Óleo essencial de pimenta-de-macaco tem potencial para tratar doenças de peixes Photo: Francisco Celio |
Francisco Celio - O óleo essencial da pimenta-de-macaco mostrou-se eficiente para o controle de endoparasita responsável por significativas perdas econômicas em criações de várias espécies de peixes
O óleo essencial da pimenta-de-macaco mostrou-se eficiente para o controle de endoparasita responsável por significativas perdas econômicas em criações de várias espécies de peixes
Planta nativa é rica em dilapiol, substância que apresenta propriedades anti-infecciosas e antiparasitárias.
Apresentou em experimentos boas respostas relacionadas à atividade antibacteriana in vitro e como antiparasitário ao controlar endo e ectoparasitos, como monogenea e acantocéfalos.
Resultados foram obtidos em laboratório e ainda devem ser testados em campo, mas abrem caminho para futuros produtos de base natural para substituir medicamentos veterinários convencionais.
Planta ocorre na Região Amazônica e produz boa quantidade de óleo essencial.
Pesquisadores também avaliaram o comportamento do óleo em organismos aquáticos não alvo e determinaram parâmetros seguros para seu uso.
O óleo essencial da pimenta-de-macaco (Piper aduncum), planta nativa da Amazônia, apresentou mais de 76% de eficácia no controle de parasitas monogenéticos do peixe pirarucu (Arapaima gigas). O resultado foi observado em uma pesquisa que avaliou esse óleo a fim de substituir medicamentos veterinários. Os pesquisadores também determinaram parâmetros seguros para que o seu uso não comprometa outros organismos aquáticos. Essa avaliação é importante caso os efluentes da aquicultura atinjam os corpos d'água nas áreas vizinhas e contenham traços do produto. O trabalho foi desenvolvido por cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da Embrapa Meio Ambiente (SP) e da Embrapa Amazônia Ocidental (AM) no âmbito do projeto BRS Aqua.
O óleo essencial de Piper aduncum mostrou ser eficiente e seguro para o controle de Hysterothylacium sp., um endoparasita responsável por significativas perdas econômicas em criações de várias espécies de peixes, incluindo o pirarucu, conforme estudos conduzidos por pesquisadores da Embrapa Amazônia Ocidental.
Aplicações
“Dependendo do objetivo, as aplicações são feitas por meio de banhos – para avaliação da atividade anestésica e no controle de alguns parasitos – ou via oral, na dieta dos peixes para avaliação imunoestimulante e em desafios com bactérias”, explica a pesquisadora da Embrapa Edsandra Chagas.
“Nossa equipe tem tido boas respostas quanto à atividade anestésica, atividade antibacteriana in vitro e como antiparasitário no controle de endo e ectoparasitos, como monogenea e acantocéfalos”, conta a pesquisadora ao revelar que a equipe realiza trabalhos também com outros óleos essenciais. Um estudo publicado pela equipe no Journal of Essencial Oil Research traz resultados de experimentos com esses óleos em tambaquis.
A cientista relata que os resultados dos estudos foram promissores, embora sejam relacionados apenas à escala laboratorial. Para que seja adotado na piscicultura, ela informa que serão necessários estudos de validação no campo, que ainda não estão previstos.
A pesquisadora da Unicamp Patrícia Miura conta que a motivação do estudo surgiu da carência de informações sobre o comportamento desse óleo essencial contra organismos aquáticos não alvo ou seja, os não visados. Por isso, o grupo de pesquisadores decidiu realizar avaliações ecotoxicológicas para determinar parâmetros para o seu uso seguro em diferentes espécies de organismos aquáticos. “Portanto, esse estudo foi importante para assegurar que o seu uso não comprometa organismos aquáticos não alvo”, explica o pesquisador Félix Reyes, da Unicamp.
Para Miura, o trabalho abre caminho para o uso de produtos naturais para controlar bactérias e larvas de nematoides na piscicultura. “Esses organismos causam significativas perdas na aquicultura, e seu controle poderá ser feito também com outros óleos essenciais que também apresentaram eficácia comprovada nos testes”, acredita a cientista.
