7 de jun. de 2024

Tribo indígena brasileira que recebeu Starlink se vicia em pornô e deixa de caçar


Com povoações ao longo do rio Ituí, os marubos sempre tiveram dificuldade de acessar a internet, já que o local é bastante remoto e não recebe redes de fibra ótica fibra ótica.

Mas em 2022, a Starlink, empresa de Elon Musk, passou a fornecer sinal de internet para toda a região amazônica através de satélites que orbitam a Terra. Com isso, levaram acesso à rede mundial para um dos últimos lugares offline do planeta.


Quem são os marubos

Os marubos habitam o Vale do Javari, terra indígena que foi demarcada pelo governo federal em 2001. Com aproximadamente dois mil membros,  eles sobrevivem com caça, pesca e agricultura.

O estilo de vida foi preservado por centenas de anos, já que vivem em uma área remota e tiveram pouco contato com estranhos. Algumas povoações podem levar até uma semana de viagem no interior da floresta amazônica para se chegar.

Eles falam um idioma próprio – a língua marubo – e praticam rituais religiosos com consumo de ayahuasca, uma planta que pode conduzir quem a consome a um estado alucinógeno.


Marubos vivem na Terra Indígena do Vale do Javari, extremo oeste do estado do Amazonas, com povoações ao longo do rio Ituí – Foto: Reprodução/Google Maps

Desde que a Starlink chegou ao Brasil, em 2022, diversos locais remotos da Amazônia passaram a receber sinal de internet. Na região onde os marubos habitam, o sinal chegou apenas em abril deste ano.

Agora com internet, eles perceberam que poderiam chamar ajuda emergencial de maneira rápida, algo que antes levava dias. Ainda, descobriram que seria possível entrar em contato com os seus amigos e familiares instantaneamente através das redes sociais.

Mas o lado bom da internet também trouxe seus malefícios: ao descobrirem o fácil acesso a conteúdos pornográficos, eles também começaram a compartilhar imagens obscenas e vídeos explícitos nos chats em grupo.

Starlink foi transportada de barco para chegar ao território habitado pelos marubos – Foto: Reprodução/YouTube/NAVI Global/Associação Kapyvanaway


Alfredo Marubo, um membro do grupo, revelou ao New York Times que essa súbita exposição à pornografia desencadeou comportamentos sexuais preocupante entre os jovens habitantes locais.

Enoque Marubo, uma das lideranças do grupo, contou que o cotidiano do local alterou drasticamente no último mês, fazendo que os membros não queiram mais trabalhar. “Mudou tanto a rotina que foi prejudicial. Na aldeia, se você não caça, pesca e planta, você não come”.

Outra liderança, TamaSay Marubo, relatou que a chegada da internet no local afetou principalmente os jovens: “Quando a internet chegou, todos ficaram felizes, mas agora as coisas pioraram. Os jovens ficaram preguiçosos. Estão aprendendo os costumes dos brancos”.

Além do vício em pornografia, os marubos também relatam que vários membros passam maior parte do dia em redes sociais, principalmente o Instagram.


Marubos não querem que internet seja tirada

Apesar das desvantagens que puderam ser observadas no primeiro mês de acesso à internet, muitos membros, incluindo lideranças, admitiram que agora não podem viver sem ela.

“Acho que a internet nos trará muito mais benefícios do que danos”, disse Enoque. “Por favor, não tire nossa internet”, completou TamaSay.

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