13 de jun. de 2012

O MUNICÍPIO DE TARAUACÁ. DA BELLE ÉPOQUE AOS DIAS ATUAIS PARTE – II

Chata - Sorocaba ou Campinas

TRANSPORTE FLUVIAL

O historiador Leandro Tocantins dizia sabiamente que na Amazônia “o rio comanda a vida”. No Acre, os inúmeros igarapés e rios, historicamente, constituíram vias de penetração, comunicação, fonte alimentar e divertimento.
Navio Bandeira da firma Leal Maia
No início do desbravamento, ainda não existia o avião que só veio aparecer em 1906, com a criação do 14 Bis por Alberto Santos Dumont, o que garantia o abastecimento das empreitadas dos nordestinos eram as chatas,  para Tarauacá vinha muito as de nomes “SOROCABA” e  “CAMPINAS”  os navios, gaiolas, batelões, canoas e etc. Até pouco tempo no período das chuvas o abastecimento do município era feito por balsas de até 600t.
Naquela época os seringais mais distantes eram abastecidos e escoados a produção pelos próprios barcos do seringalista, bem como também os chamados regatões que mantinham contato com os seringueiros às vezes suavizando um pouco a escravidão que esse tinha com o patrão, vale lembrar aqui que esses regatões eram utilizados mais frequentemente, por Sírio-Libaneses e Turcos, temos como exemplo em Rio Branco os Faraht e aqui mesmo no município o Sr. Baget Eleamem, esse surpreendendo as pessoas da região com a facilidade que aprendeu a falar o português e a jogar tarrafa.

Mas pode-se imaginar o tamanho das dificuldades encontradas pelos imigrantes. Era preciso percorrer rios desconhecidos, conviver com hábitos alimentares diferentes, enfrentar doenças que não tinham como ser tratadas em regiões tão distantes como Vila Seabra da época. Muitos morreram ou nunca se adaptaram totalmente à região, como o memorável Humberto Turco, que nunca aprendeu a falar direito o português.

De seringal em seringal, colocação em colocação, os árabes foram se espalhando, crescendo, construindo família e patrimônio. Muitos ainda hoje acreditam que o desenvolvimento de Tarauacá só foi possível devido á força do comércio essencialmente árabe.

O Sr. Chico Sérgio revela seu orgulho ao contar que “Quando cheguei a Tarauacá não tinha nada. Dormia na casa do sogro numa rede e a mulher em outra, em cima. Tudo que tenho construí aqui. Minha esposa é daqui, meus filhos nasceram aqui e tudo que tenho está aqui”. Atualmente ele é uma das pessoas mais bem sucedidas de Tarauacá e tem distribuidora de bebidas, gás e combustível, além do tradicional comércio de gêneros alimentícios, eletrodomésticos e tecidos, bem ao estilo sírio-libanês.

Isso pode ser comprovado também pelos jornais locais que entre as décadas de 10 e 40, eram dominados pelos anúncios comerciais de árabes. Eram comuns os nomes de Muni Bissat, Raimundo e Humberto Turco, Antonio Asfury, Abdon, Eleamen, Tomáz, Mósle, Sólon, Calil Alaidim, Kalile Bucheck, Badir Fecury, Salomão, Munib, Amim, Magib Mamud Alabi, Salum Saadi, Mamud José Alele, Tufic Said e Said Bachir, este último proprietário da “ A SAMARITANA”, grande comércio onde se vendia de tudo e que muitos ainda lembram, era abastecido por grandes navios que vinham à cidade quando os rios estavam cheios e voltavam carregados de borracha. 

Um dos fatores que facilitara esse sucesso foi o apoio que os representantes da colônia árabe davam uns aos outros. Segundo seus descendentes, era como se fosse uma família. Quando um sírio-libanês chegava à cidade, os que já estavam arranjados cuidavam logo para que aquele abrisse um negócio e davam a mercadoria para que pagasse depois.

Foi o caso de Constantino Mósle, contou que veio para Tarauacá em 1905, oriundo do Líbano, através de um tio que já morava aqui, Mansoud Mósle, comerciante e seringalista. Assim que chegou Constantino foi trabalhar com o tio no comércio e algum tempo depois comprou o seringal Mato Grosso. 

