22 de out. de 2021

Monarquia: fator de independência e continuidade nacional

Armando Alexandre dos Santos - Em artigo publicado na edição anterior de “Herdeiros do Porvir”, focalizamos o regime monárquico enquanto fator de unidade nacional, mostrando que um monarca, quando assume a coroa, não tem adversários, pois é unicamente de Deus e da História que lhe vem sua posição, e não das preferências mutáveis do eleitorado. Diferentemente dos presidentes de república, que sempre se elegem deixando descontentes todos os que não votaram nele, o monarca pode contar com a expectativa favorável e benévola de todo o seu povo, que “torce” para que o novo reinado seja feliz e bem sucedido.

Hoje veremos como a Monarquia é também fator de independência e de continuidade nacionais através das gerações. Mas, perguntará algum leitor, presidentes de república que se sucedem na chefia de Estado também não garantem a independência e a continuidade de suas nações? É o que procuraremos analisar a seguir.

Uma eleição presidencial custa, atualmente, muitos milhões de dólares em qualquer parte do mundo. A serem exatos os cálculos de especialistas em marketing político divulgados pela imprensa, os gastos da campanha de um candidato que deseje concorrer seriamente à presidência da República brasileira podem chegar à casa dos 500 milhões de dólares – quantia espantosa que corresponde a mais de 3 mil anos de salário de um presidente!

Para custear as campanhas, os candidatos recorrem a contribuições de seus correligionários. Evidentemente, quem apoia um candidato de alguma forma espera algum retorno.

Depois de eleito, o presidente não pode olhar para todos do mesmo modo. Há pessoas a quem deve favores imensos e há adversários que fizeram tudo para que ele não fosse eleito, e que ele sabe farão tudo para atrapalhar o seu governo. Entre uns e outros precisa equilibrar-se o presidente. Dos primeiros depende, porque carece do seu apoio; dos segundos também depende, porque teme sua oposição. O regime republicano tem, pois, necessariamente, chefes de Estado dependentes.

Ora, a independência é fundamental para que o governante possa desempenhar as suas funções com isenção e com desembaraço, para consertar certos abusos e, doa a quem doer, tomar as medidas realmente necessárias para o país. Como fará isso com total liberdade se de alguma forma é dependente?

Outro efeito da independência do monarca é que ele não precisa estar a todo momento pautando sua ação pelos índices da popularidade passageira e pode, por isso, fazer planos de longo prazo. Em consequência dessa visão mais abrangente a longo prazo, também a prazo imediato as soluções para os problemas concretos são mais acertadas.

O monarca, por outro lado, já nasce príncipe, já nasce nos degraus do trono, sabe que depois dele reinará seu filho, ou seu neto, ou o parente que estiver mais próximo da linha de sucessão. Sabe perfeitamente que será julgado pela História, e não pelos movimentos passageiros de opinião pública. Por isso, ele muitas vezes tem a coragem de tomar medidas impopulares que normalmente falta ao político eleito; e seu interesse está em realizar obras de longo prazo que o político – cuja atenção não pode deixar de estar voltada muito preponderantemente para as incertezas da próxima eleição – habitualmente não é levado a considerar.

São tão numerosos os exemplos na História de monarcas com visão de longo prazo, que até é difícil a escolha. Tomemos um, entre mil outros:

Dom Diniz, Rei de Portugal de 1279 a 1325 e esposo de Santa Isabel – a célebre Rainha Santa – passou para a posteridade com o cognome de o Rei Lavrador. Isso porque em seu reinado procurou incentivar o cultivo e o aproveitamento das terras – então muito vastas para a pequenina população de Portugal – que seus antecessores haviam conquistado aos mouros. Numa perspectiva imediatista, Dom Diniz fez uma coisa que talvez não parecesse razoável, e que somente com uma visão de longo alcance se podia compreender: ele mandou plantar, na região de Leiria, extensos pinheirais.

Por que o fez? Segundo antiga e muito respeitável tradição corrente em Portugal, Dom Diniz previa que seu povo se multiplicaria cada vez mais, e que tempos viriam em que o território disponível no continente europeu já não seria suficiente para abrigar toda a grei portuguesa, a qual precisaria penetrar mar adentro à procura de novas terras e novos horizontes. Nessa ocasião, haveria necessidade de madeira, de muita madeira, para construir os navios que desbravariam os mares. Os pinheirais do previdente rei forneceriam então essa madeira.

Porventura algum presidente de república se empenharia tanto fazendo despesas cujos frutos só iriam aparecer no mandato de um remoto sucessor, sem nenhuma vinculação de sangue ou de interesse com ele? Claro que não.

Como observou o pensador espanhol Eugenio Vegas Latapié, é próprio dos reis plantarem bosques para o futuro; e é próprio das repúblicas os abaterem na primeira necessidade de lenha que se lhes apresente.

Justamente porque contam com o tempo e com o importantíssimo fator da continuidade, os reis procuram naturalmente soluções verdadeiras que muitas vezes só revelarão seus frutos a longo prazo. E não cedem à tentação do êxito fácil, vistoso e superficial, do qual dependem os favores imediatistas do eleitorado.

* Historiador, filósofo, jornalista e escritor, membro do Círculo Monárquico de Piracicaba Barão de Rezende, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, da Academia Portuguesa de História e de outras Instituições congêneres. Artigo publicado originalmente na edição nº 33 de nosso Boletim, “Herdeiros do Porvir”, referente aos meses de abril, maio e junho de 2013.

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