27 de ago. de 2013

ACUSADO DE GOLPES, SUPOSTO MÉDICO CUBANO PEDE REFÚGIO AO BRASIL

O suposto médico recebeu documentos brasileiros para refazer a sua vida no País
Foto: Carlos Ohara / Futura Press

Detido em vários países, homem conseguiu direito a documentos brasileiros, apenas com cópia de um passaporte

Terra - Carlos Ohara, Direto de Campo Mourão (PR) - Um homem que se diz médico de nacionalidade cubana e acumula diversas passagens pelas polícias em países da América do Sul por prática de fraudes, entrou ilegalmente no Brasil no último dia 18, se apresentou espontaneamente à Polícia Federal em Cascavel, a 497 km de Curitiba, e solicitou o reconhecimento da condição de refugiado, alegando perseguição do governo de Raul Castro. De acordo com o agente da PF que o atendeu, o homem informou que teria chegado ao Brasil pelo Paraguai, onde estaria a trabalho como membro da Brigada Médica Cubana em Assunção e havia desertado.

Apresentando cópia de um suposto passaporte cubano em nome de José Ricardo Marin Forno, o homem recebeu um cartão de cadastro do pedido de refúgio, expedido pelo Serviço de Migração da Polícia Federal válido até fevereiro de 2014, e com o documento conseguiu obter o Cadastro de Pessoa Física (CPF) na Receita Federal, protocolando ainda a solicitação de carteira de trabalho na agência do Ministério do Trabalho e Emprego. O procedimento é normatizado pela Lei 9.474/97, conhecida como Estatuto dos Refugiados.

De posse dos documentos, ele se hospedou em um hotel da cidade e desapareceu no dia seguinte sem pagar o valor da diária. Preocupada com o hóspede estrangeiro, a gerência do hotel comunicou o desaparecimento à Polícia Civil.

Fotos do homem foram compartilhadas em redes sociais e o Grupo de Diligências Especiais chegou a ser acionado para localizar o suposto médico. Uma semana depois, na segunda-feira (26), Marin Forno foi localizado em Campo Mourão, a 177 km de Cascavel. Ele estava no mesmo hotel onde está hospedado o delegado Amir Salmen, que assumiu a delegacia da cidade há duas semanas. O suposto médico cubano foi levado para delegacia para prestar esclarecimentos sobre o desaparecimento e sobre a denúncia de um suposto abuso sexual que teria sido registrado por uma mulher. 

Ao consultar a Polícia Federal, o delegado foi informado que a situação do homem era legal no Brasil e que não havia nenhum pedido de prisão contra ele.  Sem provas em relação ao suposto abuso sexual, que ainda é investigado, o homem foi liberado e retornou ao hotel. 

Salário de US$ 20
Localizado pelo Terra na noite de segunda-feira, o suposto médico relatou que havia deixado Cuba há seis meses para trabalhar na Brigada Médica Cubana no Hospital Geral em Assunção, no Paraguai. Disse que recebia mensalmente US$ 20 pelo trabalho, atuando como cirurgião e ginecologista e que havia desertado por não concordar com a exploração de seu trabalho. O suposto médico afirmou que se formou há 14 anos pelo Instituto Superior de Ciências Médicas Santiago de Cuba. 

Marin Forno contou que seu pai também é médico e atua em Miami, onde é asilado político. O homem disse que, antes de deixar Assunção, foi assaltado e perdeu todos os documentos, incluindo o título de médico e US$ 1,5 mil. Para comprovar sua versão, ele apresentou recortes de jornais paraguaios e o registro de denúncia na polícia paraguaia. 

No Brasil, Marin Forno afirmou ter entrado pela fronteira entre Foz do Iguaçu e Ciudad Del Este. No local, teria sido encaminhado para a PF de Cascavel, apesar da existência de uma delegacia do órgão em Foz do Iguaçu. Após conseguir registrar o pedido de refúgio em Cascavel, ele disse ter procurado Campo Mourão para localizar um médico boliviano com quem queria trabalhar. O suposto médico, no entanto, não explicou porque deixou o hotel sem pagar a diária. 