Sr. Rames e seu filho Ralid em 1966

Jamil conta também que o pai fazia comida árabe muito bem e era seu costume convidar os amigos  para almoçar em sua casa, quando só ele cozinhava. O mesmo Constantino foi lembrado ainda por Rames Eleamen, seu enteado, por ter sido o dono da “Maior e mais bonita horta de Tarauacá”, onde trabalhou até 80 anos de idade.
 

“Os sírio-libaneses foram a sustentação do comércio, pois faziam fortuna, e ficavam aqui mesmo, não foram embora. Eram pessoas sérias e responsáveis”. Desabafa o Sr. Jonas Bady Fecury, revelando assim o ressentimento e mágoa daqueles “filhos da terra” que enriqueceram e foram embora.

O certo é que, apesar da colônia sírio-libanesa ter sido muito forte em Tarauacá e de serem muito unidos, ao longo dos anos muitos foram morrendo e ficando esquecidos. Hoje restaram poucas famílias e poucos nomes na memória dos mais velhos. As gerações mais novas de Tarauacá pouco ou nada sabem daqueles que foram os responsáveis pelo desenvolvimento econômico da região e ajudaram a construir a história do município.

Leia também a história de Amin Kontar 


Esses navios citados acima, em sua maioria eram de procedência da (SNAPP) Serviço de Navegação e Administração do Porto do Pará. Mas tivemos os de propriedades particulares, como exemplo o Bandeira do Sr. Leal Maia. Eram navios a vapor, e dizem que em más condições; vale frisar aqui que os seringais dispunham de lotes de lenha para abastecer as embarcações.                                 

                                 TRANSPORTE TERRESTRE
Dotar o Acre de um sistema viário sempre foi um sonho acalentado pelos administradores públicos preocupados com o desenvolvimento social e econômico da região. A exemplo disso tem-se a idealização da Transacreana por Euclides da Cunha, ainda no início do século XX.. Para este, era fundamental ser construída uma estrada de ferro ligando o vale do Juruá ao do Acre. A este respeito assinalou que: “... realizar-se-á em dois dias a viagem de Cruzeiro do sul ao Acre, que hoje, nas quadras mais propícias, dura mais de um mês....”(Cunha apud Calixto, 1985,p170).

Mais adiante acrescentou que “... a linha férrea de Cruzeiro ao vale do Acre balancear-lhe-a o valor. Além disso, o que se deve ver naquela via é, sobretudo, uma grande estrada internacional de aliança civilizadora e de paz” (Cunha apud Calixto, 1985, p 170).

Este projeto não foi executado, pelo menos conforme as idéias de Euclides da Cunha. Só na Década de 1960, coma a criação do Departamento de Estradas e Rodagens – DERACRE (1963), reestruturado em 1968 e 1977, é que o sistema viário teve alguns avanços, sendo criadas as primeiras rodovias partindo de Rio Branco, que na época não ofereciam tráfego seguro.


A rodovia Federal BR-364 corta também o Estado do Acre no sentido oeste, passando pelos municípios de Sena Madureira, Manoel Urbano (até a via que dá acesso a cidade), Feijó, Tarauacá e Cruzeiro do Sul.

Hoje a BR-364 encontra-se em processo de asfaltamento, sendo parte britada para dar acesso ao interior durante o ano todo.
 

O TRANSPORTE AÉREO
Barão de Mauá, que trazia o pagamento dos funcionários públicos na época

O Capitão João Donato de Oliveira Filho foi o 1º piloto acreano, o ás dos ares do extremo-oeste, coube-lhe a primazia de integrar o Acre, sempre partindo de Rio Branco, pilotando o avião batizado de “Getúlio Vargas”, (no livro, cujo qual retirei essa matéria diz que esse avião foi comprado pelo Governador Epaminondas Martins, mas acredito eu, que ele foi doado pelo governo federal, pela campanha “DÊ ASAS A AVIAÇÃO” encabeçada pelo mega-empresário, dono dos diários associados, Assis Chateaubriand, fato este, que pode ser constatado no livro CHATÔ O REI DO BRASIL – de Fernando Morais). Posteriormente um segundo avião, o “JAVARI”, foi doado pelo Exército, um WACCO C.S.O. 

