31 de ago. de 2021

Participação brasileira no campo aeroespacial

Em palestra, o presidente da Agência Espacial Brasileira mostrou como a AEB tem trabalhado para crescer no setor espacial


Em palestra realizada na última quarta-feira (25), o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB/MCTI), Carlos Moura, mostrou aos doutorandos do Programa de Pós-Graduação da Universidade da Força Aérea (UNIFA) o cenário espacial brasileiro e a importância do trabalho de várias gerações que se dedicaram a avançar o setor. Com o título “A Agência Espacial Brasileira no contexto do Poder Aeroespacial”, a apresentação mostrou várias facetas do trabalho da Agência e também os investimentos e ações para o futuro do setor espacial brasileiro.

No mundo todo, têm aumentado os investimentos no setor espacial. Para além dos países com tradição no setor, como Estados Unidos e Rússia, diversos outros vêm aplicando grandes aportes financeiros em pesquisa e desenvolvimento, assim como negócios no setor. No evento, comentou-se sobre casos interessantes envolvendo Índia, China, França, Canadá, Japão, Argentina, Coréia do Sul e Austrália. Carlos Moura ressaltou o programa espacial indiano como um exemplo de crescimento rápido e consistente, na medida em que perceberam a importância de investir no espaço, mesmo em um país com desafios socioeconômicos até maiores que os brasileiros.

Moura fez questão de realçar uma foto que encontrou quando foi à Índia - por ocasião do lançamento do Amazonia 1, onde aparecem partes de foguetes e satélites sendo transportados em padiolas e carroças. “Chama-nos a atenção o orgulho que eles têm de mostrar como foi o início, a longa caminhada, motivo de orgulho e superação. Este tipo de trabalho tem que ser teimoso, no sentido de se ter tenacidade e perseverança. É o pragmatismo e a consistência de um país com situações sociais e econômicas muito mais desafiantes que o nosso, mas que chegou lá”, disse o presidente.

O Brasil foi um dos pioneiros quando criou seu programa espacial nos anos 60. Entretanto, com diversas outras nações percebendo e investindo na exploração espacial, o país sofre o risco de não aproveitar seu potencial e seu legado no setor. “Existe um desafio grande de recuperar este papel do Brasil, um país gigantesco com um mercado enorme, com muito potencial, mas que está ficando atrás de uma série de outros que não eram tradicionais”, revelou Moura.

A Agência Espacial Brasileira tem trabalhado para aprimorar as políticas relacionadas ao espaço, com o objetivo de: criar uma visão integrada para uso do espaço e o desenvolvimento de competências estratégicas; criar mecanismos em prol da sustentabilidade das ações ao longo do tempo; perseverar no domínio de tecnologias sensíveis; e incentivar o entendimento do espaço pela sociedade, como fundamental para o desenvolvimento socioeconômico, qualidade de vida e motivo de influência nas relações geopolíticas.

Uma das preocupações da AEB é o país criar mecanismos que permitam autossuficiência ou, pelo menos, criar estruturas que diminuam a dependência de outras nações. Como exemplo, Moura citou os sistemas de posicionamento e navegação (GNSS) e a meteorologia, setores onde o país está, infelizmente, carente de instrumentos próprios e dependente da disponibilidade de serviços fornecidos por terceiros. O espaço, de acordo com ele, tem que ser visto como um campo econômico promissor, cheio de oportunidades, principalmente no campo do downstream, o uso que é feito dos dados, informações coletadas pelos satélites.

“Existem diversas aplicações, diversas demandas nacionais, imprescindíveis de serem atendidas. Ou desenvolvemos soluções próprias ou ficaremos à mercê dos outros, daquilo que queiram nos fornecer, quando e a que preço for”, disse Moura.

Atualmente, vivemos um período de oportunidades para crescimento. O país tem muitos ativos espaciais, uma conjuntura estrutural, que pode ser um diferencial neste momento. O país tem o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE/MCTI), o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e associações de indústria do setor. “Nós somos um país que tem academia, tem institutos de pesquisa, tem centros de lançamento com condições favoráveis, e temos uma indústria aeronáutica e de defesa excelente. Precisamos empregar tudo isso para consolidar um setor espacial economicamente relevante”, disse.                                                

A AEB mantém o desafio de levar o Brasil para o grupo de países lançadores de veículos orbitais. O país tem investido em serviços de experimento em microgravidade e o desenvolvimento de um novo motor para foguetes, o S50, pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), que será usado nos veículos VS-50 (suborbital) e no VLM (orbital). O teste em solo do S50 está programado para o fim de setembro deste ano. Também deve-se realçar a criação e atualização dos regulamentos espaciais brasileiros, para garantir a segurança dos lançamentos feitos em território nacional.

Carlos terminou sua palestra citando o ex-ministro de Infraestrutura e Comunicação, cofundador e primeiro presidente da Embraer, Ozires Silva: “O mundo não nos espera”.        

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Atenção:
Comentários ofensivos a mim ou qualquer outra pessoa não serão aceitos.