De acordo com o Secretário da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar, Contra-Almirante Marco Antônio Linhares Soares, a Antártica é um laboratório à disposição da pesquisa em colaboração com os demais países que aderiram a essa missão. “Assinamos o Tratado para fazer muita pesquisa de qualidade e isso já vem sendo feito ao longo desses 40 anos com a participação de inúmeras instituições de pesquisas e universidades”.
A presença no continente branco é estratégica por motivos geopolíticos, científicos e ambientais. Cerca de 20 pesquisas estão sendo realizadas atualmente nas áreas de ciências da vida, ciências atmosféricas, ciências do mar e ciências da terra.
Um exemplo de avanço nas pesquisas foi a evolução da carta náutica utilizada no próprio trajeto até a Antártica, dando mais segurança aos navios, suas tripulações e aos cientistas que embarcam nos navios. “Nós tivemos um ganho muito grande com a previsão numérica que utilizamos na travessia do Drake, que é um estreito de mar muito difícil para a navegação. Poucas áreas da região eram cartografadas, mas foram feitas inúmeras cartas náuticas utilizando os equipamentos em ambientes diferentes e com isso houve um ganho muito grande”, disse o Contra-Almirante Linhares.
O primeiro coordenador científico da Operação Antártica (OPERANTAR), Paulo Eduardo Aguiar Saraiva Câmara, que é biólogo e professor do Departamento de Botânica da Universidade de Brasília, afirma que o Brasil tem um comprometimento sério e definitivo com a região da Antártica. “O continente gelado soma 14 milhões de km2 e as maiores reservas de água doce do mundo. Cerca de 70% estão na Antártica e não na Amazônia, como muitos podem pensar. As maiores reservas de petróleo, de ouro, de diamante também estão lá. O Brasil fala de igual pra igual com as grandes nações do mundo, podemos opinar sobre o uso dessas riquezas, temos o direito a voz e voto. E por que temos isso? Porque fazemos pesquisa. Não adianta o Brasil ir para Antártica sem fazer pesquisa e não adianta a gente querer fazer pesquisa sem o apoio logístico da Marinha”, afirmou o professor Paulo.
Para realizar as operações antárticas, a Marinha coordena um planejamento minucioso, sendo responsável pelo transporte, alimentação, alojamentos, vestimentas especiais e manutenção de equipes na base científica. A OPERANTAR XL teve início no dia 6 de outubro de 2021, com o suspender do Navio de Apoio Oceanográfico (NApOc) “Ary Rongel” e, posteriormente, com o Navio Polar (NPo) “Almirante Maximiano”, que iniciou a sua comissão em 14 de novembro de 2021. O término da operação está previsto para 13 de abril de 2022, com o retorno dos navios para o Rio de Janeiro.
Ampliação de pesquisas
Uma novidade na área de pesquisas para este ano é a destinação de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) para o PROANTAR e para a base de pesquisa Criosfera 2, que são prioridades do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). O anúncio foi feito na abertura do “III Simpósio do Programa Ciência Antártica MCTI: 40 anos de pesquisa científica do PROANTAR”, realizado neste mês.
Durante o evento, o Ministro do MCTI, Marcos Pontes, declarou que os 40 anos do PROANTAR são um marco a ser comemorado pelo Brasil e pelo planeta. “Temos de ampliar cada vez mais a pesquisa no continente Antártico”. Segundo ele, a prioridade do MCTI é aumentar a pesquisa e a capacidade dos laboratórios na Antártica, com o Criosfera 2, além de ampliar o número de bolsas de pesquisa disponíveis. A liberação de recursos para a ciência pelo FNDCT deve garantir apoio financeiro para a continuidade dos projetos de pesquisa do PROANTAR para os próximos três anos.
Além do MCTI e da Marinha do Brasil, o programa conta, também, com outros membros na Comissão Interministerial para os Recursos do Mar, entre eles os Ministérios das Relações Exteriores; do Meio Ambiente; da Justiça e Segurança Pública; Defesa; Economia; Infraestrutura; Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Educação; Cidadania; Saúde; Minas e Energia; Turismo; Desenvolvimento Regional e Casa Civil. Além desses órgãos, são parceiros do PROANTAR a Força Aérea Brasileira, a Petrobras, a Universidade Federal do Rio Grande, a empresa OI e a Fundação Oswaldo Cruz.
Novo Navio de Apoio Antártico e Aeronaves UH-17
Em outubro de 2021, o Estaleiro Jurong Aracruz/SEMBCORP foi anunciado como a melhor oferta para construir o novo Navio de Apoio Antártico (NApAnt). A construção do navio, que será conduzida pela Empresa Gerencial de Projetos Navais (EMGEPRON), proporcionará incentivo ao desenvolvimento tecnológico e à indústria naval brasileira.
Atualmente, o “Ary Rongel” e o “Almirante Maximiano” contribuem para a pesquisa, transportando pessoal e equipamentos, produzindo cartas náuticas e coletando amostras científicas. O NApAnt potencializará a pesquisa científica e fortalecerá a presença estratégica do Brasil no continente gelado.
Para somar esforços junto aos navios, o 1º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral realizou o primeiro voo na Antártica, em novembro de 2021, com as recém-adquiridas aeronaves UH-17. Os “Águias” 7090 e 7091, orgânicos do NPo “Almirante Maximiano”, foram lançados para permitir a ambientação dos tripulantes nos voos em regiões de clima frio, realizar reconhecimento dos pontos de interesse nas proximidades da Estação Antártica Comandante Ferraz, e qualificação e requalificação de pouso a bordo com o NApOc “Ary Rongel”.
As duas aeronaves são as primeiras de um total de três UH-17, adquiridas junto à Airbus Helicopters, com o objetivo de cooperar e ampliar a capacidade das operações aéreas no PROANTAR.
Aeronave UH-17 amplia a capacidade das operações na Antártica
Estação Antártica Comandante Ferraz
A estrutura da Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) foi reinaugurada em 15 de janeiro de 2020 e possui um complexo de mais de 4,5 mil m². Aproximadamente 4 mil integrantes de equipes científicas já passaram pelo PROANTAR.
A estrutura do Brasil está localizada na Península Keller, na Ilha Rei George, no arquipélago das Shetland do Sul. Com um projeto arquitetônico moderno e 17 laboratórios, a EACF está dividida em seis setores e tem um funcionamento sustentável, com o reaproveitamento de água e utilização de energias renováveis. Atualmente, a estação brasileira é considerada umas das mais seguras e modernas da região e, mesmo com a pandemia da Covid-19, a EACF nunca parou. O grupo-base formado por militares da Marinha mantém a Estação funcionado todo o tempo.
Um bom exemplo de experiência é a do Capitão de Corveta (Md) Jarbas de Souza Salmont Júnior, que já participou três vezes da OPERANTAR e realiza atendimentos na área de saúde. “A parceria da Marinha com os pesquisadores é extremamente proveitosa e amigável. Todos os tripulantes da Estação Antártica e das estações vizinhas têm acesso ao atendimento médico na nossa estação. O atendimento é sob livre demanda e nós temos uma enfermaria bem equipada e preparada para estabilizarmos um paciente grave até sua remoção”, exemplificou.
Estação Antártica Comandante Ferraz, a casa do Brasil no continente gelado
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