23 de dez. de 2024

O Acre respira liberdade para produzir, é exportador e em breve estará em outro patamar de prosperidade”, afirma secretário Assurbanípal


                 Jorge Natal, especial para o Acre News


Com mais de 120 anos de história, o Acre é um dos lugares onde mais se ressente de políticas públicas proativas e consequentes. Apesar das riquezas existentes neste maravilhoso local, todas elas seguem ainda subexploradas.

Possuímos uma localização estratégica quando se trata de exportações e podemos atrair inúmeros investimentos como, por exemplo, o desenvolvimento de polos de tecnologia e pesquisa farmacêutica, cosmética e alimentícia, dentre outras tipologias produtivas que podem se adequar plenamente às potencialidades regionais.

Apesar de um verdadeiro boom econômico nos últimos anos, ainda somos o segundo estado mais pobre do país, ficando à frente apenas do Estado de Roraima, que tem dois terços de seu território formado por áreas de proteção ambiental.


Autodesenvolvimento ou agroindustrialização, tema deste material, é o modelo que forma uma bem-definida cadeia produtiva, englobando os três setores da economia, começando com a agricultura cujos produtos vindos deste setor seriam processados (indústria) e agregariam valor. Por último, eles seriam exportados (comércio) gerando divisas para o estado.

Como o desenvolvimento da produção de grãos (soja e milho), poderemos intensificar a piscicultura, a criação de aves e principalmente de suínos, alimentando-os com uma ração regionalizada. A pecuária de corte, que ainda não está consolidada, precisa incorporar ciência e tecnologia para se expandir nas regiões dos Vales do Juruá e Purus.

Essa proposta, que estimula a agricultura em larga escala, notadamente na parte leste do estado, também é focada em produtos regionais como a madeira, a castanha, o café, o feijão, a mandioca, a banana, o açaí, a cana-de-açúcar e a fruticultura de um modo geral. O papel do poder público seria garantir a infraestrutura adequada e necessária para incentivar a produção em escala maior, bem como criar um ambiente favorável, com incentivos e isenções para a instalação de indústrias desses produtos.

A base da indústria mundial é a biodiversidade e os medicamentos e cosméticos lideram isso. Podemos trabalhar com a tecnologia ambiental, a bioeconomia, que seria a utilização dos produtos da floresta para alavancarmos o nosso desenvolvimento, com investimentos e direcionamentos necessários. Temos recursos únicos que nos potencializam para almejarmos essa liderança.

Para falar sobre desenvolvimento econômico sustentável, a reportagem foi até à Secretária de Ciência, Indústria e Tecnologia (Seict) e conversou com Assurbanípal Barbary de Mesquita, engenheiro eletricista. O gestor falou do Acre como a nova fronteira agrícola, do corredor de exportação e importação através da nova estrada do pacífico e do fortalecimento da indústria e do comércio. “Precisamos nos preparar para esse novo momento da história acreana”, disse. Veja os principais trechos entrevista:

AcreNews – O governo atual mudou o paradigma econômico do estado, notadamente com o advento do agronegócio, o que fez o nosso PIB crescer. Comente sobre isso.

Assurbanípal – Realmente diversificamos a nossa matriz econômica. O produtor acreano tem um enorme potencial, apesar de não termos ainda uma cultura empreendedora nos municípios. O governador deu liberdade para trabalhar, principalmente nos mecanismos de licenciamento, de forma legal, obviamente. O milho, a soja e o café são alguns destaques da nossa produção. Essas culturas têm um dos mais elevados níveis de produção do país. Neste mesmo período, também houve um crescimento do setor madeireiro. Existia muita insegurança jurídica, portanto, quase não havia investimento empresarial.


AcreNews – Quais são as propostas ou soluções para tirar o Acre do subdesenvolvimento?