Tratamento natural para peixes
Foto do pirarucu: Siglia Souza |
Os óleos essenciais têm sido considerados um método viável de prevenção e tratamento de doenças na aquicultura, causando menos efeitos ambientais adversos do que medicamentos veterinários. Eles têm mostrado interessantes propriedades para a aquicultura quando administrados corretamente, tais como sedativo, anestésico, antimicrobiano, imunomodulação e atividade redutora de estresse.
No entanto, é importante considerar que substâncias ativas derivadas podem ser estressoras ou mesmo tóxicas se as condições (forma de administração, concentração usada, ações específicas da espécie, quimiotipo e composição química) não forem adequadas
Útil para tratar várias doenças
O óleo essencial de P.aduncum tem sido avaliado para uma ampla gama de aplicações na piscicultura: como anestésico, imunoestimulante, antibacteriano e antiparasitário. “Além disso, esse óleo é descrito como tendo atividades inseticidas, moluscicidas e citotóxicas, possivelmente associadas à sua composição química. É rico em dilapiol, substância à qual é atribuída parte dos efeitos anti-infecciosos e antiparasitários”, explica o pesquisador da Embrapa Claudio Jonsson.
Inicialmente, para a avaliação de risco ecológico do óleo essencial de P. aduncum, foi necessária a caracterização química a fim de conhecer o teor do principal componente, o dilapiol. Para isso foi realizada a sua quantificação por meio da técnica cromatografia gasosa, que identificou o teor de 75,5% da substância no óleo. De acordo com a pesquisadora da Embrapa Sonia Queiroz, essa análise é importante, uma vez que a composição do óleo pode mudar em função da região, clima, solo, época de colheita, entre outros fatores relacionados ao local de onde a planta se origina.
“Após a composição química da amostra ter sido analisada, a sua concentração de risco foi determinada utilizando cinco organismos não alvo: uma microalga (Raphidocelis subcapitata), sementes de alface (Lactuca sativa L.), um nematoide (Panagrolaimus sp.) e dois microcrustáceos (Daphnia magna e Artemia salina)”, relata Jonsson.
Um parâmetro útil nesse contexto é a concentração de risco, que protege 95% das espécies em uma comunidade e pode ser prevista a partir de um número reduzido de dados toxicológicos. Com base nesse cálculo, a concentração mais segura indicada para utilização do óleo na produção aquícola, sem comprometer a biota, foi de 0,09 mg por litro.
Conforme explica o pesquisador, para determinar essa concentração, a distribuição de sensibilidade das espécies é realizada por um programa computacional, estimada com dados de toxicidade de pelo menos cinco espécies pertencentes a no mínimo quatro grupos taxonômicos.
A pimenta-de-macaco
Foto da pimenta-de-macaco: Francisco Célio |
Foram registradas atividades mais importantes desse óleo essencial como antibacteriano, leishmanicido, antifúngico, antioxidante, citotóxico/anticâncer, larvicida/inseticida, antiplaquetário, moluscicida e antiviral. Tem sido usado também em aplicações na agricultura, em combate a pragas como a broca-dos-frutos e o percevejo (leia aqui).
Planta nativa do Brasil, a pimenta-de-macaco é fonte de óleo essencial relativamente abundante, obtido a partir das folhas e galhos finos.
Pode ser encontrada desde o nível do mar até altitudes consideráveis. Sua distribuição geográfica se dá na América Central, Antilhas e América do Sul. No Brasil, é encontrada nos estados do Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Mato Grosso, Ceará, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná
Autores
Participaram da pesquisa Patrícia Miura e Feliz Reyes, da Universidade Estadual de Campinas; Claudio Jonsson e Sonia Queiroz, da Embrapa Meio Ambiente; Edsandra Campos Chagas e Francisco Maia Chaves, da Embrapa Amazônia Ocidental. O trabalho foi realizado no âmbito do projeto BRS Aqua, patrocinado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e parte de seus resultados foi publicada em artigo na revista Acta Amazônica.
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