Nenhuma vacina tem autorização para ser aplicada em crianças no Brasil; a Pfizer pode ser usada em adolescente com mais de 12 anos
SAÚDE | Hysa Conrado, do R7/As crianças não fazem parte do grupo de risco para a covid-19 |
O que se sabe sobre as vacinas em relação às crianças?
Pfizer: no Brasil, a vacina da Pfizer tem a autorização da Anvisa para ser aplicada em pessoas a partir dos 12 anos. A farmacêutica, em parceria com a BioNTech, já iniciou os estudos para verificar a segurança e a eficácia do imunizante na faixa etária entre 6 meses e 11 anos de idade. A expectativa é de que os primeiros resultados da pesquisa sejam publicados até o final deste ano.
AstraZeneca: a Universidade de Oxford chegou a anunciar um estudo sobre o uso da vacina na faixa etária entre 6 e 17 anos, mas suspendeu as pesquisas depois que problemas envolvendo coágulos sanguíneos raros foram notificados em adultos vacinados com o imunizante.
CoronaVac: a Anvisa negou o pedido do Instituto Butantan para ampliar a autorização de uso emergencial da vacina para crianças entre 3 e 17 anos. Segundo a agência, os dados apresentados sobre a segurança e a eficácia do imunizante na faixa etária foram considerados insuficientes, assim como o número de participantes do estudo.
Na China, país onde o imunizante foi desenvolvido, a aplicação foi liberada para a população pediátrica a partir dos 3 anos com base nos resultados dos estudos de fase 1 e 2; a fase 3 ainda não foi concluída.
Janssen: a Janssen, braço farmacêutico da Johnson & Johnson, tem a aprovação da Anvisa para realizar testes da vacina em adolescentes com idades entre 12 e 17 anos no Brasil, mas não há uma previsão sobre quando o imunizante será testado em crianças.
É o momento para vacinar crianças?
Mesmo se houvesse vacinas aprovadas para a faixa etária, Mônica Levi, diretora da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), ressalta que o cenário da vacinação no Brasil ainda não permite que a imunização se estenda às crianças. Isso porque, até o momento, apenas 25% da população recebeu a segunda dose ou uma vacina de dose única e pode ser considerada completamente imunizada contra o coronavírus.
“As crianças têm que aguardar a disponibilização de vacinas. É desejável que elas se vacinem também, mas elas estão sendo muito menos vitimizadas [pela covid-19], então é um princípio de justiça. No momento, precisamos priorizar salvar vidas. Poupando vidas, depois podemos pensar em diminuir cenários de transmissão e em imunidade de rebanho, mas hoje elas estão sob risco muito menor do que os idosos e os e os grupos de risco”, afirma.
Em relação à vacinação de adolescentes, a especialista afirma que, no momento, o ideal seria priorizar aqueles com comorbidades associadas a quadros graves de covid-19, que sejam gestantes ou que tenham alguma deficiência.
Crianças são grupo de risco para covid-19?
Não, as crianças não são grupo de risco para covid-19 nem estão entre os que mais morrem pela doença. Por outro lado, um levantamento realizado pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) mostrou que as mortes de bebês de até 2 anos representaram cerca de 45% dos 1.207 óbitos registrados por covid-19 entre crianças e adolescentes no Brasil em 2020. Deste total, 28% foram de bebês com idade entre 28 dias até menos de 1 ano.
Neste sentido, Mônica ressalta que enquanto não houver vacinas aprovadas para a faixa etária pediátrica, a melhor forma de proteção é a vacinação dos pais e das pessoas que compartilham do entorno da criança. Essas pessoas também devem seguir as medidas não-farmacológicas de proteção, como o uso de máscaras, higienização das mãos com álcool gel e distanciamento social.
“Não podemos usar as vacinas sem antes ter a segurança de que elas não vão oferecer nenhum risco a essas crianças pequenas, então elas serão as últimas a serem incluídas em uma rotina de vacinação [contra a covid]. Nem sempre podemos vacinar diretamente a faixa etária mais afetada dentre as crianças, mas existem essas estratégias de proteção”, afirma.
Qual a vacina mais indicada para o uso em crianças?
Ainda não é possível dizer qual a melhor vacina para ser usada em crianças enquanto os estudos envolvendo a faixa etária não forem concluídos. No entanto, segundo a diretora da SBIm, a CoronaVac se destaca entre os imunizantes disponíveis.
“A CoronaVac é uma vacina de plataforma antiga [de vírus inativado] e vários outros imunizantes do calendário infantil são feitos da mesma maneira, como a vacina contra a hepatite e raiva”, explica a especialista.
O que deve ser levado em conta na hora de vacinar crianças?
Além do cenário que permita a disponibilização de vacinas para as crianças, Mônica destaca que é preciso levar em conta o desempenho dos imunizantes durante os testes realizados na população pediátrica. Isso porque, segundo explica a especialista, o sistema imunológico das crianças se comporta de forma diferente em comparação aos adultos.
“Não é necessário só que o imunizante não faça mal, ele precisa ser eficaz e seguro para as crianças. É o momento de caprichar nas outras medidas para proteger essa faixa etária por enquanto”, afirma.
Primeira vacina a ser usada no Brasil, a CoronaVac permite um intervalo entre 14 e 28 dias. Mas para o infectologista Renato Kfouri, membro da diretoria da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) e do Comitê Técnico Assessor do Programa Nacional de Imunizações, há mais vantagens no espaço maiorMATHEUS SCIAMANA/PHOTOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
'Não temos muitas informações para além de 28 dias. Temos dados mostrando que a efetividade, a proteção, dentro dos estudos clínicos e na prática se mostrou melhor com quatro semanas de intervalo. É um intervalo que não deveríamos alterar. A proteção [da primeira dose] se sustenta por 28 dias', acrescenta Kfouri
MISTER SHADOW/ASI/ESTADÃO CONTEÚDO
Kfouri, porém, afirma que Pfizer e AstraZeneca deveriam ter o intervalo reduzido para oito semanas, com objetivo de facilitar a logística. 'Você termina mais rápido o esquema, atinge a proteção ideal e já vai acelerando o término do esquema de outras pessoas'
ADRIANO ISHIBASHI/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO
Um estudo feito na Inglaterra e publicado recentemente no New England Journal of Medicine mostrou que apenas uma dose das vacinas Pfizer e AstraZeneca confere proteção de 30,7% contra casos sintomáticos de covid-19 provocados pela variante Delta do coronavírus
FABRÍCIO COSTA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Com o esquema completo, a proteção sobe para 79,6%. Mas o representante da SBIm salienta que a primeira dose destes dois imunizantes pode não evitar a infecção pela Delta, mas aumenta a proteção contra o agravamento da doença
ERBS JR./FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Atenção:
Comentários ofensivos a mim ou qualquer outra pessoa não serão aceitos.