22 de ago. de 2021

O que se sabe sobre vacinas contra a covid-19 para crianças

Nenhuma vacina tem autorização para ser aplicada em crianças no Brasil; a Pfizer pode ser usada em adolescente com mais de 12 anos

SAÚDE | Hysa Conrado, do R7/As crianças não fazem parte do grupo de risco para a covid-19


Hysa Conrado - Até o momento, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) não autorizou a aplicação de nenhuma vacina contra a covid-19 em crianças. O imunizante da Pfizer é o único com autorização para ser usado em adolescentes com mais de 12 anos e já é aplicado nesta faixa etária em algumas cidades do país onde a imunização de adultos avançou.

O que se sabe sobre as vacinas em relação às crianças?

Pfizer: no Brasil, a vacina da Pfizer tem a autorização da Anvisa para ser aplicada em pessoas a partir dos 12 anos. A farmacêutica, em parceria com a BioNTech, já iniciou os estudos para verificar a segurança e a eficácia do imunizante na faixa etária entre 6 meses e 11 anos de idade. A expectativa é de que os primeiros resultados da pesquisa sejam publicados até o final deste ano.

AstraZeneca: a Universidade de Oxford chegou a anunciar um estudo sobre o uso da vacina na faixa etária entre 6 e 17 anos, mas suspendeu as pesquisas depois que problemas envolvendo coágulos sanguíneos raros foram notificados em adultos vacinados com o imunizante.

CoronaVac: a Anvisa negou o pedido do Instituto Butantan para ampliar a autorização de uso emergencial da vacina para crianças entre 3 e 17 anos. Segundo a agência, os dados apresentados sobre a segurança e a eficácia do imunizante na faixa etária foram considerados insuficientes, assim como o número de participantes do estudo.

Na China, país onde o imunizante foi desenvolvido, a aplicação foi liberada para a população pediátrica a partir dos 3 anos com base nos resultados dos estudos de fase 1 e 2; a fase 3 ainda não foi concluída.

Janssen: a Janssen, braço farmacêutico da Johnson & Johnson, tem a aprovação da Anvisa para realizar testes da vacina em adolescentes com idades entre 12 e 17 anos no Brasil, mas não há uma previsão sobre quando o imunizante será testado em crianças.

É o momento para vacinar crianças?

Mesmo se houvesse vacinas aprovadas para a faixa etária, Mônica Levi, diretora da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), ressalta que o cenário da vacinação no Brasil ainda não permite que a imunização se estenda às crianças. Isso porque, até o momento, apenas 25% da população recebeu a segunda dose ou uma vacina de dose única e pode ser considerada completamente imunizada contra o coronavírus.

“As crianças têm que aguardar a disponibilização de vacinas. É desejável que elas se vacinem também, mas elas estão sendo muito menos vitimizadas [pela covid-19], então é um princípio de justiça. No momento, precisamos priorizar salvar vidas. Poupando vidas, depois podemos pensar em diminuir cenários de transmissão e em imunidade de rebanho, mas hoje elas estão sob risco muito menor do que os idosos e os e os grupos de risco”, afirma.

Em relação à vacinação de adolescentes, a especialista afirma que, no momento, o ideal seria priorizar aqueles com comorbidades associadas a quadros graves de covid-19, que sejam gestantes ou que tenham alguma deficiência.

Crianças são grupo de risco para covid-19?

Não, as crianças não são grupo de risco para covid-19 nem estão entre os que mais morrem pela doença. Por outro lado, um levantamento realizado pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) mostrou que as mortes de bebês de até 2 anos representaram cerca de 45% dos 1.207 óbitos registrados por covid-19 entre crianças e adolescentes no Brasil em 2020. Deste total, 28% foram de bebês com idade entre 28 dias até menos de 1 ano.

Neste sentido, Mônica ressalta que enquanto não houver vacinas aprovadas para a faixa etária pediátrica, a melhor forma de proteção é a vacinação dos pais e das pessoas que compartilham do entorno da criança. Essas pessoas também devem seguir as medidas não-farmacológicas de proteção, como o uso de máscaras, higienização das mãos com álcool gel e distanciamento social.

“Não podemos usar as vacinas sem antes ter a segurança de que elas não vão oferecer nenhum risco a essas crianças pequenas, então elas serão as últimas a serem incluídas em uma rotina de vacinação [contra a covid]. Nem sempre podemos vacinar diretamente a faixa etária mais afetada dentre as crianças, mas existem essas estratégias de proteção”, afirma.