Em 29/03/1939, o capitão João Donato inaugurou o primeiro vôo da aviação local, partindo de Rio Branco para Xapuri, no percurso de 50 minutos, responsável, como orou o governador Epaminondas Martins, “pelo destino do governo do Território e da aviação acreana”. Esse avião ao lado  (que provavelmente é o Wacco CJC cabine), foi o 1º avião a pousar em Seabra em 13/04/1940, Mas no livro efemérides, escrito por Anastácio Rodrigues de Farias em 24/04/1993, o mesmo conta que o “GETÚLIO VARGAS” (sendo o “Getúlio Vargas um FAIRCHILD?  CONTINUO NA DÚVIDA), pilotado pelo 1º Ten. Sérvulo de Paula Machado, trazendo como passageiro, o Dr. Cláudio Rezende do Rego Monteiro, Juiz substituto de Feijó. Levando para Cruzeiro do Sul, o Seringalista, Antônio Alves de Andrade). Depois com o passar dos tempos às pistas no Acre foram melhorando, podendo-se pousar aviões maiores como é o caso deste da foto grande acima, pousado em Tarauacá, um avião do então Território do Acre batizado pelo Senador Guiomar Santos como Barão de Mauá, este sim já identifiquei como um AVRO ANSON (Inglês).



Tivemos outros tipos de aeronaves como é o caso dos Catalinas  do CAM(Correio Aéreo Militar que depois passou a ser chamado de CAN Correio Aéreo Nacional), que amerrisavam nos rios, floresta amazônica a dentro, mas isso é um assunto à parte e merece ser contada especificadamente. 

Essa foto acima mostra o avião batizado de Tarauacá, era um dos dois Beech Bonanza cauda em “V” que na gestão de Guiomar Santos (1946-1950) foram comprados para a SAGA (Serviço Aéreo do Governo do Território do Acre), também passaram pela SAGA os bimotores DC-3 (
versão civil do C-47 foto abaixo), o mesmo tipo que a Cruzeiro do Sul usava. 


O de prefixo PP-ETE,  efetuou a primeira ligação do Rio de Janeiro ao Acre em um só dia! 


Posteriormente vieram os táxis aéreos pequenos como, por exemplo, a PUA, a TAVAJ (TAXI AÉREO VALE DO JURUÁ, TAVAJ LINHAS AÉREAS), REGIONAL TÁXI AÉREO, etc. 

Algumas conseguiram transformar-se depois em empresa de médio porte, como por exemplo, a TAVAJ LINHAS AÉREAS, mas posteriormente encerrou suas atividades.


O MUNICÍPIO DE TARAUACÁ. DA BELLE ÉPOQUE AOS DIAS ATUAIS PARTE – I

FONTES:
ENCICLOPÉDIA DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS, PUBLICADO PELO IBGE, ENTRE OS ANOS DE 1957 E 1960.

CHATÔ O REI DO BRASIL -  FERNANDO MORAIS

CASA FARHAT 90 ANOS.

DIVERSOS DADOS SOBRE O MUNICÍPIO DE SEABRA - 1905 - 1943 (atual Tarauacá).
ANASTÁCIO RODRIGUES DE FARIAS.


ÁLBUM CIDADE DE RIO BRANCO - A MARCA DE UM TEMPO: HISTÓRIA, POVO E CULTURA. 

5 comentários:

  1. Muito boa essa matéria Palazzo. Parabéns!!!

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  2. Essa matéria que você postou retrata partes de nossa história e isso é muito importante para a sociedade atual, porque mostra um pouco das grandes riquezas tanto econômica quanto cultural da história de Tarauacá. Acompanho sempre seu blog. Parabéns!!
    Ronilson

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  3. Opa!
    Valeu Ronilson, muito obrigado.
    É sempre muito bom saber que somos reconhecidos.
    forte abraço
    Palazzo

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  4. Prezado Pallazo, com relação a sua dúvida sobre o 'Getúlio Vargas', tenho certeza quase absoluta que o mesmo era um Fairchil 24 equipado com motor radial Warner.

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  5. Houve dois modelos de Fairchild 24. O Fairchild Model 24 e o
    FAIRCHILD F-24W9 difícil é definir qual era.
    Olha a imagem do livro que eu fotografei que vai no anexo do e mail que vou te enviar. O Batizado parecia ser um motor em linha. E o da foto é um radial.
    AC era um pilantra que batizava vários aviões por dia, você pode comprovar isso lendo a página do livro na foto...
    abç

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