Assurbanípal – A resposta não vai estar em um único caminho, ou seja, precisamos de várias saídas. Uma delas é o agronegócio, uma vez que já se mostrou viável. Um exemplo disso são os produtores de suínos que temos na região do Alto Acre. A produção de café, que chegou em quase todos municípios, também é um investimento exitoso. Outra saída é a nossa floresta, que tem vários vieses, e um enorme potencial. Temos também pecuária de corte, que precisa se expandir, ou seja, aumentar o rebanho através da criação em confinamentos. Por fim, temos que apoiar as indústrias para processar as matérias primas, que temos em abundância, sobretudo as vocacionais. A intenção é parar de exportar os nossos produtos in natura. O Acre tem um potencial gigante para o turismo, notadamente com os festivais indígenas, com as comunidades tradicionais, como a Serra do Divisor e o Croa, e com o turismo religioso. Ainda não conseguimos transformar isso em ativo, embora tenha havido um avanço muito grande na organização desse setor.

AcreNews – O senhor esteve na China e no Peru e pôde ter contato com a proposta de criação de um novo corredor de exportação e importação mundial. Esse novo modal cortaria o Brasil, inclusive passando pelo Acre. Comente sobre isso.

Assurbanípal – Esse é um componente geopolítico estratégico. O Acre sempre teve esse desejo de se integrar com o Peru. Temos mercados consumidores próximos e estamos no centro. A ligação com o Pacifico, por Assis Brasil, foi um marco importante para esse novo momento. A pandemia fez essa rota crescer, uma vez as outras estavam saturadas. Dessa forma, houve um salto nas exportações pelo Acre, que atingiu 85 milhões de dólares, quase o dobro do ano passado. Eu destaco a produção agropecuária, a castanha e a madeira como os principais produtos. Podemos dizer que o Acre é exportador de ração e botas, por exemplo. Temos expectativa desse corredor, inclusive com a inauguração desse novo porto no Peru. Acre está ao lado disso. Uma coisa é a exportação, que já está acontecendo, e a outra é a importação que vai criar inúmeras frentes de negócios, ou seja, podemos ser distribuidores desses produtos estrangeiros. Este ano já manifestamos essa intenção para os investidores chineses.


AcreNews – Trocando de assunto, por que as indústrias de fármacos e cosméticos não se instalam no Acre?

Assurbanípal – Nos últimos três anos, tem aumentado a maturidade desse componente no desenvolvimento acreano. Estamos buscando novos mercados e agora a inovação, que significa o melhoramento de produtos e serviços. Também temos novas ideias de negócios, a partir da nossa biodiversidade, que dá origem a produtos diferenciados. Temos um cientista que desenvolveu um fármaco que pode tratar dependentes químicos. É um empreendedor acreano. Outra acreana extraiu da copaíba propriedades do canabidiol. Ela fundou uma empresa e tem autorização da Anvisa. Existem empresas novas que surgem a partir de ideias inovadoras e que têm potencial de crescer rapidamente, ou seja, são startups. Temos mais de duzentas dessas no Acre. Esses produtos são muito valiosos no mercado brasileiro e internacional. A nossa missão é apoiar e potencializar esses negócios. E vamos estudar ainda mais as cadeias produtivas existentes em nossa região. A Ciência, a tecnologia e a inovação irão dar up grade na nossa economia.

AcreNews – Entre 1904 a 1912, o Acre gerou muitas divisas para o Brasil, principalmente com a exportação da borracha. O senhor não acha que a União tem uma dívida histórica com o Acre? E isso não poderia vir através de aportes financeiros para alavancar a nossa economia?

Assurbanípal – A União é um dos atores políticos. O governo criou o plano decenal, ou seja, um planejamento a longo prazo que foi feito a muitas mãos. Temos, também, as emendas parlamentares que podem ser revertidas para resolver os problemas estruturantes do estado. Elas totalizam cerca de R$ 800 milhões todo ano. É um recurso significativo, que pode e deve ser canalizado para a resolução de problemas como os ramais, as pontes de concreto, a reconstrução da BR-364, a criação de agroindústrias e o apoio à produção agrícola familiar. Existem outras fontes de financiamento, mas as emendas parlamentares são as mais apropriadas e viáveis.

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