23 de dez. de 2008

Tarauacá, onde está o progresso?


Tarauacá, onde está o progresso?

(Isaac Melo)

Saramago tem me inspirado bastante ultimamente, sobretudo depois da instigante leitura de ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, um livro que poderia muito bem ser leitura “obrigatória” em todas as escolas, tanto pela sua relevância quanto pela qualidade, isso se este país se preocupasse em formar cidadãos conscientes e críticos. Mas isso não é bom para o eleitorado. Um dos grandes males de nosso tempo é a cegueira. Não se trata da cegueira física, mas da cegueira daqueles que enxergam, aliás, esta é a mais cruel cegueira que se possa imaginar, uma vez que atua como anestesia dos problemas sociais.

Tarauacá tem vivido numa cegueira nesses últimos tempos: a cegueira de se achar que estamos progredindo. Aqui chamam de progresso pintar beira de rua, asfaltar meia dúzia de ruas (que não passa de obrigação), e outras coisinhas a mais, que qualquer uma liderança comunitária faria muito melhor. A maior parte da população não vive, sobrevive. A maioria das ruas estão cobertas de lama e esburacadas. Impossível manter-se limpo. Enquanto isso muitos se regozijam pelo atual momento pelo qual a cidade passa. Pobres cegos!

Aqui ainda impera a política da barganha, da troca de favores e do medo, o que não é novidade em se tratando de Brasil. Aqui palavras como comunismo ainda causam medo, podendo levar a ruína pessoas ou projetos. Explora-se a ingenuidade do povo com coisas que já estão superadas há séculos, mas que, no entanto, aqui ainda serve como chantagem e vantagem política.

As ruas são amaciadas por grandes carrões, onde desfilam os figurões da cidade. Palmas pra eles que conseguiram com muito trabalho e suor, mesmo que tenha sido dos outros. Só Deus sabe com quantos paus se faz uma canoa, mas aqui eu sei o que é preciso para se tornar um bom fazendeiro. Aqui tem uma vaquinha até boa de leite, pois apesar de ter tantos bezerrinhos que estão sempre mamando, ainda continua com os ubres cheios e a sustentar os currais eleitorais.

Dizia o grande teatrólogo Bertolt Brecht que o pior analfabeto é o analfabeto político. Digo que o pior cego é o cego político, pois tudo que ele realiza é pensando em si mesmo e nos seus próprios interesses, e acha que tudo está bom e que não há necessidade de mudança. Sobrevive da política da retribuição: dá com uma mão enquanto estende a outra para receber. Tarauacá conhece muito bem a política da retribuição, uma vez que, muitos se apropriam da máquina pública para se beneficiar ou fazer a vida.

A cidade parece abandonada pelos poderes municipais, estaduais e até Federal. O que movimenta a cidade é o comércio, que mesmo com preços absurdos, exerce um enorme papel social. Este ano a prefeitura ‘inovou’ e não fez decoração de natal, nem na principal praça. Penso que tenha sido por contenção de gastos, ou o contrário, por terem gastado tudo, já que para alguns o papai Noel chegou bem cedo, em Outubro.

E assim segue a vida na Terra da Mulher Bonita: muitos com nada ou quase nada e poucos passeando em grandes carros e cuidando de boiadas. Não volto contente para este pedaço de chão tão maravilhoso, nem poderia, enquanto as desigualdades sociais e essa política diabólica, não ceder lugar à justiça e a dignidade das pessoas. O que estou vendo é um sistema podre e injusto, que está matando aos poucos e excluindo a maior parte da população dos direitos básicos, assegurados constitucionalmente, a cada cidadão e cidadã para o desenvolvimento pleno de suas vidas. Não! Não vejo progresso nenhum. E como eu gostaria de vê-lo! E como eu gostaria de ser mentiroso! Mas poucos enxergam ou querem enxergar. Meu pedido para este final de ano é que cada tarauacaense possa abrir os olhos e assim, afastar tantas cegueiras que os tem impedido de ver verdadeiramente, para que assim a máscara de tantos possa cair por terra…

Fonte: Blog Alma Acreana

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