O Terra conversou com o médico citado pelo homem. Formado no Rio de Janeiro e atuando há vários anos em Campo Mourão, o profissional informou que o suposto cubano teria comparecido ao seu consultório e solicitado ajuda financeira para pagar o hotel e refeições, enquanto esperava o recebimento de US$ 2 mil que seriam enviados por seu pai de Miami para a conta bancária de uma mulher que ele havia conhecido na cidade. 

Consternado com a situação, o médico boliviano aceitou auxiliar o suposto colega. No entanto, o médico boliviano não esperava que o homem se hospedasse em um hotel considerado de luxo da cidade. "Até indiquei um restaurante mais barato e outro hotel. Mas ele pediu R$ 100 emprestado e só fiquei sabendo onde ele estava quando fui procurado pela polícia para falar sobre ele. Paguei a conta dele no hotel e no restaurante para não ter problemas, apesar de não ter autorizado", disse o profissional que preferiu não ser identificado.

Marin Forno também teria se envolvido com uma mulher na cidade, solicitando inclusive o empréstimo da conta bancária dela para receber o depósito do dinheiro que seria enviado de Miami. Segundo ele, houve erro nos dados e o dinheiro foi estornado. A mulher seria a autora da denúncia de abuso sexual registrada na delegacia.

Para comprovar a sua versão, de que teria sido roubado, o suposto médico mostrou jornais de outros países. Foto: Carlos 

Detenções na América do Sul
A história relatada por Marin Forno ao Terra é semelhante a versões apresentadas por ele na Argentina, Bolívia, Peru e Equador. Há registros de acusações de fraudes praticadas por ele desde 2010, de acordo com reportagens publicadas em versões online de jornais destes países. 

Em janeiro de 2011, a versão online do jornal El Diário, de Manabi, o maior porto pesqueiro do Equador, registra a detenção de Marin Forno após emprestar US$ 800 da proprietária do hotel onde estava hospedado e deixar o local sem pagar o empréstimo e as diárias. Segundo a reportagem, o caso teria ocorrido em novembro de 2010. 

Em outubro de 2012, o suposto médico cubano foi detido em Lima, no Perú, após pedir três mil novos soles peruanos (cerca de R$ 2,5 mil) ao prefeito da cidade de Ica, alegando que estava coordenando uma equipe da organização Médicos Sem Fronteiras que chegariam à cidade e necessitava do dinheiro para comprar equipamentos para alojamento dos profissionais. Ele também é acusado de praticar o mesmo golpe nas cidades peruanas de Ancash, Piura, Chimbote e Casmaem. 

No mês de dezembro de 2012, o suposto médico foi acusado de aplicar golpes em vários hotéis de Cochabamba, na Bolívia, e de ter tentado enganar os policiais da Força Especial de Luta Contra o Crime (FELCC). Segundo o jornal Opinión, o homem chegou ao escritório da FELCC e, após se identificar como membro da Brigada de Médicos Cubana que estaria atuando em La Paz, contou ter sido assaltado em Cochabamba. Após prestar depoimento, ele pediu aos policiais dinheiro para permanecer na cidade até a chegada de um depósito que seu pai faria em Miami. Como os policiais não tinham o dinheiro, ele passou a contar a história em hotéis da cidade, obtendo sucesso com empréstimos de até US$ 500, desaparecendo em seguida.

Neste ano, Marin Forno já foi detido nas cidades de Nogoyá e Victoria, na Argentina, sempre apresentando a versão de que é médico cubano e que estaria esperando um depósito de seu pai. No dia 16 deste mês, ele desembarcou no terminal rodoviário de Assunção e procurou a polícia afirmando que havia sido vitima de um sequestro relâmpago, tendo perdido dinheiro, documentos, passaporte, computador portátil, celular, carteira de médico e um anel de ouro. Na capital paraguaia, ele foi encaminhado para um albergue. Dois dias depois, ele entrou no Brasil. 

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