurando emprego, quanto recebem pelo trabalho, etc. Já o CAGED é um cadastro do Ministério do Trabalho que registra em detalhes todas as contratações e demissões no mercado de trabalho formal.

Ambos são importantes por conta da informalidade no mercado de trabalho brasileiro. Muitos trabalhadores não possuem carteira assinada e, portanto, não aparecem no CAGED.

O gráfico abaixo mostra a taxa de desemprego segundo a PNAD Contínua, destacando com linhas vermelhas os meses de novembro de 2017 e junho de 2018, intervalo utilizado por Ciro Gomes em suas críticas às reformas. Como se pode ver, os resultados desde então apontam queda no desemprego, endossando o argumento que defendi em agosto.


A PNAD Contínua de setembro foi divulgada nesta semana e os resultados são positivos.

Nos últimos 12 meses, cerca de 910 mil pessoas entraram na força de trabalho, grupo que reúne empregados e pessoas procurando emprego. O número de vagas de trabalho cresceu ainda mais (cerca de 1,4 milhão de empregos novos), levando a uma diminuição da taxa de desemprego, que foi de 12,4% há um ano para 11,9% no último resultado divulgado.

A renda dos trabalhadores é outra informação importante da PNAD Contínua. Uma medida muito utilizada é a massa salarial real – ou seja, a soma dos salários de todos os trabalhadores em cada período.

A massa salarial real foi de R$ 200,7 bilhões no trimestre terminado em setembro. Um ano antes, esse valor era de R$ 196,4 bilhões. A renda total dos trabalhadores, portanto, está crescendo numa taxa pouco superior a 2% ao ano.

O que aconteceu com o mercado formal de trabalho nos últimos meses?
Para avaliar questões como reforma trabalhista, faz sentido focar nos dados do CAGED. Uma nova legislação afeta apenas as relações formais de trabalho, com carteira assinada. Portanto, faz pouco sentido olhar apenas para os dados da PNAD Contínua, que incluem o setor informal.

Os dados do CAGED desde junho tem sido muito positivos. Nas últimas 3 divulgações, descobrimos que o Brasil teve o melhor julho em 6 anos e os melhores agosto e setembro em 5 anos.

O gráfico abaixo mostra que o terceiro trimestre de 2018 teve a maior geração de empregos formais desde 2013.



A notícia é boa. Mas será que isso ocorreu por causa da reforma trabalhista?

A reforma trabalhista causou o aumento no emprego?
O verbo “causar” é utilizado com extrema cautela em ciências sociais. A mera observação de resultados não nos permite dizer que a reforma causou o aumento do emprego.

A economia voltou a crescer. É provável que isso acontecesse mesmo sem reformas. Além disso, sequer temos certeza sobre o impacto da reforma nas relações de trabalho, dado que não há jurisprudência pacificada no mercado de trabalho. Durante as eleições, diversos candidatos prometeram revogar a reforma e os empregadores não sabiam quanto tempo as mudanças durariam.

Todos esses problemas podem ser contornados, ao menos parcialmente, por métodos estatísticos modernos. Mas isso só será possível dentro de alguns anos, quando a quantidade de dados disponíveis for maior.

Não é possível afirmar que o aumento do emprego se deve à reforma.

Ciro, Boulos e grãos-petistas atribuíam o aumento do desemprego entre novembro e junho à reforma. Eles discordam de mim sobre a cautela necessária para afirmar causalidade. Há poucos meses, estavam confortáveis associando uma coisa à outra.

Se exigirmos coerência ao método científico defendido pelos principais nomes da esquerda brasileira, o correto seria elogiar a reforma agora que os números melhoraram. Infelizmente, aquele papo não tinha nada a ver com ciência. Sempre foi estratégia política para enganar trouxa.

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