Por Compre Rural
As provas do primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) 2023 foram aplicadas neste domingo (5). Os candidatos resolveram questões das áreas de Linguagens e Ciências Humanas e produziram uma redação. Realizado no fim de semana, a prova apresentou aos estudantes questões com elogios ao escritor Paulo Freire, ataques ao agronegócio e críticas ao capitalismo.
Trata-se da primeira prova sob o governo terceiro mandado do Presidente Lula (PT). O teste é aplicado pelo Ministério da Educação (MEC) e elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, vinculado ao MEC. A avaliação exigiu conhecimentos sobre língua portuguesa, interpretação de texto e redação. A segunda etapa, que envolve matemática e ciências da natureza, vai ocorrer no dia 12.
O que chamou atenção na prova foram os ataques ao agronegócio, setor que é um dos responsáveis pelo desenvolvimento social e econômico do país. Dentro da prova, o ENEM deste ano incluiu em suas questões um estudo que analisa o impacto do agronegócio sobre o campesinato no Cerrado brasileiro, com referências às ideias de Karl Marx.
A inclusão desse conteúdo no exame gerou controvérsia, especialmente pelo agronegócio ser um pilar do crescimento econômico brasileiro e um setor vital para o PIB do país, respondendo por cerca de 25%. Críticos questionam a adequação de utilizar o ENEM, uma ferramenta educacional com o propósito de avaliar e preparar estudantes para o ensino superior, como meio para destruir e criminalizar o setor vital para a segurança alimentar mundial.
Não há muita surpresa, tendo em vista que o documento de referência para a Conferência Nacional de Educação 2024 (Conae), publicado pela Presidência da República e pelo Ministério da Educação (MEC), que tem como objetivo abordar várias questões educacionais, trouxe itens que destaca-se a intenção de reduzir a influência do agronegócio nas salas de aula. Além disso, propõe o fim das escolas cívico-militares no país.
Enem 2023 e os ataques ao agronegócio
A questão 70 (caderno branco) alerta para o “avanço da soja” na Amazônia, que seria responsável pelo desmatamento do bioma, e responsabiliza “grileiros, madeireiros e pecuaristas”. Conforme o gabarito extraoficial divulgado pelo MEC, a resposta que melhor explica o problema é a apropriação de terras devolutas, por esses agentes.
O enunciado da pergunta 89 afirma que, “no Cerrado, o conhecimento local está sendo cada vez mais subordinado à lógica do agronegócio”. Adiante, o texto diz que “de um lado, o capital impõe os conhecimentos biotecnológicos, como mecanismo de universalização de práticas agrícolas e de novas tecnologias, e de outro, o modelo capitalista subordina homens e mulheres à lógica do mercado”.
Por fim, essa “lógica do agro” é associada a supostas consequências negativas, como a “‘pragatização’ dos seres humanos e não humanos, a violência simbólica, a superexploração, as chuvas de veneno e a violência contra a pessoa”.
A resposta correta para a “territorialização da produção” é a letra a): “cerco aos camponeses, inviabilizando a manutenção das condições para a vida”. As demais alternativas propõem “desprezo ao assalariado”, “desrespeito aos governantes”, entre outras.
Controvérsias do Governo Lula no Enem
A controvérsia é agravada pelo contexto de recentes invasões de terras atribuídas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), tanto em Santa Catarina quanto em outras regiões do Brasil. Defensores do agronegócio apontam essas ações como disruptivas e prejudiciais à ordem social e à economia, enquanto os apoiadores do MST as veem como uma forma de resistência dos camponeses frente à expansão do agronegócio e à luta por reforma agrária.
A escolha do material para o ENEM, portanto, é vista por alguns como partidária e tendenciosa, refletindo as tensões sociais e econômicas atuais e reforçando o debate sobre o papel da educação e dos exames nacionais na representação dos diferentes setores da sociedade brasileira.
A questão do ENEM em debate apresentava um trecho do artigo “Territorialização do agronegócio e subordinação do campesinato no Cerrado”, publicado na “Élisée, Revista de Geografia da UEG”. O texto apontava para os efeitos negativos da expansão agrícola sobre os camponeses, como a perda de terras comuns e a imposição de práticas agrícolas biotecnológicas, que submetem a vida rural às demandas do mercado global.
A resposta correta, segundo o gabarito preliminar, enfatizava como esse processo resulta em um “cerco” ao modo de vida camponês, levando à sua inviabilização e à dificuldade de manutenção das condições para a vida rural tradicional.
Agronegócio deve ser combatido urgentemente, diz Governo
“Na mesma linha, se faz urgente a contraposição efetiva do Estado, nas suas diversas esferas federativas, às políticas e propostas ultraconservadoras, garantindo a desmilitarização das escolas, o freio ao avanço de processos e tentativas de descriminalização da educação domiciliar (homeschooling); às intervenções do movimento Escola Sem Partido e dos diversos grupos que desejam promover o agronegócio por meio da educação“, informa o documento publicado.
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