Qual a vacina mais indicada para o uso em crianças?

Ainda não é possível dizer qual a melhor vacina para ser usada em crianças enquanto os estudos envolvendo a faixa etária não forem concluídos. No entanto, segundo a diretora da SBIm, a CoronaVac se destaca entre os imunizantes disponíveis.

“A CoronaVac é uma vacina de plataforma antiga [de vírus inativado] e vários outros imunizantes do calendário infantil são feitos da mesma maneira, como a vacina contra a hepatite e raiva”, explica a especialista.

O que deve ser levado em conta na hora de vacinar crianças?

Além do cenário que permita a disponibilização de vacinas para as crianças, Mônica destaca que é preciso levar em conta o desempenho dos imunizantes durante os testes realizados na população pediátrica. Isso porque, segundo explica a especialista, o sistema imunológico das crianças se comporta de forma diferente em comparação aos adultos.

“Não é necessário só que o imunizante não faça mal, ele precisa ser eficaz e seguro para as crianças. É o momento de caprichar nas outras medidas para proteger essa faixa etária por enquanto”, afirma.

Com a primeira dose já aplicada na maioria dos adultos, algumas cidades brasileiras começam a discutir a antecipação da segunda dose de alguns dos imunizantes. Veja a seguir quais os intervalos de cada vacina e se há vantagens para quem toma em reduzir o espaço entre as injeções
Estadão Conteúdo/Montagem/R7

Primeira vacina a ser usada no Brasil, a CoronaVac permite um intervalo entre 14 e 28 dias. Mas para o infectologista Renato Kfouri, membro da diretoria da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) e do Comitê Técnico Assessor do Programa Nacional de Imunizações, há mais vantagens no espaço maiorMATHEUS SCIAMANA/PHOTOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

'Não temos muitas informações para além de 28 dias. Temos dados mostrando que a efetividade, a proteção, dentro dos estudos clínicos e na prática se mostrou melhor com quatro semanas de intervalo. É um intervalo que não deveríamos alterar. A proteção [da primeira dose] se sustenta por 28 dias', acrescenta Kfouri

MISTER SHADOW/ASI/ESTADÃO CONTEÚDO

No caso da vacina da AstraZeneca, produzida no Brasil pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), os estudos mostram uma eficácia maior (80%) com a segunda dose 12 semanas após a primeira. A bula, todavia, recomenda que a injeção seja administrada entre quatro e 12 semanas, mas o Ministério da Saúde adotou o esquema mais longo

ADRIANO ISHIBASHI/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO

Kfouri diz que, se for para reduzir o intervalo, o ideal seria para oito semanas. 'Encurtamentos de 12 para 8 não alteram a eficácia nem no período interdoses nem no período pós-segunda dose. A própria OMS recomenda não usar intervalos mais curto do que seis semanas para AstraZeneca.'

EVANDRO LEAL/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO

É importante ressaltar que a primeira dose da vacina da AstraZeneca já confere uma proteção significativa contra casos graves, hospitalizações e mortes. Por esta razão que os especialistas confiam em um espaço maior

MAURO AKIIN NASSOR/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO


O mesmo ocorre com a vacina da Pfizer/BioNTech. Embora a bula recomende 21 dias, estudos de vida real mostram que não há prejuízo para os pacientes em estender esse período. No Brasil, o Ministério da Saúde adotou o esquema de 12 semanas, mas já deve retornar ao recomendado na bula, conforme anúncio feito nesta quarta-feira (18)

Denis Balibouse/Reuters

Kfouri, porém, afirma que Pfizer e AstraZeneca deveriam ter o intervalo reduzido para oito semanas, com objetivo de facilitar a logística. 'Você termina mais rápido o esquema, atinge a proteção ideal e já vai acelerando o término do esquema de outras pessoas'

ADRIANO ISHIBASHI/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO

Um estudo feito na Inglaterra e publicado recentemente no New England Journal of Medicine mostrou que apenas uma dose das vacinas Pfizer e AstraZeneca confere proteção de 30,7% contra casos sintomáticos de covid-19 provocados pela variante Delta do coronavírus

FABRÍCIO COSTA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Com o esquema completo, a proteção sobe para 79,6%. Mas o representante da SBIm salienta que a primeira dose destes dois imunizantes pode não evitar a infecção pela Delta, mas aumenta a proteção contra o agravamento da doença

ERBS JR./FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Atenção:
Comentários ofensivos a mim ou qualquer outra pessoa não serão aceitos.