26 de mar. de 2021

Presidente do CFM critica "politização" do tratamento precoce e apoia vacinação em massa contra a Covid

O médico sul-mato-grossense Mauro Ribeiro prega a autonomia dos profissionais no combate à doença e não vê eficácia na adoção de lockdown

O presidente do CFM (Conselho Federal de Medicina), Mauro Luiz de Britto Ribeiro
(Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

acritica.net- Nos últimos dias, com o agravamento da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), voltaram à tona questões surgidas há um ano, como o tratamento precoce contra a doença e a aplicação ou não de vacinas para imunizar contra o vírus. A reportagem do Jornal A Crítica entrou em contato com o presidente do CFM (Conselho Federal de Medicina), Mauro Luiz de Britto Ribeiro, que mora em Campo Grande (MS) e trabalha na Santa Casa e no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, para saber a opinião a respeito da atuação situação no Estado, no Brasil e no mundo.

Mauro Ribeiro foi enfático ao criticar a "politização" sobre o tratamento precoce contra a Covid-19 e ao defender a vacinação, completando que a imunização é a grande contribuição da ciência no combate à doença. "Sobre a eficácia ou não do tratamento precoce contra a Covid-19, a literatura médica não tem um consenso sobre isso, pois há trabalhos mostrando que é eficaz e outros dizendo que não tem eficácia nenhuma. Ambos, no entanto, são muito criticáveis, pois a ciência não tem uma conclusão sobre a efetividade ou não a respeito disso", alertou.

Nesse sentido, ele reforça que o CFM delegou aos médicos, no âmbito da sua autonomia constitucional dentro do consultório, definir com o paciente qual tratamento será utilizado. "A decisão cabe ao médico em comum acordo com o paciente, pois, na Medicina, cada caso é um caso. O profissional de saúde não pode usar o mesmo procedimento utilizado em um paciente com 20 anos de idade, sem qualquer tipo de comorbidades, em um paciente com mais de 60 anos, com várias comorbidades, pois são casos completamente diferentes", ressaltou.

Pesquisa nacional - O presidente revelou à reportagem que já solicitou à assessoria de comunicação do Conselho a realização de uma pesquisa nacional, já no mês de abril, para saber qual o percentual de médicos que indicam o tratamento precoce contra a Covid-19 para os seus pacientes e qual o percentual de pacientes que desejam receber o tratamento precoce. "Muitos querem ser tratados com hidroxicloroquina e ivermectina, mesmo que literatura médica não seja conclusiva sobre esse tratamento, de forma cabal e definitiva. Por isso, o CFM delegou ao médico, em comum acordo com o paciente, qual o melhor tratamento contra a Covid-19", relembrou.

Para o especialista, a "politização" desta questão fez com que o tratamento precoce fosse execrado, mesmo sem comprovação científica da sua eficácia ou não. "Em razão disso, o CFM não incentiva e nem proíbe, deixamos a cargo do médico o que será feito em respeito ao profissional que está na ponta da pandemia. Porém, graças a essa politização, o CFM é tratado como 'bolsonarista' ou 'negacionista' porque fazemos questionamentos e porque procuramos ver o que está acontecendo no mundo, afinal, essa doença está matando em todo o planeta, seja nos Estados Unidos, seja em Portugal, seja na Alemanha, seja na Índia, seja na África ou seja no Brasil, onde 300 mil brasileiros já perderam a vida", lembrou.

Na avaliação Mauro Ribeiro, o Brasil vive a sua maior catástrofe dos últimos 1.500 anos. "Estamos vivenciando o momento sanitário mais trágico do nosso País, tão trágico que não escolhe segmentos da população, é altamente transmissível e é letal. Essa doença exige o distanciamento das pessoas, causa a falência das empresas, provoca milhares de demissões e, quando a pessoa está doente, tem de ficar sozinha, justamente quando está mais fragilizada", lamentou.

Busca por culpados - O presidente do CFM ainda pontuou que a narrativa do Brasil é sempre procurar o culpado por tudo que acontece de ruim ao País. "Hoje, a onda é acusar o presidente Jair Bolsonaro de genocida, transformar o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em vilão e até o novo ministro Marcelo Queiroga já está sendo trucidado pela grande imprensa sem nem ter começado a trabalhar direito ainda. O povo tem de entender que o presidente não tem culpa, o governador João Dória também não tem culpa, não temos culpados, claro que têm ações que devem ser criticadas, mas, fora isso, não há um grande culpado por essa pandemia", analisou.

Sobre a decretação ou não de lockdown, Mauro Ribeiro critica o fato de a grande imprensa ter decidido que essa ação é a melhor a ser feita pelas autoridades governamentais e quem critica a medida é taxado como negacionista. "Na Alemanha, o Governo teve de pedir desculpa por ter informado que seria decretado lockdown na Semana Santa. A primeira-ministra recuou da decisão por entender que fechar tudo não resolve o problema, não está comprovado pela ciência que o lockdown é a solução, pois há inúmeros casos de que a medida não surtiu efeito nenhum, pelo contrário, o número de infectados até aumentou", declarou.

Para o especialista, o lockdown é questionável e não tem consenso acadêmico nenhum. "Qual foi a medida adotada desde que a doença surgiu que preveniu em 100% a transmissão do vírus? Qual o tratamento estabelecido até agora com comprovação científica? As respostas para essas duas perguntas são vacina e terapia intensiva, o resto é tudo questionável. A Covid-19 só tem um ano e meio de idade e não sabemos coisas básicas sobre ela, como se realmente a pessoa que já contraiu está mesmo imune", argumentou.

Vacinação - Mauro Ribeiro ressalta que o CFM está em campanha pela vacinação em massa da população brasileira e, enquanto isso não for possível, o conselho é distanciamento social, sem aglomeração de pessoas, uso de máscara, higienização das mãos e não tocar nas mucosas com as mãos sem antes fazer uso de álcool em gel ou lavar com água e sabão. "Teoricamente, se você lavar as mãos antes de tocar as mucosas, usar máscaras e manter o distanciamento, dificilmente vai ser contaminado pelo vírus", assegurou.

O especialista lembra que o Brasil já é o 5º pais do Mundo que mais aplicou a vacina contra a Covid-19 e o novo ministro da Saúde comunicou que o Governo Federal comprou a quantidade necessária para imunizar toda a população brasileira, faltando apenas que as doses sejam entregues. "Nós temos coisas boas, o nosso programa de imunização conta com cerca de 50 mil postos de vacinação, portanto, quando a quantidade de vacina suficiente chegar ao País, as doses serão distribuídas por todas as 27 Unidades da Federação e as pessoas serão imunizadas", garantiu.

Para finalizar, o presidente do CFM pontuou que, em meio às incertezas, é preciso defender a autonomia dos profissionais de saúde. "Qual foi a nossa postura sobre o tratamento precoce? Deixar o médico definir o que é melhor para o paciente dele. O CFM não incentiva o tratamento precoce ou o condena, tampouco bane. Falar que a hidroxicloroquina e a ivermectina matam é falácia. Quem quer fazer o tratamento precoce, que faça. Quem não quiser, não faça", finalizou, reforçando a importância da vacinação em massa para acabar com a pandemia.

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