3 de nov. de 2021

Quais são os países mais poluidores do mundo? O Brasil é um deles?

Matrizes energéticas baseadas em fontes não renováveis colocam nações como China e Estados Unidos no topo da lista

     Um homem passando em frente a uma termelétrica movida a carvão em Xangai, na China

                                                 ALY SONG / REUTERS - 14.10.2021

Sofia Pilagallo*, do R7 - Líderes de 196 países se reunirão em Glasgow, na Escócia, entre 31 de outubro e 12 de novembro para a realização da COP26 (26ª Conferência das Nações Unidas para a Mudança do Clima), evento que tem como objetivo discutir os avanços no enfrentamento do aquecimento global.

Como vem sendo debatido amplamente, a ação humana tem feito com que o fenômeno climático avance mais rápido do que o esperado — mas algumas nações têm especial responsabilidade sobre o cenário ambiental em que o mundo se encontra atualmente.

Segundo o professor e pesquisador do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Wilson Roseghini, alguns rankings internacionais classificam países como China e Estados Unidos como algumas das nações mais poluidoras do mundo, uma vez que a maior parte de sua energia é proveniente de combustíveis fósseis: petróleo, carvão e gás natural.

De acordo com ranking do World Resources Institute (WRI), divulgado em junho deste ano, os Estados Unidos são o país mais poluidor do mundo, sendo responsável pela emissão de aproximadamente 577,578 toneladas de carbono entre os anos de 1850 e 2016. Em 2020, no entanto, a China ocupava a primeira posição nesse mesmo ranking. Os dados mais atualizados do WRI apontam ainda que a Rússia é o terceiro país do mundo que mais emite gases poluentes, seguidos de Alemanha (4º) e Índia (5º).

Leia também: China polui mais que todos países desenvolvidos juntos, diz pesquisa

"Atualmente, os gases produzidos na queima desses combustíveis são apontados como os principais responsáveis pelo chamado efeito estufa, e consequentemente, o aquecimento global. No Brasil, por outro lado, a maior parte da energia vem de fontes renováveis, sendo a água a principal delas", afirma.

Informações da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia, apontam que a matriz energética do Brasil é muito diferente da mundial, uma vez que, por aqui, usamos mais fontes renováveis do que a grande maioria dos países. Somando lenha e carvão vegetal, água, derivados de cana e outras fontes "limpas", as renováveis do país totalizam 48,3%, quase metade da matriz energética.

Apesar dos números animadores, Roseghini ressalta que outros rankings internacionais, realizados com base em diversos outros aspectos, classificam o Brasil como um dos países que também mais poluem no mundo, uma vez que a nação registra um alto número de queimadas.

Um levantamento feito pelo Projeto MapBiomas e divulgado em agosto deste ano revela que, entre 1985 e 2020, o Brasil queimou uma área de 1,67 milhão de km², o que representa 19,6% do território nacional.

"Como já se sabe há tempos, a queima de florestas emite CO2, gás responsável por cerca de 60% do efeito estufa e cuja permanência na atmosfera é de pelo menos centenas de anos. De nada adianta, portanto, ter uma matriz energética baseada em fontes renováveis e emitir carbono de forma descontrolada", diz.

O  IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), órgão da ONU, publicou em agosto deste ano um importante relatório sobre o aquecimento global que aponta que, em um cenário pessimista, isto é, se a população mundial aumentar ou mantiver a emissão de combustíveis no mesmo patamar dos dias atuais, até 2100, a temperatura global poderá aumentar, em média, 4,4º C. Já se as emissões forem reduzidas, estima-se que esse valor seja de 1,5º C.

No caso de o cenário pessimista se concretizar, Roseghini alerta que o mundo chegaria ao chamado tipping point, isto é, ao ponto de não retorno, a partir do qual as mudanças climáticas se tornariam irreversíveis para o planeta e a humanidade.

Segundo um estudo realizado pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), parte da Amazônia já teria atingido esse ponto e vem perdendo cada vez mais sua capacidade de absorver carbono da atmosfera.

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