José Ferreira Lima vendedor de perfume a retalho. Foto: Gleison Miranda/ANA |
Coluna do Arquilau - Vanísia Nery - O costume começou nas festas dos seringais. Depois de caminhar horas e horas por varadouros lamacentos o seringueiro chegava à casa do compadre que estava promovendo a festa. Sujo e suado ele ia primeiro tomar um banho no rio ou igarapé e, após vestir-se corria ao batelão do regatão para tomar uns goles de pinga e se perfumar. Depois disso estava pronto para dançar, em casas de assoalho de paxiúba, às vezes homem com homem porque nos primeiros anos da exploração da borracha somente os homens eram trazidos do Nordeste, não havia mulheres.
Alguns seringalistas traziam mulheres e as vendiam aos melhores seringueiros e, se porventura quaisquer deles, por doença ou qualquer outro motivo, ficasse devendo ao barracão a mulher lhe era retirada e entregue a outro, a troco de pagamento de sua dívida, como narra o paraibano Alfredo Lustosa Cabral, que por aqui esteve cortando seringa entre os anos de 1879/1907, em seu livro Dez Anos no Amazonas.
A falta de mulheres era tão grande que em certa ocasião, ainda segundo Alfredo Lustosa Cabral “a polícia de Manaus de ordem do governador do Estado fez requisição nos hotéis e cabarets dali de umas cento e cinquenta rameiras. Com tão estranha carga, encheu-se um navio cuja missão foi a de soltar, de distribuir as mulheres em Cruzeiro do Sul, no Alto Juruá”.
Os seringueiros evaporaram em meio à falência dos seringais, contudo, muitos de seus costumes, foram trazidos para as cidades, para onde migraram, como a compra a retalho de tabaco de molhe (ou mói como diziam) através de medida chamada de libra, que corresponde a uma polegada.
Ao comprar perfume por chiringada de spray o comprador indicava os locais do corpo que deveriam receber a flagrância. Alguns preferiam comprar em doses cuja medida é um dedal desses que as costureiras usam para coser. Em Cruzeiro do Sul, há pouco tempo, algumas bancas ao redor do mercado, nos finais de semana, fechavam mais tarde no aguardo dos seus tradicionais fregueses. Um desses comerciantes atende pelo nome de José Ferreira Lima, conhecido também por “Taveira” garante que “a grande maioria de meus clientes é formada por homens que saem de casa como se fossem ao vizinho e para a mulher não desconfiar que seu destino é uma festa vem passar perfume nas bancas do mercado”. Um dos maiores empresários do Acre, o cruzeirense Abraão Cândido da Silva, hoje proprietário de balsas, supermercados e aviões começou vendendo perfume em fração no beco do Mercado Municipal Joãozinho Melo.
Os perfumes mais procurados eram conhecidos pelos nomes de Corintho, Desejo e Toque de Amor, cujas chiringadas ou doses eram vendidas ao preço de CR 1,00 cada, o suficiente para deixar qualquer pessoa, ainda que exagerada, bem perfumada. Vai uma chiringada aí?
* Arquilau de Castro Melo é advogado.
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