Eurocéticos de esquerda também ampliam participação no Parlamento Europeu
Júbilo. Marine Le Pen festeja vitória inédita da Frente Nacional: ganho de ao menos 20 vagas no Parlamento Europeu - CHRISTIAN HARTMANN / REUTERS
POR FERNANDO EICHENBERG — As urnas oficializaram neste domingo os sintomas declarados de uma Europa em crise política e de identidade. Os resultados das eleições no continente revelaram um acentuado crescimento dos partidos eurocéticos — principalmente de extrema-direita, populistas e nacionalistas —, numa confrontação inédita, ainda que parcial, com as forças políticas tradicionalmente majoritárias que defendem uma União Europeia (UE) sólida e unida em torno de um ideal europeu. No total, os eurocéticos conquistaram ao menos 188 das 751 cadeiras em jogo, de acordo com as primeiras projeções, mais do que as 185 da frente social-democrata, mas atrás da frente cristã-democrata, que deve manter o controle do Parlamento com ao menos 212 cadeiras. O índice de participação do eleitorado permaneceu estável em relação à eleição de 2009 (43%).
Na França, pela primeira vez na História a Frente Nacional (FN), partido de extrema-direita, chegou em primeiro lugar numa votação de nível nacional, com 25% de apoio, segundo as primeiras projeções, o que lhe daria direito a ocupar entre 23 e 25 assentos no Parlamento Europeu - contra somente três na formação atual, eleita em 2009. Reforçada por sua vitória, Marine Le Pen, exigiu do presidente François Hollande, cujo Partido Socialista amargou o terceiro lugar com menos de 15% dos votos, a dissolução da Assembleia Nacional, para que possa ser recomposta de acordo com a nova realidade política do país.
— O povo soberano falou alto e claro e gritou que quer retomar as rédeas de seu destino. O presidente da República deve tomar as disposições que se impõem para que a Assembleia represente o povo. Se ele não o fizer, a França deve parar de dar lições de democracia à Terra inteira — disse Marine Le Pen, logo após a divulgação das primeiras projeções.
Hollande, via um comunicado divulgado pelo palácio do Eliseu, disse que "lições devem ser tiradas" deste importante acontecimento". Já o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, definiu o resultado das urnas europeias como um "choque e um terremoto".
— O momento que vivemos é grave para a França e para a Europa. Esta noite (ontem), pela abstenção e pelo avanço da extrema-direita, pelo desempenho medíocre dos partidos no governo, vocês expressaram um profundo ceticismo. Estamos ainda numa crise de confiança, uma cólera que atinge também a adesão ao projeto europeu — avaliou Valls numa declaração aos franceses pela TV.
Os eleitores gregos também surpreenderam ao colocarem em Estrasburgo, a sede do Parlamento Europeu, o partido neonazista Aurora Dourada, que com cerca de 10% dos votos poderá eleger até três deputados. Os resultados na Grécia indicam ainda a vitória da esquerda radical, encarnada pelo Syriza, à frente da Nova Democracia (ND), do primeiro-ministro Antonis Samaras. O Syriza marcou sua campanha por fortes críticas às medidas de austeridade impostas ao país, ainda em plena crise econômica e de desemprego.
Na Alemanha, a coalizão de governo formada pelo partido da chanceler Angela Merkel, a União Democrata-Cristã (CDU), e o Partido Social-Democrata conquistou uma maioria estimada em torno de 60% dos votos, mas a grande novidade foi a entrada no Parlamento dos eurocéticos da Alternativa para a Alemanha (AFD), criado no ano passado, com cerca de 6,5% dos votos, segundo os resultados parciais. Os neonazistas do Partido Nacional Democrata (NPD) também integrarão o Parlamento com um resultado entre 0,8% e 1% dos votos, já que a Alemanha suprimiu a regra fixando o limite mínimo de 3% no pleito no país. Já a extrema-esquerda do partido Die Linke teria um desempenho em torno de 7,6% dos votos.
No Reino Unido, os extremistas do Partido da Independência do Reino Unido (Ukip), de Nigel Farage, chegariam à frente no pleito, conquistado até 24 vagas no parlamento. Segundo as estimativas, o Partido Popular Dinamarquês, de discurso ultranacionalista e xenófobo, teria vencido as eleições europeias no país, com cerca de 23% dos votos, elegendo três deputados para o Parlamento. Na Suécia, a extrema-direita, via os Democratas Suecos, estará representada pela primeira vez em Estrasburgo. O mesmo para os neonazistas húngaros do Jobbik — em segundo lugar no pleito nacional, segundo os resultados parciais - partido que costuma estigmatizar os judeus e definir os ciganos como "parasitas". Na Áustria, os nacionalistas do Partido do Povo Austríaco (FPÖ) teriam alcançado o terceiro lugar, com cerca de 24% dos votos.
Apesar da liderança obtida nas urnas, os dois principais partidos espanhóis perderiam assentos no Parlamento em detrimento de pequenas siglas da esquerda mais radical, originadas do movimento dos Indignados. O partido independentista da Catalunha também mostrou crescimento.
A marcha dos radicais
Reino Unido: Os resultados preliminares indicavam que o Ukip, legenda de extrema-direita que nunca elegeu um deputado para a Câmara dos Comuns, terá a maior bancada britânica no Parlamento Europeu
Dinamarca: O ultranacionalista e xenófobo Partido Popular Dinamarquês foi o mais votado, com mais de 25% dos votos
Áustria: Os radicais do Partido da Liberdade da Áustria ficaram em terceiro lugar, mas chegaram a 20% dos votos, contra 13% em 2009
Grécia: Os neonazistas do Aurora Dourada conseguiram 10% dos votos, ficando em terceiro lugar
Hungria: O Jobbik, com um forte discurso anticigano, foi o segundo partido mais votado
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