Traders de café pagam US$ 7 bilhões em chamadas de margem em um mês difícil
Por Bloomberg
Em Minas Gerais, no Brasil – o maior estado produtor de café do maior produtor mundial do grão – os agricultores e exportadores geralmente comemoram o aumento dos preços da commodity cafeinada.
Mas não neste ano.
Depois de várias colheitas decepcionantes, um aumento acentuado nos preços deixou alguns produtores de renome lutando para ajustar suas finanças depois de se verem sem dinheiro suficiente para cobrir seus hedges na bolsa de Nova York.
A Atlântica Exportação e Importação, por exemplo, que diz ser responsável por 8% das vendas de arábica do Brasil, pediu na semana passada a um juiz mais tempo para negociar com os credores a fim de evitar a declaração de falência. A empresa irmã Cafebras Comércio de Cafés do Brasil está buscando o mesmo período de carência de 60 dias. Observadores do setor dizem que não serão as últimas.
“O pânico atingiu o mercado com rumores de que outras empresas comerciais também poderiam enfrentar sérios problemas”, disse Marcelo Moreira, especialista em café da Archer Consulting.
Os preços futuros dos grãos de café arábica – a variedade preferida para as bebidas de alta qualidade – estão em alta, saltando cerca de 70% entre janeiro e o final de novembro, atingindo o valor mais alto em mais de quatro décadas. Desde então, os futuros diminuíram um pouco, mas não o suficiente para conter a dor.
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Quando os preços sobem, os corretores exigem que os produtores e exportadores de café coloquem mais dinheiro na forma de depósitos de margem para cobrir possíveis perdas. Alguns traders que venderam futuros são forçados a comprá-los de volta para se afastarem do mercado, elevando ainda mais os preços em um ciclo vicioso. Moreira estima que cerca de US$ 7 bilhões foram depositados em chamadas de margem durante o mês de novembro.
Os preços do Arábica permaneceram praticamente estáveis na terça-feira (3), depois de terem subido até 1,6% em Nova York.
Na Montesanto Tavares Group Participações, proprietária da Atlântica e da Cafebras, o custo para manter os hedges saltou de 74% em maio para incríveis 158% das contas a receber em novembro, de acordo com um processo judicial visto pela Bloomberg News. “As constantes chamadas de margem tornaram a estrutura de caixa de curto prazo insustentável”, diz o documento assinado pelos advogados da Atlântica e da Cafebras.
A alta dos preços do café está empurrando o mercado para um ponto de ruptura, ecoando os problemas recentes em outras commodities importantes. No gás natural, os preços saíram do controle após a invasão da Ucrânia pela Rússia, forçando os governos nacionais a socorrer algumas empresas de serviços públicos europeias. No início deste ano, os futuros do cacau subiram para o valor mais alto em dados que remontam a 1960, devido a uma escassez de oferta global, desencadeando inadimplências e litígios entre as empresas comerciais. Como muitos dos principais traders negociam com várias commodities, a alta do café apenas aumenta seu sofrimento.
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“As altas taxas de margem são um enorme estresse no lado financeiro e, para as empresas comerciais com contratos de café e cacau, é um golpe duplo”, disse Judy Ganes, presidente da J. Ganes Consulting.
Além do estresse financeiro, o mercado de café também está sofrendo com os altos custos e ineficiências de logística. Os vendedores de café gastaram mais R$ 7 milhões (US$ 1,2 milhão) este ano em espaço de armazenamento adicional e taxas portuárias, informou o grupo de exportadores brasileiros Cecafé. Os custos de transporte entre os países produtores de café na Ásia e os mercados consumidores na Europa também estão aumentando em meio à crise no Mar Vermelho. Além disso, estão aumentando as preocupações de que a próxima safra de café arábica será menor devido a uma grave seca.
“É o movimento mais agressivo de que me lembro em termos de reajustes de preços domésticos em uma janela muito curta”, escreveu o corretor Thiago Cazarini em um relatório. Entre os custos mais altos de empréstimos e os custos operacionais, “tudo isso está levando a uma atmosfera estressante, para não dizer, destruidora de negócios”.
Exportadores de café do Brasil buscam renegociação da dívida
A alta dos futuros do café, que está aumentando o custo financeiro das operações no mercado, levou duas empresas exportadoras do Brasil, o maior fornecedor mundial, a buscar a renegociação de suas dívidas.
As empresas, Atlântica Exportação e Importação e Cafebras Comércio de Cafés do Brasil, entraram com um pedido conjunto em um tribunal local solicitando um período de carência de 60 dias. Esse é um passo preliminar que as empresas podem usar enquanto renegociam com os credores, a fim de evitar passar por um processo formal de proteção contra falência, disse Daniel Vilas Boas, advogado das empresas.
Em um documento apresentado pelos advogados das empresas ao tribunal e visto pela Bloomberg, a Atlantica é descrita como uma das principais exportadoras de café arábica do Brasil, com uma participação de 8% nas vendas. Ambas as empresas fazem parte do Grupo Montesanto Tavares Participações SA, com sede no estado brasileiro de Minas Gerais.
A medida ilustra como um aumento acentuado nos preços do café pode se tornar um fardo para os exportadores, que compram e vendem suprimentos físicos de café e usam o mercado de futuros para fazer hedge. Com os futuros do café arábica subindo mais de 70% este ano, eles estão tendo que lidar com o aumento dos custos de hedging devido a chamadas de margem mais altas.
“O aumento imprevisível dos preços observado em 2024 teve uma enorme consequência em suas finanças, estressando ainda mais seu fluxo de caixa, uma vez que começaram a sofrer constantes chamadas de margem”, de acordo com o documento datado de 26 de novembro.
Em uma carta assinada pela equipe de administração das empresas, a Atlantica e a Cafebras disseram que continuam a operar normalmente. “Reafirmamos nossa confiança na superação dessas dificuldades”, afirmaram.
Os contratos futuros de café em Nova York ampliaram sua alta desenfreada na quarta-feira, atingindo o nível mais alto em mais de quatro décadas.
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