22 de dez. de 2016

PARA ECONOMISTAS, MEDIDAS DE MADURO NÃO FAZEM SENTIDO


A única explicação é política: Maduro quer culpar outros pelos próprios erros

Retrato da crise venezuelana: Pessoas atravessam a ponte internacional Francisco de Paula Santander, que liga Urena, na Venezuela, e Cúcuta, na Colômbia (George Castellanos)

Luiza Queiroz  - A escassez de dinheiro em circulação na Venezuela provocou dias conturbados no país. Isso porque o presidente Nicolás Maduro anunciou a retirada de circulação da nota de 100 bolívares, a mais alta do dinheiro em espécie. Menos de uma semana depois, porém, Maduro não só anunciou o adiamento da medida – já que as novas notas que substituiriam a cédula de 100 não haviam chegado ao país – como decidiu fechar as fronteiras com a Colômbia e com o Brasil.

O anúncio resultou em protestos violentos e em saques a bancos e a armazéns, já que os comércios pararam de aceitar as notas de 100 – que representam metade do dinheiro em espécie que circula na Venezuela.

O governo diz que, assim, vai combater as máfias colombianas que operam na fronteira, onde os venezuelanos vendem bolívares – uma moeda desvalorizada. O fechamento das fronteiras também seria um meio de combater essas máfias, que, segundo o presidente, “desestabilizam a economia nacional”.

A justificativa, porém, não faz sentido do ponto de vista econômico. “Nós economistas não encontramos lógica nessa medida de fechar as fronteiras. Os problemas econômicos na Venezuela vão continuar porque a origem deles está no governo”, diz o economista venezuelano Luis Oliveros.

A principal hipótese que foi levantada é a de que a abolição das notas de 100, inserindo seis novos valores de cédulas (as de 500, 1.000, 2.000, 5.000, 10.000 e 20.000), seria uma tentativa de frear a desvalorização da moeda nacional da Venezuela frente ao dólar, cujo câmbio já chega a 4.500 bolívares por dólar no mercado paralelo. Mas isso não funcionará no longo prazo.

“Não se abaixa o valor do dólar paralelo sem abaixar a inflação, sem reduzir a escassez, sem aumentar a confiança”, diz o venezuelano Ronald Balza, professor de economia na Universidade Católica Andrés Bello.

Com a moeda tão desvalorizada, a medida parece ter mais significado político do que econômico, oferecendo ao governo a possibilidade de culpar as máfias fronteiriças pela situação econômica do país, que vive uma hiperinflação. “A moeda venezuelana perdeu tanto valor que para comprar os bens necessários para uma semana é necessário ir com um carrinho de mão de dinheiro. Isso obriga uma reestruturação da moeda, ainda que realmente o imprescindível seja modificar todo o sistema econômico”, diz o economista monetário espanhol Juan Manuel López.

Não é a primeira vez que o presidente acusa terceiros de sabotar a economia venezuelana. Ele não se cansa de culpar os Estados Unidos, a burguesia nacional, o capitalismo, o empresariado, a Colômbia e os capitalistas pelos próprios erros.

Quando uma parte das novas cédulas, produzidas na Suécia, não chegou ao país, Maduro falou em complô internacional. “As medidas dele não têm sentido econômico, apenas político. São apenas criações dele para buscar responsáveis pela situação”, diz Oliveros.

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