Para o economista-chefe da ARX Investimentos, governo tem adotado um caminho semelhante ao que se viu no governo Dilma
Os erros de condução da política econômica remontam ao seu início, quando foi engendrada a aprovação da PEC da transição ainda em 2022, que elevou o nível do gasto público em 2% do PIB ou R$ 168 bilhões em 2023. Apesar do consenso de que o orçamento de 2023 precisava ser recomposto, o tamanho da expansão do gasto foi muito superior ao necessário e razoável, distante inclusive dos R$ 70 bilhões proposto pela equipe de transição, assim como de propostas no Parlamento como do ex-senador Tasso Jereissati, de R$ 80 bilhões.
Foi sobre uma base inflada de despesas que o arcabouço fiscal, que não é sólido e tampouco crível, como temos argumentado desde o princípio, teve seu pontapé inicial. Erros primários no desenho de regras fiscais foram cometidos, a exemplo da volta de indexações do gasto mínimo de saúde e educação para a arrecadação, falhas típicas de regras de primeira geração, dos anos 2000.
O custo de reincidir no erro de vincular o orçamento com práticas obsoletas de 20 anos atrás custou caro desde o início, quando o governo pediu e recebeu a autorização do Tribunal de Contas da União (TCU) para não cumprir o piso de saúde no primeiro ano de vidência da nova regra fiscal. A benevolência da corte evitou um problema de R$ 20 bilhões em 2023.
Adicionalmente, o programa “pé de meia”, que teve início neste ano de 2024, teve sua despesa antecipada em 2023 no valor de R$ 6 bilhões, devidamente abatida do limite de despesa. O crescente uso de abatimentos, deduções e gastos por fora do limite de gastos ou do resultado primário, prática observada desde o governo Lula 2 e em todo o governo Dilma, está de volta.
O uso de fundos por fora do limite fiscal também vem sendo parte do modus operandi e está presente tanto na PEC 66 quanto, por incrível que pareça, no mais recente pacote fiscal. Se aprovado, o uso do superávit de fundos poderia custear por fora do orçamento despesas que hoje estão sujeitas ao arcabouço fiscal. A criatividade é ainda extensível ao programa vale gás, que além de reincidir na busca de retirar gastos do limite fiscal, agudiza a baixa eficiência das políticas públicas no país, em particular aquelas ligadas a saúde, educação e transferência de renda.
Há ainda problemas relacionados à atuação das empresas estatais federais. Adicionalmente à falta de transparência, sendo o último boletim estatístico publicado há dois anos, é recorrente a busca pela retirada de parte da despesa dessas empresas dependentes do regramento fiscal. Em 2023, foi autorizada a dedução da meta fiscal no valor de R$5 bilhões de investimentos no âmbito do PAC. Para o próximo ano, a LDO 2025 deve abrir um precedente ainda maior, retirando as estatais integralmente orçamento e do Siafi, aprofundando a falta de transparência e compliance.
A promessa de economia com o pente-fino nos programas sociais, apesar de importante e material (de R$ 26 bilhões), tem sido revisado pelo próprio governo para baixo. Não obstante haver evidências de volume material de fraudes e concessões irregulares em diversos benefícios sociais, atestados em relatórios do TCU e da CGU, até o momento os ministérios responsáveis não têm sido capazes de entregar efetivamente o resultado pretendido.
O recém anunciado pacote fiscal de R$ 72 bilhões para 2025/26 recicla em alguma medida a economia já anunciada e não entregue com o pente-fino, além de conter medidas que dão mais flexibilidade na execução do orçamento, mas que não entregam economia fiscal efetiva. De outra forma, mesmo contendo medidas importantes, o pacote é tímido, insuficiente e não endereça os desafios fiscais estruturais.
O ambiente de enorme aversão a risco, com o dólar superando os R$ 6 e a curva de juros abrindo para níveis superiores a 16% são apenas reflexos dos enormes problemas fiscais supracitados e antecipam uma desancoragem da política econômica no horizonte relevante. As dúvidas em torno da autonomia efetiva da próxima gestão no Banco Central, somadas as recorrentes intervenções no câmbio, agudizam a percepção de desarranjo macroeconômico por parte do mercado. A semelhança com a deterioração observado no curso da Nova Matriz Econômica não é pequena e os resultados, previsíveis.
O recesso parlamentar, ainda que produza algum alívio momentâneo na espiral de deterioração macroeconômica do país pela ausência de gatilhos que o retroalimentem nessa janela em particular, está evidentemente longe de significar qualquer progresso. Eventual estabilização dos juros em 16%, assim como da taxa de câmbio em 6R$/US$ é uma não solução para os diversos desafios estruturais e crise de confiança pela qual passa a política econômica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Atenção:
Comentários ofensivos a mim ou qualquer outra pessoa não serão aceitos.